Nas entrelinhas da entrevista de Evandro Carvalho sobre a ameaça ao Nordestão

FPF, a entidade de futebol superavitária. Arte: Cassio Zirpoli/DP

O público pífio na abertura do Estadual, o menor neste formato com hexagonal do título, mostrou uma faceta inacreditável do presidente da FPF, que parece se negar a enxergar os problemas da competição que organiza.

Em entrevista ao repórter Alexandre Arditti, do Jornal do Commercio, Evandro Carvalho não só ameaçou a continuidade do torneio regional como inverteu a ordem que mantém a estrutura atual do futebol brasileiro. A seguir, as cinco aspas publicadas (em negrito) e as observações do blog.

“Do modo que está (a Copa do Nordeste), com 20 clubes e quatro meses de disputa, não dá. Ou o Nordestão volta a ser uma copa, iniciando e terminando antes dos Estaduais ou tem que ser extinto”
Mesmo ampliado, de 16 para 20 clubes, em 2015, o torneio manteve a mesma estrutura de 12 datas (6 na fase de grupos e quartas, semi e final em ida e volta). Desde a volta ao calendário oficial, em 2013, o regional foi realizado paralelamente ao Pernambucano, cuja média de público variou de 4,5 mil a 6,3 mil nos anos com TCN. Mais: enquanto presidente, Evandro não viu este cenário sugerido por ele. O que não dá, mesmo, é a autorização de gramados, mesmo na primeira fase, como ocorreu no Estadual 2017. Era única opção para iniciar o campeonato? Então nota-se que é preciso repensar o Campeonato Pernambucano, e não a Copa do Nordeste, ascendente financeiramente há 5 anos (de R$ 5,6 mi para R$ 18,5 milhões em premiações).

“A Copa do Nordeste está desvirtuada. A CBF misturou futebol e política e estrangulou os Estaduais. Não temos mais datas. Os Estaduais na região passam por dificuldades, mas estamos num momento de reviravolta. Temos que resolver isso de uma vez por todas. Não podemos esperar”
A segunda sentença beira o surrealismo, pois foi justamente a política, das federações junto à CBF, que tirou o Nordestão do calendário nacional, em 2003. Em 2001/2002, quando o regional foi disputado com turno (15 rodadas) e mata-mata, no auge econômico-esportivo, as federações da região enfraqueceram a disputa ao condicionar a mudança do Campeonato Brasileiro, que passou a ser de pontos corridos (46 rodadas na época) durante oito meses, à retirada das copas regionais. Porém, a briga foi parar na justiça, com a Liga do Nordeste (que possuía contratos assinados de patrocínio e tevê) exigindo mais de R$ 25 milhões de indenização. Acuada quase uma década depois, a CBF cedeu e incorporou a Lampions até 2022, via acordo judicial. E hoje já paga mais que o Estadual: R$ 600 mil por 4 jogos (podendo chegar a R$ 2,8 milhões por 12) x R$ 950 mil por 10 jogos. Lembrando que o calendário oficial de 2017, apresentado pela CBF em julho de 2016, reduziu a Copa do Nordeste de 12 para 8 datas. O formato atual só foi “autorizado” porque as federações dos estados nordestinos, que ganharam 4 datas, pulando de 14 para 18, “cederam” 4. Não há justificativa no regulamento, restando a constatação óbvia, de dar poder, outra vez, às federações. Logo, o discurso reducionista de Evandro pode, sim, ser aplicado, justamente por um regulamento geral desvirtuado, para usar a mesma palavra.

“Se os Estaduais acabarem, estaremos contribuindo ainda mais para a crise que afeta o país”
Para começar, não defendo o fim dos estaduais, mas uma reformulação. De acordo com a diretoria de registro de transferências da CBF, cerca de 80% de todos os 21 mil atletas profissionais do país ganham até R$ 1 mil e só trabalham durante 4 meses. A realização do Estadual, da forma como é hoje, independentemente do Nordestão, não é determinante para essa crise, mas sim o desemprego gerado em 2/3 do ano, com uma estrutura de calendários regulares, no âmbito nacional, para apenas 60 clubes (nas Séries A, B e C). Hoje, existem 766 clubes no país. Somando as quatro divisões, chega-se a 128 times em atividade anual, o que corresponde a 16% do total. O Estadual torna-se quase irrelevante numa análise expandida. Indo além dos empregos, caberia à própria federação a articulação de um contrato de TV (mais recursos, mais condições de pagar folhas e jogadores mais qualificados) ao menos razoável. Hoje, para dar um exemplo, Sport, Náutico e Santa, somados, ganham quase o mesmo da TV que o América-MG no campeonato mineiro (2,85 mi x 2,80 mi)

“Em Pernambuco, sabemos que a extinção do programa Todos com a Nota teria um impacto grande no público. A crise financeira que abala o país é outro fator negativo. Tem também a questão da violência, que assusta os torcedores de bem. Além disso, é início de competição. O Náutico não teve o fim de Série B que se esperava, enquanto o Santa Cruz foi rebaixado”
A violência é, sim, um problema crônico, com as (suspensas) uniformizadas. E a saída do Todos com a Nota foi um baque. Primeiro, porque, em alguns anos, o TCN turbinou o quadro geral com fantasmas. Denúncia feita várias vezes pelo Diario. Sem TCN, a competição local de 2016 teve uma média de 3.498, sendo a pior desde 2003, segundo dados da própria FPF. Afinal, foram 17 anos de ingressos subsidiados e o público precisa ser reacostumado a “pagar”, ingresso ou mensalidade de sócio (com acesso livre). Porém, o programa estatal também pode ser visto como uma muleta que impulsionou números num campeonato que há tempos necessitava de ajustes. E Evandro se sustenta em apenas dois pilares, ignorando o formato de uma competição na qual 4 dos 6 se classificam, com 2 dos 3 representantes do interior impedidos de receber os grandes clubes em suas cidades nesta edição. Qual o nível de competitividade disso? São jogos que pouco agregam a uma provável classificação do Trio de Fero, além da falha organizacional (da FPF) em fazer um torneio basicamente no Recife. E a federação que marcou Central (de Caruaru) x Náutico na Ilha do Retiro acha que o problema é o Nordestão?!

“Mas não temos dúvidas que, à medida que o campeonato aquecer, a média de público vai subir”
No mata-mata, a média deve subir, sem dúvida. Mas até lá, o que justifica uma média de 1.077 pessoas, contabilizando os 26 jogos com borderô na 1ª fase e no hexagonal, até o momento? A partir da semifinal, criada em 2010, os motivos são óbvios. 
Interesse numa disputa real (títulos e vagas nas copas) e a realização de clássicos com algum apelo. Contudo, o formato atual se restringe a quatro jogos à vera. Enquanto isso, liderar o hexagonal com 10 vitórias em 10 jogos não vale uma vantagem concreta, nem esportiva (o mando é único ponto) nem financeira. Exigir que os times atuem com forçam máxima em campanhas com classificações asseguradas em vez de decisivos confrontos no Nordestão e na Copa do Brasil é pensar em benefício próprio, o da FPF, cuja arrecadação caiu bastante em 2016, sem o TCN. Com 8% da renda bruta de todos os jogos, abocanhou R$ 379 mil, contra R$ 612 mil do último ano subsidiado.

Por fim, o posicionamento dos clubes, que não dão um pio. Acho mais grave que a visão do mandatário, porque beira covardia, pra não dizer outra coisa

Criador do Tema da Vitória, da Fórmula 1, faz arranjo na trilha da Copa do Nordeste

Maestro Eduardo Souto, criador do Tema da Vitória, produz arranjo para a trilha da Copa do Nordeste. Foto: divulgação

O maestro carioca Eduardo Souto Neto foi o responsável por um dos jingles mais conhecidos do país, o “Tema da Vitória”. Hoje tocada nas (raras) vitórias brasileiras na Fórmula 1, a canção instrumental foi criada em 1983, a pedido da Rede Globo, para celebrar o vencedor do GP do Brasil, independentemente da nacionalidade. Acabou imortalizada nas 40 (das 41) vitórias de Ayrton Senna.

Pois bem, o mesmo maestro, hoje aos 65 anos, refez os arranjos da trilha oficial da Copa do Nordeste, visando a edição 2017. A gravação, desta vez solicitada pelo Esporte Interativo, foi feita em seu próprio estúdio, em sua casa no Rio de Janeiro. A música, liberada às emissoras de televisão e rádios que exibem o regional, costuma ser tocada na entrada dos times e nos gols.

“Eu gosto muito de futebol e eu procurei fazer uma coisa que fosse exatamente pra cima, porque o tema musical que já existe e que eu acho muito bonito, já tem essa característica toda nordestina naturalmente, já é melodioso e bonito. Faltava aquela coisa para levantar a torcida”.

Ouça à integra (1min15s) da nova versão instrumental da Lampions e opine…

Ranking dos pênaltis e das expulsões (1)

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Sport 3x0 Central. Foto: Williams Aguiar/Sport Club do Recife

Pelo 9º ano consecutivo, o blog contabiliza os pênaltis marcados e os cartões vermelhos aplicados no Campeonato Pernambucano. Em 2017, como ocorre desde 2009, o levantamento analisa somente o turno principal. Nesta caso, as dez rodadas do hexagonal do título. Ou seja, só entram na conta os dados de Santa Cruz, Sport, Náutico, Salgueiro, Belo Jardim e Central.

Na primeira rodada do hexagonal, de cara, cinco marcações. Um pênalti na Ilha, convertido por Diego Souza, e quatro expulsões. Começou com o lateral centralino Luís Matheus, dando motivo à penalidade ao “espalmar” a bola em cima da linha. No Clássico das Emoções, confusão e um vermelho pra cada (Dudu e Jaime). No Antônio Inácio, Romário, do Calango, tomou dois amarelos.

Pênaltis a favor (1)
1 pênalti – Sport
Sem penalidade – Náutico, Santa Cruz, Central, Salgueiro e Belo Jardim

Pênaltis cometidos (1)
1 pênalti – Central
Sem penalidade – Náutico, Santa Cruz, Sport, Salgueiro e Belo Jardim

Cartões vermelhos (4)
1º) Sport e Salgueiro – 1 adversário expulso; nenhum vermelho
3º) Náutico e Santa – 1 adversário expulso; 1 vermelho
5º) Central e Belo Jardim – nenhum adversário expulso; 1 vermelho 

Rankings anteriores: 200920102011201220132014, 2015 e 2016.

Entre 2009 e 2011, com doze time e turno e returno, o ranking levou em conta 132 partidas em 22 rodadas. Com o torneio mais enxuto, num hexagonal a partir de 2014, o número de jogos analisados caiu para 30, em 10 rodadas.

Ano (jogos/pênaltis): 2009 (132/48), 2010 (132/70), 2011 (132/46), 2012 (132/57), 2013 (66/35), 2014 (30/6), 2015 (30/7) e 2016 (30/9)

Mais pênaltis a favor
2009 – Náutico (7)
2010 – Náutico (11)
2011 – Náutico e Araripina (7)
2012 – Santa Cruz (8)
2013 – Sport e Porto (6)
2014 – Santa Cruz (2)
2015 – Sport (3)
2016 – Náutico (4)

Mais pênaltis cometidos
2009 – Ypiranga (11)
2010 – Porto (12)
2011 – Petrolina e América (7)
2012 – Araripina (10)
2013 – Belo Jardim (5)
2014 – Porto (4)
2015 – Santa Cruz e Serra Talhada (2)
2016 – América (3)

Estadual 2017 registra os piores público e bilheteria na 1ª rodada do hexagonal

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Náutico 1x1 Santa Cruz. Foto: FPF/facebook (@fpfpe)

A rodada de abertura da fase principal do Campeonato Pernambucano de 2017 foi a pior em termos de público e renda desde que a competição passou a ter este formato. Já são quatro temporadas com o hexagonal do título e esta edição foi a única a não reunir sequer dez mil espectadores nos três primeiros jogos. Com 4.622 na Arena (e tevê aberta na capital), 3.821 na Ilha do Retiro (e exibição no pay-per-view) e 228 no Antônio Inácio, em Caruaru, o público total chegou a 8.671 pessoas, um fiasco. Em todos os anos neste formato houve um clássico na abertura, inclusive em 2014, num confronto que acabou adiado – o Clássico dos Clássicos daquela 1ª rodada só ocorreu em fevereiro.

Clássicos na abertura do Estadual:
2014 – 8.784 pessoas (Náutico 2 x 1 Sport)
2015 – 24.143 pessoas (Santa Cruz 0 x 3 Sport)
2016 – 9.296 pessoas (Náutico 2 x 0 Santa Cruz)
2017 – 4.622 pessoas (Náutico 1 x 1 Santa Cruz)

Abaixo, o comparativo nos anos com hexagonal do título. Nos dois primeiros anos os ingressos foram subsidiados pelo governo do estado, via Todos com a Nota. De qualquer forma, caso a comparação seja apenas com 2016, a queda foi de 31% no público e 48% na arrecadação, mesmo com dois jogos no Recife.

Público e renda do hexagonal do título do Campeonato Pernambucano. Quadro: Cassio Zirpoli/DP

Sobre a corrida das multidões (por enquanto, longe disso), o Náutico começou liderando. Dos seis times no hexagonal, apenas o Santa ainda não atuou como mandante, somando todas as fases. Por sinal, considerando toda o torneio, a FPF, mesmo com o quadro pífio, já arrecadou R$ 24.678, ou 8% da renda bruta.

1º) Náutico (1 jogo como mandante, na Arena Pernambuco)
Público: 4.622
Taxa de ocupação: 10,0%
Renda: R$ 75.615

2º) Sport (1 jogo como mandante, na Ilha do Retiro)
Público: 3.821
Taxa de ocupação: 13,9%
Renda: R$ 60.780

3º) Salgueiro (3 jogos como mandante, no Cornélio de Barros
Público: 6.449 torcedores
Média de 2.149
Taxa de ocupação: 17,8%
Renda: R$ 26.729
Média de R$ 8.909

4º) Central (3 jogos como mandante; 2 no Lacerdão e 1 no Antônio Inácio)
Público: 3.856 torcedores
Média de 1.285
Taxa de ocupação: 8,1%
Renda: R$ 51.730
Média de R$ 17.243

5º) Belo Jardim (4 jogos como mandante, no Antônio Inácio)
Público: 818 torcedores
Média de 204
Taxa de ocupação: 2,7%
Renda: R$ 6.872
Média de R$ 1.718

Geral – 26* jogos (1ª fase, hexagonal do título e hexagonal da permanência)
Público total: 28.009
Média: 1.077 pessoas
Arrecadação: R$ 308.486
Média: R$ 11.864
* Mais 4 jogos ocorreram de portões fechados

Fase principal – 3 jogos (hexagonal do título e mata-mata)
Público total: 8.671
Média: 2.890 pessoas
Arrecadação total: R$ 138.385
Média: R$ 46.131

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Sport 3x0 Central. Foto: Sport/twitter (@sportrecife)

Resumo da 1ª rodada do Pernambucano

Pernambucano 2017, 1ª rodada: Náutico x Santa Cruz, Sport x Central e Belo Jardim x Salgueiro. Fotos: Peu Ricardo/DP (Arena), Ricardo Fernandes/DP (Ilha) e FPF/facebook (Antônio Inácio)

Começou, de fato, o Campeonato Pernambucano de 2017. Ou seja, o hexagonal do título. No sábado, o Leão passeou diante do Central. Usou o time principal, ignorando o discurso de “Sub 20”. No domingo, um clássico esvaziado. Abrindo o centenário do duelo, alvirrubros e tricolores ficaram num empate. Foi o terceiro ano seguido que o atual campeão estreando num clássico e como visitante. Também no domingo, no Antônio Inácio, já que o gramado em Belo Jardim está vetado, o Calango foi derrotado pelo Salgueiro – que já larga bem outra vez. Nas arquibancadas, apenas 8.671 pessoas, com média de 2.890. Pois é. Lembrando que o torneio será intercalado com o Nordestão. No caso, haverá uma rodada no meio de semana antes da pausa para o regional e para a Copa do Brasil.

Nos três jogos realizados nesta fase do #PE2017 saíram 7 gols, com média de 2,3. Em relação à artilharia, que a FPF oficialmente considera apenas os dados do hexagonal e o mata-mata, Rogério, Diego Souza e Lenis (Sport), Anselmo (Náutico), Léo Costa (Santa), Daniel e Dadá (Salgueiro) começaram liderando econômica lista, com 1 gol cada.

Sport 3 x 0 Central – Em ritmo de treino o Leão fez uma apresentação melhor, técnica e fisicamente, do que na estreia no Nordestão – sem DS na ocasião.

Náutico 1 x 1 Santa Cruz – Os rivais decepcionaram no primeiro confronto, com poucas chances. Ao menos, houve emoção a partir dos 44 do 2º tempo.

Belo Jardim 0 x 2 Salgueiro – Favorito entre os interioranos, o Carcará largou bem já como visitante. Deve ser o único a receber os grandes em seu campo.

Destaque: Diego Souza. O camisa 87 comandou o Sport no sábado, tanto na armação quanto na finalização. E não foi poupado, atuando os 90 minutos.

Carcaça: Péricles Bassols. O árbitro do clássico falhou tanto na questão disciplinar (um vermelho a menos) quanto na técnica (pênalti não marcado)

Próxima rodada
01/02 (20h30) – Central x Náutico, Antônio Inácio (Premiere)
01/02 (21h30) – Santa Cruz x Belo Jardim, Arruda (Globo NE)
02/02 (20h30) – Salgueiro x Sport, Cornélio de Barros (Premiere)

A classificação atualizada do hexagonal do título após a 1ª rodada.

Classificação do hexagonal do título do Pernambucano 2017 após 1 rodada. Crédito: Superesportes

Náutico e Santa empatam na Arena com arbitragem ruim e emoção só no finzinho

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Náutico 1x1 Santa Cruz. Foto: Peu Ricardo/ESP DP

O primeiro dos vários clássicos entre alvirrubros e tricolores em 2017 guardou as emoções para os minutos finais, após uma tarde de muitos erros, dos dois times e do árbitro Péricles Bassols, que escapou de ser o principal personagem do jogo. Até os 44 minutos do segundo tempo, o empate seguia em branco, com pouquíssimas oportunidades efetivas – até então, uma para cada lado, ainda na primeira etapa, com o agora alvirrubro Tiago Cardoso espalmando um belo chute de Léo Costa e o agora tricolor Júlio César evitando um gol contra. Então, surgiu um lançamento preciso para Anselmo, com o centroavante dominando rápido, ganhando do marcador e batendo rasteiro para abrir o placar para o Náutico.

Seria o gol da vitória, com o ritmo do confronto àquele altura. Nos descontos, com o cronômetro já passando de 48, numa falta na entrada da área, Léo Costa mandou para as redes – o camisa 10 marcou os três gols corais na temporada, somando Asa Branca, Nordestão e Estadual. Empate em 1 x 1 e apito final. Quase um “alívio” para Bassols, o árbitro importado pela FPF nesta edição.

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Náutico 1x1 Santa Cruz. Foto: Peu Ricardo/ESP DP

Durante o jogo, o carioca falhou bastante na questão disciplinar, sobretudo aos 39 minutos, quando expulsou Dudu e Jaime. Dudu, correto. Para Jaime, cabia um amarelo. Na confusão, Rodrigo Souza também poderia ter sido advertido. E o causador de tudo, André Luís, com uma cotovelada em Dudu, passou ileso. Aos 20 da etapa complementar, outra polêmica, com um pênalti não assinalado em André Luís, claramente puxado (e desequilibrado) por Páscoa. Sim, o mesmo atacante tricolor que sequer deveria estar em campo.

Sem objetividade ofensiva, a partida foi ganhando contornos violentos, com faltas duras e pouca repreensão. Muita conversa e um amarelo aqui, outro ali. De certa forma, justificou o baixíssimo público presente, com apenas 4.622 torcedores, o menor em 17 clássicos realizados na Arena Pernambuco – quatro pessoas a menos que o “recorde” anterior, um Clássico das Emoções em 2015. Neste ponta-pé inicial do Pernambucano do Santa, em busca do tri, e do Náutico, querendo encerrar o jejum desde 2004, ficou o desejo por um pouco mais emoção nos próximos duelos, não só no apagar das luzes.

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Náutico 1x1 Santa Cruz. Foto: Peu Ricardo/ESP DP

Com o time principal, o Sport abre o hexagonal estadual goleando o Central

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Sport 3x0 Central. Foto: Williams Aguiar/Sport Club do Recife

O Central só chegou com perigo uma vez, aos cinco minutos, com Marlon acertando o travessão após cobrança de falta na área. À parte disso, Magrão foi um espectador na Ilha, num jogo com pleno domínio do Sport, mesmo oscilando o ritmo, trocando passes e criando boas chances no primeiro tempo e bastante cadenciado no segundo. Esta diferença técnica foi consequência direta da escalação leonina, com Daniel Paulista usando o que tinha de melhor – menos Leandro Pereira, machucado, mas com Paulo Henrique tendo boa mobilidade.

Nada de “Sub 20”, uma das promessas na eleição. Por ser uma estreia, desta vez no Pernambucano, e por jogar em casa, os leoninos abriram uma “exceção”. Sobre o futebol, o time mostrou interesse à tarde, até surpreendendo os 3.821 torcedores presentes. Após a afobação inicial, com Everton Felipe errando tudo, bastou um pouco de calma para envolver o inoperante adversário. A passagem na Seleção deu uma animada em Diego Souza, que foi muito participativo, achando espaço para os companheiros e finalizando três vezes. Numa dessas, acertou a trave, com Rogério pegando o rebote e mandando para as redes.

Na segunda etapa, a Patativa seguiu retraída, com muitas dificuldades na saída de bola. Pressionando um pouco, o Sport roubou bolas bem à frente, mas sem muitas finalizações contra a meta de Murilo. Nos quinze minutos finais, acabou deslanchando com Diego Souza de pênalti (após o alvinegro Luís Matheus ser expulso ‘espalmando’ uma bola em cima da linha) e Lenis (aleluia) concluindo uma passe açucarado de Marquinhos, 3 x 0. Na próxima quinta, compromisso em Salgueiro. Pela lógica, é a hora definitiva do time alternativo. A conferir.

Pernambucano 2017, 1ª rodada do hexagonal: Sport 3x0 Central. Foto: Williams Aguiar/Sport Club do Recife

FPF marca Central x Náutico na Ilha do Retiro. Um jogo no Recife é inversão?

Central x Náutico na Ilha do Retiro, pela 2ª rodada do hexagonal estadual de 2017. Arte: Cassio Zirpoli sobre reprodução do google maps

A péssima situação dos gramados no interior, em 2017, resultou em mudanças drásticas na fase principal do Campeonato Pernambucano. Dos três interioranos no hexagonal, dois vão começar jogando fora de seus domínios. Sem condições no Mendonção, o Belo Jardim precisa viajar 49 km para mandar seus jogos no Antônio Inácio. E o Central, com o Lacerdão vetado pela FPF, terá que viajar 133 km até o Recife. Para receber o Náutico na Ilha do Retiro (01/02). Receber?

Confira o documento de informação de modificação de tabela clicando aqui.

Como se não bastasse o fato de o Antônio Inácio também ter sido vetado (contra os grandes) por questão de segurança, o alvinegro irá atuar como mandante na cidade do rival. Abaixo, o artigo 12 do Regulamento Geral de Competições da FPF de 2017 sobre as possibilidades de mudanças na tabela, longe de ser claro.

Regulamento Geral de Competições da FPF em 2017

Nem no regulamento geral nem no regulamento do Estadual há um detalhamento sobre o que seria “inversão de mando de campo”. Cidade, estádio, posse etc. O que chama a atenção é que o mesmo artigo 12 da versão anterior do RGC, válido em 2015-2016 (a seguir), dizia que só não seria considerado inversão na Arena Pernambuco, por ser um “estádio público sob concessão”.

Aquele texto só foi criado para que os clássicos pudessem ocorrer em São Lourenço da Mata, evitando o problema visto num Sport x Náutico em janeiro de 2015. Hoje, não há mais concessão, e nem o parágrafo de observação.

Regulamento Geral de Competições da CBF, para 2015, sobre a função do "árbitro de vídeo". Crédito: reprodução

Voltando um pouco mais no tempo, ao RGC de 2013-2014 (abaixo), agora no artigo 13, o texto era claro, evitando mudanças de tabela caso houvesse inversão já na origem dos participantes. Não só o estádio inscrito, mas a cidade. No caso da inversão, só havia uma exceção, em caso de reciprocidade. Fica a dúvida sobre o motivo deste texto ter sido alterado nos documentos seguintes. Para dar pleno poder de escolha à federação em casos do tipo?

Regulamento Geral de Competições da CBF, para 2014, sobre a função do "árbitro de vídeo". Crédito: reprodução

Moralmente, já na versão 2015-2016 um jogo de um clube do interior no Recife seria polêmico. Na ocasião, o Central até negociou com o (extinto) consórcio para receber o Santa na Arena, pela semi. Acabou demovido pela torcida. No hexagonal, o América atuou na Ilha contra Náutico e Santa e no Arruda contra o Sport. Porém, o clube é sediado capital, alugando campos locais há décadas.

Sobre o caso da Patativa em 2017, lendo o regulamento atual, a reprovação do Lacerdão (“passa por reparos em seu gramado”) parece justa – através do artigo 13, nos itens 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. O que não justifica a partida na cidade do adversário, num cenário possível também com tricolores (08/02) e rubro-negros (09/04). Ainda mais com outro palco em Caruaru. Menor (7.307 lugares), mas autorizado no mesmo hexagonal. Respondendo à pergunta: considero inversão.

Por fim, a clara desvalorização do torneio, no qual 4 dos 6 clubes avançam à semifinal. Com dois deles fora de suas cidades, só um esforço enorme, no mau sentido, para a desclassificação do Trio de Ferro. Não haveria outra praça para abrigar o jogo? Então, nota-se que é hora de repensar a competição…

Primeira fase do Estadual registra média de 842 pessoas e R$ 170 mil, a pior renda

A média de público na 1ª fase do Campeonato Pernambucano. Arte: Cassio Zirpoli/DP

A primeira fase do Campeonato Pernambucano de 2017 atraiu apenas 19.338 torcedores aos estádios. Dos 27 jogos realizados, quatro ocorreram de portões fechados, três em Carpina, onde o Atlético não conseguiu todos os laudos técnicos, e um em Paulista, na estreia do América, pelos mesmos motivos. Considerando, então, os jogos com borderô, a média foi de apenas 842 espectadores, quatro a mais que a temporada passada. Números quase idênticos e dentro de um mesmo contexto: a ausência do Todos com a Nota. Em 2015, na última edição com ingressos subsidiados, o TCN correspondeu a 92% do público. Antes, em 2013 e 2014, com números bem questionáveis (troca de ingresso sem presença efetiva), o índice chegou a 4 mil pessoas.

Na fase preliminar em 2017, o maior público foi na estreia do Salgueiro, com 2.264 torcedores no Cornélio de Barros, graças ao plano de sócios do clube sertanejo, com o associado adimplente pagando apenas R$ 1 pelo ingresso. Por sinal, a torcida salgueirense correspondeu a 33% do público absoluto. Já o pior borderô ocorreu no Nildo Pereira, num gramado inaceitável, com apenas 102 pessoas assistindo ao duelo de eliminados Serra Talhada x Afogados. Em relação à arrecadação, o valor bruto foi de R$ 170 mil, o menor na primeira fase, com a FPF tendo direito, segundo regras próprias, a uma taxa de 8% sobre a bilheteria de todas as partidas. Logo, a arrecadou R$ 13.608.

Público e renda na 1ª fase do Campeonato Pernambucano, com 1 jogo de portões fechados em 2016 e 4 em 2017. Quadro: Cassio Zirpoli/DP

Salgueiro, Belo Jardim e Central foram os classificados ao hexagonal do título. O blog, então, continuará levantando as médias de público e renda na fase principal da competição, além do balanço geral, somando todas as fases.

1º) Salgueiro (3 jogos como mandante, no Cornélio de Barros
Público: 6.449 torcedores
Média de 2.149
Taxa de ocupação: 17,8%
Renda: R$ 26.729
Média de R$ 8.909

Pernambucano 2017, 1ª fase: Salgueiro 2x1 Flamengo de Arcoverde. Foto: @CarcaraNet (twitter)

2º) Central (3 jogos como mandante; 2 no Lacerdão e 1 no Antônio Inácio)
Público: 3.856 torcedores
Média de 1.285
Taxa de ocupação: 8,1%
Renda: R$ 51.730
Média de R$ 17.243

Pernambucano 2017, 1ª fase: Central 2x0 Belo Jardim. Foto: Belo Jardim/facebook (@CalangolBJFC)

3º) Belo Jardim (3 jogos como mandante, no Antônio Inácio)
Público: 590 torcedores
Média de 196

Taxa de ocupação: 2,6%
Renda: R$ 4.872
Média de R$ 1.624

Pernambucano 2017, 1ª fase: Belo Jardim 3x0 Vitória. Foto: Belo Jardim/facebook (@CalangolBJFC)

Era de novos estádios no Recife em 1971 (projeto), 1980 (ampliação) e 2007 (arena)

Em três períodos distintos, os grandes clubes pernambucanos apresentaram projetos para a construção e ampliação de estádios no Recife. Seja pelo aporte do governo do estado, por empréstimos bancários de uma estatal ou pela oportunidade de obter investimento público-privado em uma modernização, o fato é que Náutico, Santa Cruz e Sport disputaram o mercado, direta ou indiretamente, em 1971, 1980-1982 e 2007-2011. O funil sempre foi estreito, com apenas um projeto de cada vez, com soluções corretas ou surpresas de última hora. Vamos lá, num passeio estrutural com imagens originais dos nove projetos. Depois, comente sobre os melhores projetos de cada época…

1971, a oportunidade de colocar o estado na Copa da Independência

Na época, a Ilha do Retiro era o maior estádio da capital, mas já considerado obsoleto, sobretudo com o Castelão e a Fonte Nova em evolução, chegando a 80 mil pessoas. A realização de um torneio internacional no país, o maior desde 1950, acabou gerando uma onda de investimentos estatais.

Arruda (conclusão)
Lançamento: 30/08/1964
Capacidade: 64.000
Custo: US$ 850 mil
Prazo original de conclusão: 7 anos (1972), cumprido
Presidentes do Santa Cruz: José do Rêgo Maciel (1964) e James Thorp (1971) 

O Arruda vinha sendo erguido aos poucos desde a década de 1960, com sucessivas ampliações. Em 1971, já recebia até 20 mil espectadores. Foi quando o então governador do estado, Eraldo Gueiros, quis transformar o Recife em subsede da Copa da Independência de 1972, a Minicopa, com a participação de 20 seleções. Com três projetos na mesa, acabou optando pelo Arruda, já no meio do caminho. Assim, liberou um empréstimo através do Bandepe, junto ao grupo Campina Grande S/A, para a conclusão do projeto criado por Reginaldo Esteves. Pelé, o rei, assinou o documento como testemunha. Finalizado em um ano pela construtora Corrêa Loyo Engenharia, o estádio recebeu sete jogos do torneio.

Maquete do Arruda. Foto: Acervo/dp

Presidente Médici (construção)
Lançamento: 06/08/1971
Capacidade: 140.000
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 3 anos (1974), abortado
Presidente do Sport: Ivan Ruy de Andrade Oliveira 

Apontado como a “mais bela praça de desportos”, no primeiro projeto de Oscar Niemeyer para o Nordeste, o estádio seria o segundo maior do mundo, só abaixo do Maracanã. O projeto – cujo nome foi autorizado pelo então general-presidente – ficaria a menos de 1 km da Ilha do Retiro, na Joana Bezerra, cujo terreno de 26 hectares pertencia ao clube. Coberto, o estádio seria dividido por arquibancada (90 mil lugares), popular (25 mil), cadeiras (24 mil) e camarotes (1 mil), além de um estacionamento para cinco mil carros. Três mil cadeiras chegaram a ser vendidas, mas o sonho parou na terraplanagem da Hofmann Bosworth S/A. O motivo? Dívidas. “O Sport estava devendo dinheiro a Deus e ao mundo. Até o terreno, cedido pela família Brennand, foi negociado para amortizar o débito”, lembra Sílvio Pessoa, presidente em 1974.

Maquete do estádio Presidente Médici. Foto: Acervo/DP

Guararapes (construção)
Lançamento: 01/12/1971
Capacidade: 60.000
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 3 anos (1974), abortado
Presidente do Náutico: Luiz Carneiro de Albuquerque 

Hoje em dia, o terreno de 40 hectares na Guabiraba abriga o centro de treinamento do Náutico. A área foi comprada em 20 de julho de 1971 por Cr$ 800 milhões. Para adquirir a propriedade, o clube sorteou 28 carros e 300 prêmios em dinheiro, arrecadando Cr$ 500 milhões (62,5% do total). A ideia, porém, não era fazer um CT, mas sim um moderno estádio, com traços inspirados no Olímpico de Munique, que receberia os Jogos no ano seguinte. O estádio timbu seria erguido pela Ribeiro Franco Engenharia nos moldes da Fonte Nova, utilizando os morros como suporte da arquibancada, diminuindo o custo. Segundo Salomão, ex-coordenador do CT e ex-jogador nos anos 60, o lançamento visava mesmo arrecadar fundos. “Conhecendo a estrutura do futebol, acho que o projeto foi para arrumar dinheiro para pagar dívidas. No final, foi melhor mesmo construir um CT”.

Maquete do estádio Guararapes. Foto: Acervo/DP

1980-1982, a era dos empréstimos do Bandepe

Numa era de gigantismo, com a melhora de infraestrutura sendo sinônimo de estádios maiores, os grandes clubes resolveram investir na ampliação. Se caixa, recorreram ao Bandepe, com influência política para a obtenção de empréstimos Apenas o Santa concluiu a obra, com o Sport parando na primeira parte e investindo o resto em calçamento

Arruda (ampliação)
Lançamento: 20/01/1980
Capacidade: +46 mil lugares (até 110.000)
Custo: Cr$ 282 milhões
Prazo de conclusão: 2 anos (1982), cumprido
Presidente do Santa Cruz: Rodolfo Aguiar

No início de 1980, o projeto de ampliação foi apresentado no Palácio do Campo das Princesas ao então governador Marco Maciel – o filho do nome oficial do Mundão. Ao contrário do estádio coral conhecido hoje em dia, a maquete trazia o anel inferior prolongado a um tamanho gigantesco. A visita visava o financiamento da obra no Bandepe. Além do recurso, era preciso legalizá-la. Numa articulação de um ano junto à Prefeitura do Recife, por causa das residências próximas, o projeto acabou adaptado à forma definitiva, com dois anéis e um lance menor na Rua das Moças. Entre janeiro de 80 e 81, a inflação e novos custo saltaram a previsão de gasto de 70 mi para 282 milhões de cruzeiros. Após a confirmação, o clube divulgou informes publicitários no Diario de Pernambuco com a chamada ““Valeu a pena modificar – Aprovado novo aprovado”.

Maquete original da ampliação do Arruda (1980). Foto: Acervo/DP

Aflitos (ampliação)
Lançamento: 28/11/1981
Capacidade: +25 mil lugares (até 50.000)
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: não divulgado
Presidente do Náutico: Hélio Dias de Assis

O Arruda já estava em obras quando a direção alvirrubra apresentou o “plano de expansão” dos Aflitos. Contaria com novas gerais, fosso, camarotes, cabines de imprensa e um novo lance de arquibancada onde funcionava o velho placar (balança mas não cai). “Não faremos dos Aflitos o maior estádio, mas o mais aconchegante”, frisou o mandatário.” Lendo assim, até parecia algo pequeno, mas seria um dos maiores estádios particulares do país. Na reportagem do Diario de Pernambuco, o custo foi tratado da seguinte forma: “estimativa dentro da realidade do nosso futebol, ou seja, o Náutico está se preparando para o presente e futuro”. A obra não saiu, com o clube usando parte do recurso obtido no Bandepe para a reforma do calçamento de todo o clube. Ps. A ampliação realizada nos Aflitos entre 1996 e 2002 ficou bem parecida.

Maquete da ampliação dos Aflitos (1981). Foto: Arquivo/DP

Ilha do Retiro (ampliação)
Lançamento:25/04/1982
Capacidade: +55 mil lugares (até 90.000)
Custo: não divulgado
Prazo original de conclusão: 2 anos (1984) na 1ª etapa e 4 anos (1986) na 2ª
Presidente do Sport: José Antônio Alves de Melo

A ideia era aumentar em 157% a capacidade da Ilha, em duas etapas, como registra o texto original do Diario: “a obra foi dividida em forma de blocos, ou seja, o estádio seria ampliado em quatro etapas (…). Entretanto, com as alterações feitas no projeto, os trabalhos ficaram divididos em apenas duas etapas: a primeira compreende 80% das obras e os 20% restantes representam a segunda”. Só a primeira saiu do papel. Imaginava-se 70 mil, mas a lotação máxima (com os tobogãs e as novas cadeiras centrais) seria de 52 mil pessoas. O ex-presidente Jarbas Guimarães ainda foi profético na época: “O futebol pernambucano tinha que manter a sua célula-mater viva, ou seja, nunca construir um estádio estadual, e sim, reformar e ampliar os três estádios particulares”. Como o Náutico, usou parte do dinheiro no calçamento.

Maquete da ampliação da Ilha do Retiro (1982). Foto: Arquivo/DP

2007-2011, a onda das arenas para a Copa do Mundo

Com o Brasil confirmado como sede do Mundial de 2014, em 2004, inúmeros governos estaduais e/ou clubes começaram a articular projetos de arenas, seguindo o pesado caderno de encargos da Fifa. Na época, o discurso era de investimento privado, o que pouco depois se mostraria longe da verdade, com inúmeros financiamentos federais. Ah, os três projetos abaixo ficaram no 3D, com o governo do estado bancando a Arena Pernambuco, criada em 2009, a 19 quilômetros do Marco Zero.

Arena Coral (ampliação e modernização)
Lançamento: 28/06/2007
Capacidade: 68.500
Custo: R$ 190 milhões
Prazo original de conclusão: 7 anos (2014)
Presidente do Santa Cruz: Édson Nogueira

A Arena Recife-Olinda, em Salgadinho, foi o primeiro projeto de arena no estado. Surgiu em 29 de maio de 2007, orçada em R$ 335 milhões. No mês seguinte, o Santa Cruz apresentou uma alternativa, com o plano de mordernização do Arruda, 43% mais barato. Com a capacidade estipular (68,5 mil), o palco poderia receber qualquer jogo da Copa. O custo da obra seria dividido entre reforma (R$ 150 mi) e a construção de um prédio de serviço, sede e estacionamento (R$ 40 mi). “O melhor é que o clube não vai precisar gastar nada. Todo o dinheiro virá da iniciativa privada. Hoje já temos contatos com quatro investidores interessados no projeto”, garantiu David Fratel, diretor da Engipar, a empresa paulista que firmou a parceria com o Tricolor, responsável pela captação de recursos. Os recursos jamais foram captados.

Arena Coral. Imagem: divulgação

Arena Timbu (construção)
Lançamento: 18/11/2009
Capacidade: 30.000
Custo: R$ 300 milhões
Prazo original de conclusão: 5 anos (2014), abortado
Presidente do Náutico: Maurício Cardoso

A direção do Náutico anunciou a ideia de construir uma arena em 2007. Na época, dois projetos já tinham sido lançados, a Arena Coral e a Arena Recife-Olinda. Dois anos depois, refinou a ideia e a apresentou ao então prefeito, João da Costa. Com capacidade para 30 mil pessoas, o projeto seguia os traços modernos dos novos estádios, já contendo um capítulo de ampliação para 42 mil lugares – visando a Copa. Localizado entre a BR-101 e a Avenida Recife, no Engenho Uchôa, o estádio seria operado durante 30 anos pelo consórcio envolvendo Camargo Corrêa, Conic Souza e Patrimonial Investimentos. O estádio, que não chegou a conseguir a autorização da prefeitura, foi deixado de lado quando o timbu começou a negociar o contrato para mandar seus jogos na Arena Pernambuco, o que acabou ocorrendo em 17 de outubro de 2011.

Arena do Náutico. Crédito: divulgação

Arena Sport (construção)
Lançamento: 17/03/2011
Capacidade: 45.000
Custo: R$ 400 milhões (ou R$ 750 milhões pelo complexo)
Prazo original de conclusão: 4 anos (2015)
Presidente do Sport: Gustavo Dubeux 

Aproveitando a onda de investimentos, o Sport articulou a sua própria arena, à parte do empreendimento em construção em São Lourenço. O plano era demolir o clube e erguer um estádio multiuso, um shopping center, dois empresariais e um hotel. No entanto, a direção leonina não esperava tantas barreiras burocráticas junto à Prefeitura do Recife. A principal autorização, dada pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), só viria em dezembro de 2013 – essa demora resultou numa mudança completa na arena, saindo da DDB/Aedas para o escritório Pontual Arquitetos, cujo projeto foi revelado em março de 2012. Ainda assim, era preciso regularizar outros documentos. Quando tudo para iniciar a obra ficou ok, o investidor anunciado, a Engevix, não entrou mais em contato – e posteriormente seria investigada na Lava-Jato.

Arena do Sport. Crédito: divulgação