A recorrente violência praticada por integrantes de torcidas organizadas, entre elas Torcida Jovem, Inferno Coral e Fanáutico, há tempos traz uma sensação de insegurança nos jogos de futebol no Recife, potencializada nos clássicos. A cada episódio de repercussão, inclusive nacional, o governo do estado volta a ser questionado sobre a situação, na visão do blog, de segurança pública.
Três dias após a tentativa de linchamento do presidente da Inferno Coral durante uma briga na Avenida Caxangá, horas antes do Clássico das Multidões e a 5 km da Ilha do Retiro, o governador Paulo Câmara comentou o seguinte:
“Acho que falta uma decisão muito clara das pessoas que fazem futebol em Pernambuco. A polícia se desdobra demais. Botar 400 homens num jogo chega a ser irracional em tempos de hoje. Não devia ter isso. Em outros locais do mundo a segurança dos estádios é feita pelos próprios organizadores do futebol.”
“Essas organizadas já mostraram danos em outros episódios. Então, a gente tem que coibir isso. E precisamos da decisão realmente de quem faz futebol em Pernambuco, em termos de posições claras para evitar que fatos como esse não aconteçam. Não se pode olhar apenas a renda, mas a torcida, o entorno dos estádios. É muito importante.”
“O estado tem se colocado à disposição, não tem se omitido da segurança dos estádios, dos jogos. Agora, é importante que quem faz futebol em Pernambuco tenha precaução e cuidado.”
O texto acima é a íntegra da declaração dada no Palácio do Campo das Princesas, durante uma coletiva após o anúncio de uma fábrica no estado.
Assusta ver o governador, já com dois anos de mandato, ter uma visão tão rasa sobre o assunto, relacionando uma briga a quilômetros do estádio ao futebol propriamente dito. Talvez, realmente ache que a possibilidade de clássicos com torcida única, a partir de 2017, seja suficiente – por mais que não tenha resolvido em São Paulo e Belo Horizonte. Ignora os crimes em dias sem jogos e as ramificações com outras facções, com o mesmo repertório de violência.
É sempre bom lembrar, caso o governador tenha esquecido, o levantamento do Ministério Público de Pernambuco, de 2012, com 800 crimes registrados em cinco anos, somente entre integrantes das supracitadas uniformizadas. Furto, roubo, lesão corporal e formação de quadrilha. De lá pra cá, até homicídios. Em vez cobrar investigação e estrutura na região metropolitana, o governo acabou cobrando os clubes e a FPF, que, até onde se sabe, não têm poder de polícia.
Confira a opinião dos dirigentes locais sobre esta declaração aqui.