Mãe de promotor assassinado espera que acusados sejam condenados

Do Diario de Pernambuco

Recomeçou por volta das 10h desta terça-feira o julgamento de três dos quatro acusados da morte do promotor de Justiça Thiago Faria Soares. Ontem, no primeiro dia do julgamento, a noiva da vítima, a advogada Mysheva Freire Ferrão Martins, 33 anos, voltou a apontar o réu José Maria Pedro Rosendo Barbosa como mandante do crime. Mysheva falou durante quase quatro horas ao júri popular na Justiça Federal. O júri que vai decidir o futuro dos réus é formado por sete jurados, sendo seis mulheres e um homem.

Mãe do promotor veio do Rio de Janeiro para acompanhar o julgamento. Fotos: Julio Jacobina/DP
Mãe do promotor veio do Rio de Janeiro para acompanhar o julgamento. Fotos: Julio Jacobina/DP

Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o assassinato foi motivado por disputa pela posse das terras da Fazenda Nova, em Águas Belas, fartas em água mineral, pasto para gado e madeira. Mysheva afirmou que, sem a influência de Thiago no processo de imissão de posse da propriedade, também pertencente à família dela, a situação estaria estacionada até hoje. Essa intervenção do promotor teria motivado a ira de Rosendo, um dos beneficiados pela comercialização dos bens da fazenda.

Mysheva Freire voltou a apontar José Maria como mandante do crime
Mysheva Freire voltou a apontar José Maria como mandante do crime

Em um trecho de sua fala, Mysheva relembrou, inclusive, uma conversa entre ela, o noivo e a companheira de Rosendo, na Fazenda Nova. Na ocasião, Thiago ameaçou desengavetar processos parados contra Rosendo. “Seu marido é bandido e as pessoas têm medo dele em Águas Belas. Mas não mexa com Mysheva. Minha caneta é pesada. Sou substituto em Águas Belas e em janeiro tiro férias lá. Se mexer com ela, desengaveto tudo quanto é processo de Zé Maria”, teria dito o promotor, nas palavras da noiva, durante o diálogo.

Os desentendimentos envolvendo o casal e Rosendo começaram após Mysheva adquirir em leilão 32 hectares da Fazenda Nova, onde estava incluída a casa onde vivia o réu com a família. Rosendo passou a morar no imóvel após ser chamado pelo cunhado e também inventariante no processo de divisão dos 1,8 mil hectares da terra, Carlos Ubirajara. Para fazer a compra, Mysheva diz ter feito um empréstimo em um banco. Um dos lucros de Rosendo vinha das fontes de água. Por dia, ele vendia cerca de oito carros-pipa por R$ 200 cada. As ameaças eram feitas ao promotor, disse ela, através de funcionários de Rosendo.

O assassinato aconteceu em 14 de outubro de 2013, último dia de trabalho do promotor em Itaíba, no KM 19 da PE-300, em Águas Belas. Ele foi removido compulsoriamente para Jupi após alegar ser suspeito para julgar 14 processos de improbidade administrativa no município envolvendo parentes da noiva. No dia do crime, além do casal, estava no carro o tio dela, Adautivo Elias Martins. Ambos estão como vítimas de tentativa de homicídio no processo. Quatro pessoas estão presas pelo crime – Rosendo, José Maria Domingos Cavalcante, Adeíldo Ferreira dos Santos e José Marisvaldo Vitor da Silva – e uma está foragida, Antônio Cavalcante Filho.

Depoios de uma suposta manobra jurídica da defesa dop réu José Maria Domingos Cavalcante, o julgamento dele foi adiado para o próximo dia 12 de dezembro. A juíza Amanda Torres foi obrigada a mudar a data porque o advogado de Cavalcante, Emerson Leônidas, faltou ontem. Por conta disso, deverá pagar multa de 30 salários mínimos, estipulada pela magistrada. Ela ainda pediu medidas cabíveis à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em relação ao profissional.

Expectativa
Pela primeira vez, a mãe de Thiago, Maria do Carmo Soares, que mora no Rio de Janeiro, falou sobre o caso. “Espero que a justiça seja feita, porque a justiça divina não falha. Todas as mães do Brasil com certeza estão junto comigo nesse momento. Porque perder um filho da forma como eu perdi acaba com a vida da gente”, disse, emocionada. Além do depoimento de Mysheva, também falou ontem o delegado da Polícia Federal responsável pelo inquérito, Alexandre Alves. Ele apresentou as outras linhas de investigação do caso. Uma delas investigou o ex-namorado de Mysheva e a outra a participação do promotor no julgamento de um parente da noiva, de sobrenome Martins. Ele respondeu perguntas da juíza, dos procuradores do MPF e da defesa.