Pelos direitos da mulher, o necessário engajamento dos clubes de futebol

Uma jovem de 16 anos foi estuprada por 33 homens, no Rio de Janeiro, em um caso que chocou o país, levantando, mais uma vez, a importante bandeira sobre os direitos da mulher, implicando na luta contra a cultura do estupro. Chegou ao futebol, onde o machismo se faz presente há tempos. Alguns clubes se engajaram na campanha, conscientes do alcance, incluindo Sport e Santa, que criaram mensagens para as suas redes sociais, à parte do Instituto Tolerância. 

Post atualizado em 28/05/2016.

Sport

Santa Cruz

Náutico


Grêmio

Internacional

Botafogo

Termo de Ajustamento de Conduta pelo fim das organizadas, via STJD. Adianta?

Inferno Coral, Torcida Jovem e Fanáutico

As maiores torcidas uniformizadas dos clubes pernambucanos (Jovem, Inferno Coral e Fanáutico) estão vetadas há algum tempo nos estádios, tendo que se submeter a camisas com a palavra “paz” para obter uma autorização parcial. No caso da Jovem, nem isso, pois o Sport cortou relações. Indo além, a FPF firmou um termo um Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, pedindo o fim das facções. Na assinatura, com a presença do procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, os clubes locais se comprometeram com 12 cláusulas. A primeira delas é quase um resumo.

“Os clubes comprometem-se a abolir, extinguir, rescindir, romper, vedar imediatamente qualquer benefício ou custeio direto ou indireto a torcidas organizadas, tais como doação e/ou subsídio de ingressos, custeio de transporte interno ou externo para jogos como mandante ou visitante, reserva de assentos em sua praça de desporto, cessão de espaço dentro de estádios ou de sua sede, hospedagem, repasse de recursos, ou por qualquer outro meio de auxílio, apoio, subvenção ou patrocínio de qualquer natureza, inclusive quanto ao licenciamento ou utilização indevida de suas marcas ou símbolos.”

Para o presidente da FPF, Evandro Carvalho, o termo pode ajudar no controle e enquadramento dos sócios e no monitoramento da chegada e saída dos torcedores nos estádios, assim como  “criminalizar os vândalos”, saindo da esfera esportiva – abaixo, a íntegra do documento. Nesse tempo de violência no Recife, e são quase duas décadas, outros termos de ajustamento foram firmados, com compromissos semelhantes, com as mesmas uniformizadas. Por isso, é sempre bom relembrar o levantamento do Ministério Público de Pernambuco, com dados junto à Polícia Militar, delegacias da capital e Juizado do Torcedor. Foram 800 crimes envolvendo uniformizadas entre 2008 e 2012, num raio de até cinco quilômetros a partir dos estádios. Furto, roubo, lesão corporal, formação de quadrilha. Problema antigo, sempre ascendente…

Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe fardados pela paz no clássico

Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe em campanha contra a violência no clássico. Crédito: PMPE/youtube (reprodução)

Para a decisão do Campeonato Pernambucano de 2016 a polícia militar destacou mais de 1.000 homens para cada partida, número bem acima da média nos clássicos recifenses. Para reforçar a campanha pela segurança, tema importantíssimo acerca do confronto, a PM convidou quatro jogadores de Santa Cruz e Sport para a produção de um vídeo promocional. Grafite, Tiago Cardoso, Magrão e Everton Felipe gravaram depoimentos para as respectivas torcidas, devidamente fardados de oficiais. Assista.

Grafite: “Alô torcida coral, conto com a sua ajuda para fazer do futebol uma ferramenta de paz em Pernambuco. Juntos seremos todos campeões.” 

Tiago Cardoso: “Torcedor tricolor, você é fundamental para o nosso futebol. Torça sem violência.”

Magrão: “Torcida rubro-negra, faça do futebol a sua maior alegria. Vamos juntos torcer em paz por Pernambuco.” 

Everton Felipe: “Torcedor rubro-negro, precisamos de você para apoiar o nosso time e promover a paz nos estádios.”

A diferença de Arruda e Ilha através dos laudos de engenharia e dos bombeiros

Arruda e Ilha do Retiro via Google Maps

Em 25 de setembro de 2015, o Corpo de Bombeiro emitiu dois atestados de regularidade, um sobre o Arruda e outro sobre a Ilha do Retiro. Em ambos, reduziu a capacidade de público dos estádios. Não por questão de espaço físico para o público, mas pela estrutura oferecida para a evacuação da torcida, apontando escadas, portas e corredores afunilados. Com um ano de validade, os documentos seguem em vigor. A diminuição (55 para 50 mil no José do Rego Maciel e 32 para 27 mil no Adelmar da Costa Carvalho) foi aceita pelos clubes, sob protesto. Sete meses depois, ocorreu na sede da FPF uma “reunião de adequação dos estádios pernambucanos”.

Na prática, foi um debate apenas sobre os palcos de Santa Cruz e Sport, com representantes dos clubes, claro, do Ministério Público de Pernambuco, que em novembro passado recomendou a redução dos estádios, dos bombeiros, órgão responsável pela elaboração do documento, e da Vigilância Sanitária. Ajustes já pedidos no laudo em vigor para esta temporada foram reforçados – solução prática: mais saídas para o público, sobretudo nos setores populares. O atual redimensionamento tem validade até 25 de setembro de 2016. No Arruda, cujo alvará indicava 16 de abril, o status reduzido foi mantido.

Sobre a capacidade de público, há um impasse. A atual portaria do Ministério do Esporte, de nº 290, de 27 de outubro de 2015, consolidou os requisitos mínimos para serem contemplados nos laudos técnicos previstos. Resumindo, dá ao laudo de engenharia a voz oficial sobre a capacidade. Não por acaso, ao blog uma fonte informa que as cargas de 55 mil (Arruda) e 32 mil (Ilha) seguem à disposição dos clubes, que vêm evitando os montantes para se resguardarem sobre qualquer imprevisto legal, devido ao parecer dos bombeiros.

Laudo dos Bombeiros sobre o Arruda, com validade em 2016.

Laudo do Corpo de Bombeiros, de 2016, sobre o Arruda. Crédito: FPF/reprodução

Laudo dos Bombeiros sobre a Ilha do Retiro, com validade em 2016.

Laudo do Corpo de Bombeiros, de 2016, sobre a Ilha do Retiro. Crédito: FPF/reprodução

Podcast 45 (233º) – Análise dos jogos de ida da semi e projeções do Nordestão

Em dois jogos movimentados no Recife, cinco gols anotados e cenários completamente abertos para as partidas de volta pela semifinal da Copa do Nordeste de 2016. O Santa Cruz vencia o Bahia até os 37 do segundo tempo, mas acabou cedendo o empate, 2 x 2. Já o Sport empatava sem gols com o Campinense até os 49 minutos, 1 x 0. Com o futebol objetivo demonstrado no Arruda, qual é a chance coral de voltar classificado em Salvador, no domingo? Com a desorganização tática na Ilha, o que Leão deve fazer em Campina Grande, sobretudo com as suspensões de Durval e Rithely? Pauta suficiente para o 45 minutos, que ainda debateu o texto infeliz, na visão do blog, do Movimento Ocupe Estelita, defendendo a Torcida Jovem (veja aqui).

Neste podcast, estive ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa, João de Andrade Neto e Rafael Brasileiro. Ouça agora ou quando quiser!

Santa Cruz 2 x 2 Bahia (gravado em 14/04)

Sport 1 x 0 Campinense, Bahia x Santa e Estelita/Jovem (gravado em 15/04)

O abraço dos mascotes de Náutico e Sport e a necessária simbologia da paz

Timbu e Leão num apelo de paz no Clássico dos Clássicos em 2016. Foto: Rafael Martins/Esp.DP

Num tempo de intolerância no futebol, tendo como triste consequência o afastamento de torcedores dos estádios, o simbólico abraço dos mascotes de Náutico e Sport na Ilha chamou a atenção. Símbolos que se confundem com os próprios clubes, com o timbu presente na vida alvirrubra desde 1934 e com o leão na história rubro-negra ainda há mais tempo, desde 1919. Exemplar a ideia em conjunto no Clássico dos Clássicos, com o Sport autorizando a entrada do mascote rival e o Náutico encampando a oportuna causa, com ambos compartilhando mensagens após o jogo, independentemente do resultado.

Dias antes, uma cena bem parecida já havia repercutido na Europa, com o urso Berni, do Bayern de Munique, sendo recepcionado em Turim pela zebra J, da Juventus, antes do duelo pela Champions League. Do aeroporto às ruas. Mesmo lá, com um nível de organização maior, a ideia também era pregar a harmonia entre os adversários. Lá, rivais de ocasião. Aqui, rivais centenários.

Sport
A rivalidade, que se restringe às quatro linhas, é o que faz do futebol encantador. Rivais sim, inimigos nunca

Náutico
A rivalidade é só dentro de campo. O verdadeiro espírito do futebol sempre irá nos unir: a paixão de cada torcedor

Zebra da Juventus e Urso do Bayern juntos em Turim, pela Champions League 2016. Crédio: juventus.com

Cerveja nos estádios pernambucanos a uma assinatura de Paulo Câmara

Cervejas de Náutico, Santa e Sport. Arte sobre imagens do clubemix.com.br/

Em 24 de março de 2009, o então governador Eduardo Campos sancionou o projeto do deputado Alberto Feitosa, proibindo a venda e o consumo de cerveja nos estádios pernambucanos. Seis anos depois, após muita discussão sobre a efetividade da lei em relação à segurança no futebol, a reviravolta depende de uma nova assinatura do governador estado. No caso, de Paulo Câmara.

O projeto de lei ordinária 2.153/2014, que regula a liberação da cerveja, passou em todas as comissões da Assembleia Legislativa, foi votado e aprovado duas vezes na casa e agora segue para o último trâmite burocrático antes da legalização nos estádios: a sanção. Na mesa do governador, a decisão para aprovar ou não a proposta de Antônio Moraes. A expectativa é que a sanção saia ainda em dezembro – o governador não estaria direcionado a uma decisão contrária ao poder legislativo – , agilizando o processo para a sua execução no Campeonato Pernambucano de 2016. São 30 dias a partir de agora.

Após a primeira votação na Alepe, o blog realizou uma enquete para saber a opinião dos torcedores sobre a liberação. Ao todo fora  1.431 participações, com 942 votos para o ‘sim’ (65,8%) e 489 para o ‘não’ (34,1%).

Você aprova a volta da venda de cerveja nos estádios pernambucanos?

NáuticoNáutico – 206 votos
Sim – 76,6%, 158 votos
Não – 23,3%, 48 votos

Santa CruzSanta Cruz – 677 votos
Sim – 65,5%, 444 votos
Não – 34,4%, 233 votos

SportSport – 548 votos
Sim – 62,0%, 340 votos
Não – 37,9%, 208 votos

A diminuição da capacidade de público do Arruda e da Ilha do Retiro a cada laudo

A diminuição na capacidade de público do Arruda e da Ilha do Retiro. Arte: Fred Figueiroa/DP/D.A Press

No auge da capacidade de público, descontando as superlotações, obviamente, o Arruda e a Ilha do Retiro já tiveram 160 mil lugares à disposição. Haja diferença para o cenário atual, de 2015, após a recomendação do Ministério Público de Pernambuco. Por questão de segurança, como a capacidade de evacuação de torcedores, o órgão solicitou (e foi atendido) a redução dos dois estádios, que hoje têm 78.017 lugares somados, menos da metade do máximo já liberado. São 50 mil na casa coral e 27 mil no reduto rubro-negro. A partir disso, o blog recuperou as capacidades oficiais ao longo dos anos. As aferições foram feitas várias vezes, a pedido dos clubes, da FPF e até da CBF, com dados distintos a cada laudo de engenharia. Da época com todos em pé aos assentos marcados.

Nesse tempo todo, entre outros motivos, como exigências dos Bombeiros e Polícia Militar, a mudança também está relacionada ao cálculo de cada assento, que até a década de 1990 era 30 centímetros por espectador. Hoje, 50 cm.

E olhe que Arruda e Ilha receberam, não faz muito tempo, públicos superiores às novas capacidades: 60.040 em 2013 e 28.766 em 2014, respectivamente.

Ilha do Retiro (após as obras para a Copa do Mundo de 1950)
1950 – 20.000 lugares
1960 – 36.000 (+16.000) *ampliação da cadeira central e da arquibancada
1984 – 45.000 (+9.000) *construção das gerais e a ampliação da cadeira central
1998 – 50.000 (+5.000) *construção da ‘curva especial’ (obra de 1997)
2001 – 45.000 (-5.000)
2005 – 32.500 (-12.500)
2006 – 30.520 (-1.980)
2007 – 34.500 (+3.980) *construção da ‘curva da ampliação’
2012 – 34.200 (-300)
2013 – 32.983 (-1.217)
2015 – 27.435 (-5.548)

Recorde: 56.875 (Sport 2 x 0 Porto, em 07/06/1998)

Arruda (após a conclusão do anel inferior, para a Copa da Independência)
1972 – 64.000 lugares
1982 – 110.000 (+53.000) *construção do anel superior
1993 – 85.000 (-25.000)
2001 – 75.000 (-10.000)
2005 – 65.000 (-10.000)
2012 – 60.044 (-4.956)
2015 – 50.582 (-9.462)

Recorde: 96.990 (Brasil 6 x 0 Bolívia, em 29/08/1993)

Nas notas oficiais de Náutico e Santa, a miopia sobre o problema das organizadas

Miopia

A partir das notas oficiais de Náuticoe Santa Cruz após a confusão entre as torcidas organizadas nos Aflitos é possível entender um pouco a postura de cada clube com um problema histórico no futebol pernambucano.

Na nota alvirrubra, o “desconhecimento” por parte da direção de que a Terror Bicolor havia passado a tarde na sede, a convite dos integrantes da Fanáutico.

“A diretoria do clube fará uma rígida apuração interna dos fatos e tomará todas as providências para identificar os envolvidos e denunciar às autoridades competentes qualquer um que tenha tido participação no lamentável incidente.” 

nota tricolor soou ainda pior. O texto aponta o “extenso histórico de violência” da Terror Bicolor (facção do Paysandu), mas não diz uma linha sequer sobre o mesmo comportamento da Inferno Coral.

“Foi com surpresa que a diretoria do Santa Cruz tomou conhecimento de que a referida torcida (Terror), com um extenso histórico de violência, tinha sido acolhida na sede do Náutico durante a tarde de ontem.” 

Segue com o seguinte trecho: “se faz necessário identificar os envolvidos, caracterizando individualmente a ação de cada um”. Claro que isso é importante, mas ao mesmo tempo passa a imagem que a “generalização” caracterizaria a culpabilidade da torcida organizada (visão que só se ‘aplica” à Terror Bicolor).

“Punições genéricas, por mais espetaculares que possam parecer aos olhos da opinião pública, apenas reforçam a sensação de impunidade individual.” 

Pois é, o Náutico não sabia que a organizada do Papão estava em sua sede e o Santa não reconhece o histórico de violência da Inferno. Essa miopia beira a conivência. E o Sport neste contexto? Errou bastante, durante anos. Até o presidente do clube, João Humberto Martorelli, iniciar uma cruzada, só em 2015, para romper a relação, com a exclusão de sócios ligados à Torcida Jovem, a proibição do uso da marca, de espaços no clube e até ação na justiça.

Não há margem para clubismo na discussão, sobre um duradouro problema, que tem no estado a maior omissão, com o inoperante serviço de inteligência da secretaria de defesa social e a impunidade quase onipresente na justiça. Um cenário inseguro que vai minando a maioria (de bem) nos jogos de futebol…

Podcast 45 (169º) – Balanço da Série B, mudança tática no Sport e organizadas

Após um merecido feriadão para a equipe do 45 minutos, chega a nova edição, fazendo um balanço das duas últimas rodadas da Série B, entre sexta e terça-feira. Jogos que derrubaram Náutico e Santa na tabela. Detalhamos as atuações e a mira em Vitória e Bahia, com 41 pontos. Sobre o Sport, há nove jogos sem vencer na Série A, o foco foi na possível mudança na postura tática do time, com Diego Souza de segundo volante e Régis na articulação. Aprova a ideia de Eduardo Batista? Infelizmente, mais uma vez tivemos que tocar no assunto “violência”, após a confusão entre as organizadas no bairro dos Aflitos.

Confira um infográfico com as principais atrações da gravação aqui.

Nesta edição, estive ao lado de Celso Ishigami, Fred Figueiroa e Rafael Brasileiro. Ouça agora ou quando quiser!