Polícia Federal vai ajudar na investigação do Caso Beatriz

Depois de mais um protesto da família da menina Beatriz Angélica Mota, assassinada há dois anos em Petrolina, as polícias Civil e Federal assinarão um termo de cooperação para atuar de forma interestadual na procura pelo autor do crime. A decisão foi anunciada para parentes da criança durante reunião realizada no Palácio do Campo das Princesas, na tarde dessa segunda-feira, com a presença do chefe de Polícia Civil, Joselito Kehrle, do secretário-executivo da Casa Civil, Marcelo Canuto, da delegada Gleide Ângelo e do secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua.

Protesto dos familiares aconteceu em frente ao Palácio. Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP

Os pais de Beatriz, acompanhados de parentes e amigos, viajaram ao Recife para cobrar do estado a quebra do sigilo das investigações para a família. Cerca de 30 pessoas munidas de faixas e camisas os acompanharam. Durante o encontro com a comissão, eles tiveram o pedido indeferido e foram informados que a requisição deve ser formalizada junto à Justiça. “Foi esclarecido à família que quem decreta o sigilo é o Poder Judiciário. Então, eles vão peticionar a Justiça e, eles deferindo, obviamente a polícia vai abrir os autos para a família”, afirmou Joselito Kehrle. Segundo ele, as polícias estariam trabalhando de forma conjunta “informalmente”, mas o termo oficializará as ações e permitirá identificar o autor caso ele seja de fora de Pernambuco.

O advogado Jaime Badeka Filho, presidente da comissão da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Juazeiro, que acompanhou a família ao Recife, afirmou que entrará com o pedido na Justiça ainda nesta semana. “Esse não é um fato qualquer, é de interesse público. A família vem trabalhando de forma paralela nas investigações. Nós pedimos a abertura do inquérito, o acesso a todas as peças, todas as informações, para poder continuar colaborando”, disse Jaime.

Pais de Beatriz conversaram com o chefe da Polícia Civil. Foto: Nando Chiappetta/DP

A mãe de Beatriz, Lúcia Mota, estava há três meses esperando do governo uma resposta sobre a possibilidade de quebra de sigilo. Ela chegou a fazer greve de fome para obter a resposta. “Sai com uma resposta, mas não posso dizer que estou contente. Só vou estar quando o assassino e todos que participaram, direta ou indiretamente do crime, forem punidos. O inquérito é importante para a gente saber o que já foi feito e o que ainda pode ser feito. Eu entendo que as investigações foram obstruídas”, declarou Lúcia.

Outra demanda do grupo foi celeridade para prisão de outros envolvidos no crime. “As imagens das câmeras foram apagadas por algum funcionário da escola. Há evidências, mas eles disseram que estão sendo concluídas diligências nesta semana para dizer algo”, pontuou Lúcia Mota. “A polícia fica muito focada no executor e, no nossoentendimento, engessa as investigações. A gente acredita que, se alguma medida cautelar alternativa à prisão for decretada para algum dos suspeitos que colaboraram, já é diferente. Pode chegar ao executor, ao mentor”, acresentou Jaime Badeka Filho.

Até então, a polícia tem imagens do autor, de um circuito de câmeras, e também o DNA. Um total de 96 pessoas foram submetidas a perícia para confronto do perfil genético. “Nesses dois anos, nós saímos de um retrato falado para um perfil genético. Produzimos 13 volumes de inquérito policial, com 3 mil laudas e mais de 200 perícias realizadas”, acrescentou o chefe da Polícia Civil.

Beatriz foi assassinada aos sete anos de idade, com 42 facadas, em dezembro de 2015. O crime aconteceu dentro do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Petrolina, durante a solenidade de formatura dos estudantes. O corpo da menina foi encontrado atrás de um armário de uma sala de material esportivo desativada. Para os investigadores, não há dúvidas de que o homem que aparece nas filmagens é o assassino. O Disque-Denúncia oferece R$ 10 mil de recompensa para quem tiver informações sobre a localização do homem.

Delação premiada levou polícia ao grupo que invadiu a Brinks

A delação premiada foi um dos principais trunfos da polícia na investigação sobre a quadrilha que invadiu e roubou dinheiro da transportadora Brinks, em Areias, em fevereiro. Um dos crimes de maior repercussão no estado, a investida levou pânico à Zona Oeste do Recife. Policiais que participaram da ocorrência afirmaram que o bando disparou cerca de dois mil tiros.

Caso foi apresentado ontem pelo delegado João Gustavo. Foto: Thalyta Tavares/Esp/DP

Desde o início da operação, a Polícia Civil contou com a cooperação de um dos integrantes da quadrilha, na primeira vez que o recurso foi utilizado em Pernambuco em um caso de associação criminosa de grande porte. As investigações levaram às prisões de cinco criminosos, incluindo Willames Aguiar da Silva, 24 anos, agente de trânsito de Olinda, o líder do grupo.

O bando, desarticulado durante a Operação Durga, tem ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com o delegado João Gustavo Godoy, da Delegacia de Repressão ao Roubo, a atuação do grupo abrange Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas e São Paulo.

O suspeito que fechou delação foi arregimentado pela polícia e entrou em acordo com o Ministério Público de Pernambuco para realizar a colaboração e permanecer infiltrado no grupo. Durante cinco meses ele forneceu informações importantes sobre a ação e provas materiais, como o desenho da base da empresa Brinks e a divisão tática da quadrilha.

Ele deverá receber benefícios como redução da pena ou até extinção da denúncia. “A delação premiada tem diversos benefícios e pode ser negociada como um contrato. É submetida ao Judiciário, que pode homologar ou não. Esse delator preenche todos os requisitos, e nos deu informações que, sem elas jamais chegaríamos à organização criminosa”, explica o procurador da Justiça e coordenador do Grupo de Ação Especial de Combate às Organizações Criminosas, Ricardo Lapenda. O delator pode também requerer medidas cautelares de proteção.

O delegado Godoy não pretende indiciar o delator, pois considera que as informações foram muito mais úteis do que seria sua detenção. “A gente conseguiu captar esse rapaz, que confiou no nosso trabalho e deu informações fundamentais para o desdobramento dessa investigação policial. No meu entendimento, as informações que ele forneceu são tão importantes que no meu relatório eu não irei indiciá-lo”, afirma.

Segundo a polícia, o valor subtraído durante o assalto foi “muito menor” do que os R$ 60 milhões divulgados no início do ano. “O inquérito é robusto de provas e temos diversos volumes que provam a participação de todas essas pessoas. É uma organização nacional, mas a gente conseguiu eliminar e prender o braço pernambucano dessa organização, inclusive um dos líderes, que há tempos vinha sendo investigado, mas a polícia nunca tinha conseguido elementos suficientes para prendê-lo”, destacou Godoy.

Do Diario de Pernambuco

Relembre cinco casos de injustiça ocorridos em Pernambuco

Família destruída com cianureto

Consuelo chegou a ser suspeita pelas das mortes. Foto: Ayron Santos/DP D. A. Press
Consuelo chegou a ser suspeita pelas mortes das filhas e do marido. Foto: Ayron Santos/DP D. A. Press

O imóvel de primeiro andar na Rua Comendador Álvares de Carvalho, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, permanece de pé. As lembranças do que aconteceu nele há mais de 20 anos também. Hoje, o local abriga uma oficina mecânica. Foi lá que, em fevereiro de 1995, um pai e quatro filhas foram envenenados depois de tomarem café da manhã. O engenheiro e artista plástico Aloísio de Lima Vieira Filho, 35 anos, e as filhas Rita Vieira Valença, 13, Renata, 12, Raquel, 10 e Rebeca 9 morreram após a ingestão de cianureto de potássio. A substância tóxica estava no café da manhã da família. Enquanto o marido e as filhas faziam a refeição, a artista plástica Consuelo Valença de Lima Vieira, 38, foi até a casa da irmã, que morava no imóvel ao lado. Por esse motivo, escapou do envenenamento. Mas por muito pouco não foi presa sob a acusação de assassinar toda a família.

A investigação realizada pela Polícia Civil de Pernambuco apontou que Consuelo Valença havia sido a responsável pelo envenenamento da família. Em depoimentos prestados à polícia, a artista plástica revelou que o marido já planejava tirar a própria vida, como também a dela e das quatro filhas, devido a problemas financeiros. Aloísio estava desempregado e com algumas dívidas. “O inquérito que apurou essas mortes foi muito mal conduzido. Havia muitas falhas na investigação. Consuelo era inocente e conseguimos provar isso na Justiça, onde ela foi impronunciada”, lembrou o advogado Jorge Tasso de Souza.

Além da dor de sepultar as quatro filhas e o marido, Consuelo passou a ser apontada como a responsável pelas mortes. Nas ruas era chamada de assassina e passou a viver praticamente reclusa. Somente em junho de 2003, o juiz Nivaldo Mulatinho, da Vara da Infância e da Juventude, alegou que não havia provas para culpar Consuelo pelas mortes. Para a Justiça, foi o artista plástico Aloísio Vieira quem colocou o cianureto de potássio no café da manhã de toda família. Depois de ter a inocência provada, Consuelo iniciou outra batalha para ser reparada por tudo que passou. No ano de 2008, o Estado de Pernambuco foi condenado pela Justiça a pagar uma indenização de R$ 30 mil por danos morais. O Estado recorreu da decisão e até hoje a sentença final não foi anunciada.

Aos 60 anos, Consuelo vive atualmente com a irmã Iara Valença Menezes, 57, no estado do Rio de Janeiro. Após uma longa busca, o Diario descobriu o paradeiro da artista plástica, que está doente e vive apenas com a renda de um salário mínino de aposentadoria. A família espera o pagamento da indenização para ajudar no tratamento de Consuelo. “Minha irmã não tem condições de morar sozinha e toma remédios todos os dias. Hoje ela vive comigo e meu marido aqui no Rio de Janeiro. Já se passaram mais de 20 anos e a Justiça ainda não foi feita. Ela precisa receber essa indenização para que possamos custear o tratamento dela. Dinheiro nenhum vai reparar o que ela perdeu, mas vai ajudar a cuidar dela”, ressaltou Iara.

Garrafa d’água como travesseiro

Severino Antero passou 20 dias no presídio. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP
Severino Antero passou 20 dias no presídio. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP

Uma garrafa plástica cheia de água serviu de travesseiro para o encanador Severino Antero Alves quando chegou ao Presídio Professor Aníbal Bruno, em janeiro de 2012, aos 63 anos, acusado de um crime que não cometeu. Levado de casa por dois policiais que procuravam um acusado de homicídio com o mesmo nome que o seu, Severino chegou à unidade prisional com a roupa do corpo. Para dormir na cela apertada, ganhou pedaços de colchões velhos de outros presos. “Foi um sofrimento muito grande. Passei 20 dias no inferno. A comida de lá era péssima e fiquei todos esses dias sem ver minha esposa e meu filho ”, contou o encanador. O pesadelo de Severino o acompanha até hoje. A família diz que depois da prisão injusta ele ficou muito nervoso. No início da liberdade, costumava acordar no meio da noite assustado.

“Quando eu vi aqueles dois policiais na minha frente perguntando se o meu nome era Severino Antero Alves, eu respondi que sim. Daí um deles me disse que eu estava preso. Perguntei o motivo da prisão. Foi quando o policial respondeu que eu tinha matado um homem na Paraíba. Eu nunca nem fui na Paraíba. Não sei nem como faz para chegar lá. Então eu fui com eles para a delegacia certo de que tudo seria esclarecido. Mas acabei indo parar no Aníbal Bruno mesmo sendo inocente”, contou o encanador. A esposa de Severino, a dona de casa Rizalva Luiza da Silva, voltou para casa desesperada e deu a notícia ao filho do casal. O estudante Diogo Alves passou a trabalhar para ajudar no sustento da família enquanto o pai estava preso. “Quando meu pai voltou para casa foi uma festa. Mas cheguei a pensar que ele não iria sair mais da prisão”, confessou Diogo.

Seu Severino conta que depois da prisão os serviços que fazia como encanador estão cada vez mais escassos. A família vive da aposentadoria no valor de um salário mínimo e da esperança de receber a indenização no processo que moveu contra o Estado de Pernambuco. Hoje, eles não moram mais no mesmo endereço onde Severino foi preso. “Foi aberta uma rua onde eu morava. Com o dinheiro que recebi da indenização da casa comprei essa que moramos hoje. Também estou com um carro para facilitar minha locomoção, mas as pessoas deixaram de me procurar para fazer os serviços de encanador”, lamentou Severino.

De acordo com o advogado Ivaldo Fonseca, que atuou na defesa de Severino, o Estado foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) a pagar uma indenização ao encanador. “A Justiça deu ganho de causa a seu Severino, mas o Estado recorreu ao TJPE e perdeu. Diante disso, recorreu novamente ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e estamos acompanhando para saber o resultado. Mas acredito que será favorável para seu Severino”, apontou Ivaldo Fonseca.

Acorrentado para provar inocência do filho

Jorge Luiz conseguiu soltar o filho. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP
Jorge Luiz conseguiu soltar o filho. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP

O porteiro Jorge Luiz da Conceição, 49 anos, ficou conhecido pela batalha que enfrentou para provar a inocência do seu fiho mais velho. No dia 19 de setembro de 2006, dois filhos dele foram acusados de assaltar duas mulheres que estavam dentro de um carro na Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem. Um dos meninos, na época com 17 anos, foi levado para uma unidade da então Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac). O mais velho, Jonatan Luiz da Silva, que já tinha 18 anos, foi autuado em flagrante e seguiu para o Centro de Triagem, o Cotel. De lá foi transferido para o Presídio Aníbal Bruno. O assalto às duas mulheres aconteceu perto da casa onde Jorge Luiz e a família moravam. Seus dois filhos não estavam em casa no momento do crime, mas, mesmo assim, foram levados para a delegacia.

“Uma das vítimas parece que era uma advogada. No dia do crime, 12 viaturas da Polícia Militar foram até o local para tentar prender os assaltantes, mas acabaram pegando meus filhos que não tinham nada a ver com a história. Nada do que as mulheres disseram que haviam roubado delas foi encontrado com os meus filhos. Eles eram inocentes, mas terminaram detidos”, lembrou Jorge Luiz. Depois de 45 dias, o filho mais novo do porteiro voltou para casa porque as vítimas do assalto não compareceram às audiências. Mas no caso de Jonatan, a liberdade demorou mais de três meses para chegar. Nesse tempo, segundo a família dos rapazes, os verdadeiros culpados pelo assalto foram presos por outro crime. Mas a injustiça seguia.

Jorge então iniciou a luta para tirar o filho da prisão. Dois protestos fecharam o trânsito na Avenida Domingos Ferreira, num deles parentes e amigos estavam acorrentados uns aos outros. Sem resposta, o porteiro decidiu fazer um protesto inusitado na frente do Palácio do Campo das Princesas. Por quase uma hora, ele ficou acorrentado a um poste. Dias depois, com o filho ainda preso fez uma nova manifestação. Jorge se acorrentou a um poste em frente ao Fórum Joana Bezerra, das 9h às 17h. Só encerrou o protesto quando recebeu a informação de que o processo do seu filho seria analisado. “Fiquei tão debilitado por conta dos protestos que fui parar no hospital. Fiquei internado mas queria voltar ao fórum para saber qual seria a resposta da juíza que avaliou o caso do meu filho. Minha esposa foi até lá com um amigo e só saiu quando estava com o alvará de soltura de Jonatan nas mãos. Foi quando tive a certeza de que minha luta valeu a pena”, contou Jorge.

Passado o trauma, Jonatan retomou sua vida e hoje trabalha como porteiro, mas as lembranças dos três meses e três dias que ficou atrás das grades injustamente não devem ser esquecidas. “Cheguei a pensar que não sairia mais nunca da prisão. Tem muita gente esquecida lá dentro. Quando minha história começou a aparecer na imprensa os presos vieram falar comigo e dizer que estavam torcendo por mim. Mas o tempo que eu passei no presídio foi muito difícil. Graças a Deus tudo foi esclarecido”, ressaltou Jonatan.

O vibrante som da redenção

Mozart Vieira foi acuasado de sequestro. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP
Mozart Vieira foi acusado de sequestro. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP

A Orquestra dos Meninos de São Caetano, cidade do Agreste do estado, ganhou o Brasil e o mundo. Na década de 1990, o maestro Mozart Vieira conseguiu transformar a vida de meninos e meninas pobres do município. Com aulas de instrumentos musicais e canto, as crianças e adolescentes começaram a trocar o trabalho na roça pela cultura musical. A mudança causou estranheza em algumas famílias e deixou intrigados alguns grupos políticos da região. No ano de 1995, Mozart Vieira foi apontado pela Polícia Civil como o responsável pelo sequestro e estupro de um adolescente de 13 anos, integrante da orquestra. O menino foi agredido e abandonado num lixão da cidade. Os agressores tinham como objetivo atingir o maestro.

Depois de receber o apoio de dom Helder Camara e de vários artistas nacionais, Mozart conseguiu provar sua inocência. Durante vários dias, ele e os meninos da orquestra foram obrigados a sair de São Caetano. Foram recebidos pelos religiosos madre Escobar e dom Helder no Recife. Depois ficou esclarecido que Mozart havia sido vítima de uma armação de pessoas que temiam sua entrada no mundo da política. A história da orquestra e a acusação contra o maestro foram retratados no filme Orquestra dos meninos. “Nós éramos meros desconhecidos e nos tornamos famosos. No entanto, grandes forças políticas locais e pessoas de mentes pequenas e sem caráter se reuniram para me prejudicar e fechar a fundação. Eles achavam que eu tinha pretensões políticas, o que nunca foi verdade. Me levaram para o fundo do poço”, ressaltou.

As acusações contra o maestro fizeram ainda o Fundação Música e Vida ficar fechada por um período. “Eu era um simples professor. Era muito mais fácil dizer que o culpado de tudo era. A polícia tinha que dar uma resposta à sociedade e eu acabei sendo indiciado. No entanto, advogados que estavam no meu caso conseguiram levar o processo para o Recife. No julgamento feito pelos desembargadores ficou provada minha inocência”, contou o maestro. Atualmente, Mozar é presidente da Fundação Música e vida, que oferece aulas de música e canto a crianças e adolescentes de São Caetano. O maestro é casado com Creusa, que fazia parte da Orquestra dos Meninos e hoje também dá aulas na fundação.

Quando a Justiça não enxergou a verdade

Marcelo Lyra/Esp. DP/D.A Press
Marcos Mariano passou 19 anos preso injustamente. Marcelo Lyra/Esp. DP/D.A Press

O ex-mecânico Marcos Mariano da Silva tornou-se símbolo da injustiça depois de passar 19 anos preso por um crime que nunca cometeu. Ele foi preso pela primeira vez em 1976, no Cabo de Santo Agostinho, acusado de ter praticado um homicídio. No entanto, seis anos depois, o verdadeiro culpado foi identificado e preso. Só então Marcos foi solto. A liberdade durou apenas três anos. Em 1985, Marcos Mariano voltou à unidade prisional porque a polícia entendeu que ele estava foragido.

Durante o segundo período em que ficou preso no antigo Presídio Aníbal Bruno, Marcos ficou cego dos dois olhos após ser ferido por estilhaços de bomba de gás lacrimogênio durante uma rebelião. Deixou o presídio em outubro de 1998. Logo após ser preso pela primeira vez, Marcos foi abandonado pela esposa e pelos filhos. No presídio, conheceu outra mulher com quem casou e adotou um filho.

Assim que foi solto, o ex-mecânico entrou com uma ação judicial contra o Estado pedindo indenização de R$ 2 milhões por danos morais e materiais. A primeira parte (R$ 1 milhão) foi paga em 2009. Com o dinheiro, Marcos comprou casas para ele e os parentes. A notícia sobre o pagamento da segunda parte da indenização foi recebida por Marcos Mariano no dia 22 de novembro de 2011. Nesse dia, o homem que teve o caso considerado como o maior erro judicial do Brasil sofreu um infarto e morreu.

De acordo com o advogado Afonso Bragança, responsável pelo pedido de indenização para Marcos Mariano, até hoje a família do ex-mecânico não recebeu a segunda parte da indenização. “Falei com seu Mariano no dia em que havia sido publicada a decisão favorável a ele. Avisei que o restante do dinheiro seria pago. Ele foi dormir e não acordou mais. Morreu durante seu descanso. A família ainda terá que esperar mais um tempo para receber o que tem direito”, contou o advogado.

Gleide Ângelo recebe medalha de Mérito da Câmara Municipal

A delegada Gleide Ângelo receberá, nesta quarta-feira, a medalha de Mérito da Câmara Municipal do Recife. A honraria, Medalha José Mariano – a mais alta da Casa, será uma forma de reconhecimento de sua contribuição à segurança pública de Pernambuco. Proposta pela vereadora Michele Collins, a solenidade está marcada para as 15h. Gleide foi muito parabenizada quando voltou ao Recife, no mês passado, acompanhada da sua equipe de investigação trazendo a menina Júlia Alencar, que havia sido levada pelo pai. A criança e o genitor foram encontrados pela polícia do Amapá, que ajudou a Polícia Civil pernambucana no caso.

Gleide Ângelo, Fabiana Leandro e Raldney Júnior chegarão ao Recife com Júlia nesta segunda-feira
Gleide Ângelo, Fabiana Leandro e Raldney Júnior voltaram ao Recife com a pequena Júlia Alencar

Não é de hoje que a delegada Gleide Ângelo é acionada para solucionar casos difíceis e emblemáticos em Pernambuco. Em fevereiro de 2010, o assassinato de uma turista alemã em pleno carnaval chamou a atenção de toda sociedade e intrigou a Polícia Civil do estado. A jovem Jennifer Marion Nadja Kloker, 22 anos, foi encontrada morta às margens da BR-408, em São Lourenço da Mata, num crime envolto em mistério e mentiras. Num trabalho conjunto, os delegados Alfredo Jorge e Gleide Ângelo descobriram que Jennifer foi morta a mando da família e prenderam todos os envolvidos no crime.

Ainda em 2010, outro crime de grande repercussão foi solucionado por Gleide. A administradora Narda Alencar Biondi, 33, foi dada como desaparecida no dia 29 de março. Familiares e amigos conviveram com a angústia da incerteza do seu paradeiro até o dia 4 de agosto de 2010, quando, após uma investigação trabalhosa, a delegada Gleide Ângelo descobriu que Narda havia sido morta por uma amiga e seu corpo estava enterrado no quintal de uma casa no bairro de Pau Amarelo, em Paulista, onde vítima e assassina moravam. Quatro anos depois desse crime, a acusada foi condenada a 19 anos e seis meses de prisão.

Delegada foi ao local onde o corpo de Alice estava enterrado. Foto: Julio Jacobina/DP
Delegada foi ao local onde o corpo de Alice estava enterrado. Foto: Julio Jacobina/DP

Em junho do ano passado, Gleide foi designada para solucionar mais um caso que gerou revolta e comoção em todo estado. A estudante Maria Alice de Arruda Seabra, 19,  foi raptada, estuprada e morta pelo padrasto que queria manter um relacionamento amoroso com a jovem. A delegada conseguiu fazer com que o suspeito se entregasse à polícia e mostrasse o local onde havia enterrado o corpo da enteada, num canavial no município de Itapissuma. Também foi a responsável por esclarecer o desaparecimento da estudante Vaniela Oliveira, em maio de 2015.

Está em suas mãos ainda o inquérito que apura a morte do comerciante Paulo César Morato, encontrado morto dentro de um motel em Olinda, no dia 22 de junho. Morato era um dos alvos da Operação Turbulência da Polícia Federal e foi apontado como testa de ferro de um esquema que desviou R$ 600 milhões de recursos públicos para campanhas políticas do estado e do Nordeste. Essa investigação ainda não foi concluída, mas a delegada garantiu que falta pouco para explicar o que aconteceu naquele quarto de motel. Embora não esteja mais lotada no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Gleide continua acumulando em seu currículo soluções de casos considerados complicados.

Pai e filha desaparecidos podem estar na cidade de Belém, no Pará

A Polícia Civil de Pernambuco pode estar muito perto de encontrar o engenheiro Janderson Rodrigo de Alencar, 29 anos, e sua filha Júlia Cavalcanti Alencar, de um ano e dez meses. A cidade de Belém, no estado do Pará, no Norte do país, seria o paradeiro atual de pai e filha. Eles estão desaparecidos desde o último dia 10, depois que Janderson não devolveu a menina à mãe na casa dela, em Olinda.
Janderson e Júlia ainda estão desaparecidos. Foto: Divulgação
Janderson e Júlia ainda estão sendo procurados. Foto: Divulgação

Ontem, a delegada Gleide Ângelo e policiais do estado do Maranhão chegaram a realizar diligências para tentar encontrar os dois em São Luís, mas não tiveram sucesso. Eles foram vistos em um hotel da cidade no sábado. No entanto, quando os policiais chegaram ao local, Janderson e Júlia já haviam saído. Apenas alguns pertences deles foram encontrados pela polícia.

Informações sobre o paradeiro de Janderson e da menina também foram publicadas no blog SJNotíciasMA, de São Luís. De acordo com as notícias veiculadas pelo jornalista Stenio Johnny, Janderson chegou a fretar vários táxis para se deslocar na capital do Maranhão e teria parentes em Belém. “Ele chegou a pagar três diárias adiantadas no hotel onde estava hospedado, mas foi embora antes. De lá ele foi para o Centro Histórico e pernoitou na cidade de Açailândia. Em seguida, fretou outro táxi e foi para a cidade de Marabá (PA) e depois para Belém. Pelo que soube, ele anda com uma grande quantia em dinheiro”, contou o jornalista.

Cláudia espera reencontrar a filha logo. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP
Cláudia espera reencontrar a filha logo. Foto: Peu Ricardo/Esp.DP

A primeira informação sobre o possível paradeiro da filha reacendeu as esperanças da servidora pública Cláudia Cavalcanti, 42, de reencontrar a menina. “Eu soube que eles passaram pelo estado do Maranhão através da imprensa. Estou com mais expectativas de que minha filha seja encontrada logo. Desejo muito estar com ela em meus braços o mais rápido possível”, desabafou Cláudia. A delegada Gleide Ângelo segue em diligências fora do estado desde a última terça-feira.

Janderson tinha uma autorização judicial para ficar com a menina em 10 de julho, no horário das 9h às 18h, quando deveria devolvê-la à mãe. Desde então os dois estão sendo procurados pela polícia. O caso foi denunciado pela família da criança ao Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), onde a mãe de Júlia prestou depoimento e contou detalhes da sua relação com o engenheiro, de quem estava separada. A Polícia Civil descobriu que no início deste mês Janderson realizou um saque bancário no valor de R$ 400 mil, o que, para a polícia, foi um sinal de que ele teria premeditado fugir com a filha.

Os nomes e as fotografias de Janderson e Júlia foram encaminhados para as polícias Federal e Rodoviária Federal. Além disso, ele não tem autorização da mãe para realizar viagens com a criança, o que dificultaria a saída dele do país através de aeroportos. Após o sumiço de Janderson, Cláudia conseguiu na Justiça um mandado de busca e apreensão itinerante para a criança. Com isso, qualquer pessoa que encontrar o engenheiro com a filha pode acionar a polícia, que poderá resgatar a menina a entregá-la à mãe.

A família de Júlia criou uma conta no Instagram e uma página no Facebook para ajudar a localizar a criança. Também foi criada a hastag #VamosEncontrarJulia. Quem tiver informações pode telefonar para os números (81) 99752-9191 ou (81) 99977-2143. A advogada da mãe da criança, Suelene Sá Almeida, lembrou que como o pai não tem carteira de habilitação nem carro, ele pode ter contado com a ajuda de outras pessoas na fuga.

Investigação mais rígida para mortes em confrontos com policiais

Da Agência Câmara

A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 5124/16, do Executivo, que torna mais rígidas as normas para investigação de mortes e lesões ocorridas em ações com envolvimento de agentes de estado, como policiais. As regras para necropsia também são alteradas.

A principal mudança é a exigência de inquérito policial para apurar lesões ou mortes ocorridas em ações com participação de agentes do Estado. Ministério Público e Defensoria Pública deverão ser informados da ocorrência, que também será encaminhada à ouvidoria ou corregedoria do órgão a que pertence o agente envolvido no ato que resultou em ofensa à integridade de outros.

Atualmente, quando há mortos ou feridos em confrontos com a política, é feito o chamado “auto de resistência”, documento que registra a ocorrência, mas não garante a investigação do fato.

A proposta também altera a liberdade dos policiais nas ações. O Código de Processo Penal atual garante ao policial ou autoridade competente o uso dos “meios necessários” para se defender ou vencer a resistência à prisão em flagrante ou resistência à determinada autoridade. Mas o projeto apresentado determina que a autoridade deverá usar “moderadamente” os meios necessários para a defesa ou para vencer a resistência.

Investigação e necropsia
O texto encaminhado pela presidente afastada Dilma Rousseff altera normas para as investigações e necropsia. Proíbe que os exames sejam acompanhados por pessoa estranha ao quadro de peritos e auxiliares, com algumas ressalvas (assistente técnico ou representante legal do examinado).

Nos casos de morte violenta, o texto torna regra a realização de exame interno, documentação fotográfica e coleta de vestígios das vítimas. Atualmente, basta o simples exame externo, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

O exame só poderá ser dispensado pelo perito se as lesões externas permitirem precisar a causa da morte, mas deverá ser sempre realizado nos casos de morte violenta com envolvimento de agentes do Estado.

A participação de agentes do Estado obriga ainda a conclusão do laudo em até dez dias e deve ser encaminhado à autoridade policial, à corregedoria, ao Ministério Público e à família da vítima.

Para evitar adulterações das cenas do crime, o texto deixa claro que os cadáveres serão fotografados da forma em que foram encontrados. Na legislação atual, a obrigação é atenuada pela expressão “na medida do possível”.

Abusos de autoridades
Na justificativa, o governo afirma que a proposta vai proporcionar a ampliação do controle e da fiscalização sobre a atividade do Estado, diminuindo os abusos de autoridades e garantindo a responsabilização penal. A intenção é reduzir a violência e respaldar a atuação dos agentes públicos.

De acordo com o texto, assinado pelo ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, não há dados confiáveis sobre violência policial, já que os autos de resistência seriam uma “subnotificação”. “Vários desses casos não são submetidos à devida apreciação do Poder Judiciário porque são considerados mortes resultantes de confrontos entre policiais e criminosos”, afirmou.

Polícia Federal pode assumir investigação do caso Beatriz Mota

Parentes e amigos da menina Beatriz Angélica Mota, de apenas 7 anos, morta a facadas em Petrolina, esperam por uma resposta positiva da Polícia Federal para que as investigações do caso sejam feitas por agentes federais. A PF ainda está analisando a possibilidade de assumir o caso. A garota foi morta durante uma festa formatura, no dia 10 de dezembro de 2015. Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff, em visita à Petrolina, conversou com os pais de Beatriz.

Beatriz tinha sete anos. Foto: Blog O Povo Com a Noticia/Reproducao da Internet
Beatriz tinha sete anos. Foto: Blog O Povo Com a Noticia/Reproducao da Internet

Para que a PF assuma a investigação, é preciso uma determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que precisa de parecer técnico da PF e requerimento do procurador-geral da República. O pedido para que a PF assuma o caso é apontada como “a única” esperança para que as investigações avancem, segundo familiares da vítima.

Na semana passada foram divulgadas, pela Polícia Civil de Pernambuco, imagens da garota durante a festa no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. No vídeo é possível ver Beatriz com a mãe na arquibancada da quadra do colégio e, depois, se afastando sozinha do local. As imagens também mostram amigos e familiares procurando pela menina na escola.

Em depoimento, convidados da solenidade onde o crime aconteceu mencionam a presença de um “estranho”, que teria sido visto no banheiro feminino com duas crianças. Cerca de 2,5 mil pessoas estavam no evento. A grande quantidade de convidados circulando no local é um dos fatores que dificulta a investigação.

Imagens feitas nos celulares e pelo fotógrafo que estava trabalhando na festa estão sendo usadas pela polícia. A instituição de ensino não tinha câmeras de monitoramento no local onde a menina foi encontrada morta. A escola só tinha câmeras na portaria, corredores e pátios. Apesar da divulgação do retrato falado, a Polícia Civil não descarta a participação de outros envolvidos no caso.

Suspeito está sendo procurado. Foto: Carol Sa Leitao/Esp. DP
Suspeito está sendo procurado pela polícia. Foto: Carol Sa Leitao/Esp. DP

O delegado responsável pelo caso, Marceone Jacinto, enfatiza que “por ser um caso de grande complexidade, nenhuma linha de investigação foi descartada, inclusive a possibilidade do envolvimento de outros suspeitos”. A polícia alerta que a população pode ajudar nas investigações, repassando informações ao Disque-denúncia ou ao site da instituição. A Polícia Civil oferece R$ 10 mil para quem prestar informações que ajudem a encontrar o assassino.

Com informações da Agência Estado

Mulher é morta e esquartejada por usar redes sociais

Do Diario de Pernambuco

Flávia Maria do Nascimento, 33 anos, não tinha autorização do marido para usar as redes sociais. Para acessar o Facebook, Flávia foi obrigada a manter uma conta única para ser usada pelo casal. Um dia, a dona de casa criou um perfil individual. Flávio Machado de Lima, 41, não gostou, descobriu a senha e rastreou todas as atividades da mulher na rede social. Na madrugada de ontem, o corpo foi encontrado na casa que construíram juntos, na Rua Professor Andrade Bezerra, no bairro de Salgadinho, Olinda. Flávia foi esquartejada e partes de seu corpo foram espalhadas em três sacos plásticos pretos. O suspeito está foragido.

Motivado por ciúmes, suspeito cometeu o crime, segundo família da vítima. Foto: Reproducao TV Clube
Motivado por ciúmes, segundo parentes da vítima, suspeito cometeu o crime. Foto: Reproducao TV Clube

Apesar do crime com requintes de crueldade, a família da vítima nunca suspeitou de Flávio. “Era uma pessoa legal, todo mundo gostava dele”, disse Fernanda Maria do Nascimento, 29, irmã de Flávia. Ontem, no entanto, após a morte da dona de casa, surgiram suspeitas de agressões anteriores que ela estaria supostamente escondendo. “Um conhecido nos disse que presenciou uma vez ele apertando o pescoço de minha irmã porque ela estava conversando no telefone. Ele pensava que era homem, mas era nossa mãe. Flávia proibiu essa pessoa de contar sobre a agressão para a gente”, contou Fernanda.

Flávia tinha dois filhos, um menino com 12 anos, de outro casamento, e uma menina de 8, filha do casal, que já vivia junto há 13 anos. “O mais velho tem paralisia cerebral e ela não trabalhava fora, vivia para cuidar do filho. Era uma ótima mãe e sequer saia de casa para se divertir. Mesmo assim, ele tinha ciúmes dela”, disse a irmã.

A partir de hoje, a delegada Gleide Ângelo começa a intimar testemunhas. “Hoje (ontem) foi o enterro e as pessoas estão muito sensibilizadas, mas amanhã (hoje), vou mandar a equipe para a rua”, adiantou a delegada.

Depois do crime, o suspeito fugiu. Até a noite de ontem, ainda não havia sido localizado. Inicialmente Flávio escapou levando a filha do casal, mas depois a menina foi deixada na casa da família dele. O menino permanecerá com a família de Flávia, já que o pai morreu em um acidente de trânsito.

“Quando chegamos ao local e vimos um saco preto no chão, pelo tamanho nós deduzimos logo que era um corpo. Mas logo observamos outros sacos menores cobertos de sangue. Foi aí que desconfiamos que a mulher teria sido esquartejada”, contou o delegado Alfredo Jorge, que iniciou as investigações.

Dentro da casa também havia um carro de mão, que supostamente seria usado pelo suspeito para o transporte do corpo. Flávio teria usado uma faca tipo serra e uma foice. A vítima teria sido morta em virtude de um corte no abdômen ou por asfixia. Somente a perícia do IML poderá revelar a causa. Já o esquartejamento teria sido realizado após a morte da mulher.

Vida fiscalizada na internet

O ciúme provocado pelo uso das redes sociais não é um fato isolado e está à margem de problemas bem mais profundos do ser humano e da sociedade, como os transtornos mentais e o machismo. Estudos em todo o mundo já mostram que o uso de Facebook e Whatsapp está relacionado ao aumento no número de divórcios. No Estados Unidos, o primeiro é citado em metade dos processos de separação entre casais. Na Inglaterra, ele é a causa de um em cada três fins de relacionamento.

O acesso à tecnologia, explica o psicoterapeuta e doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento Igor Lins Lemos, facilita comportamentos inadequados. Passar mais tempo contectado pode significar estar mais suscetível à tentação de trair. Isso não justifica, porém, atos ciumentos com as redes dos parceiros. “Esse tipo de comportamento é um desmembramento do próprio ciúme alimentado de outras formas, como impedir de sair com amigos ou usar determinados tipos de roupa”, afirmou o especialista.

O ciúme, explica ele, funciona como um evento gatilho. “Geralmente, há uma crença de que você pode controlar a outra pessoa. De que o uso das redes sociais vai levar a algo ruim. A base disso pode estar vinculada à insegurança”, detalha Igor Lins Lemos. A fiscalização da vida da mulher nas redes é também uma atualização de atitudes machistas que perpassam os séculos no Brasil, na análise doutora em sociologia Ana Paula Portella. “É uma expressão de uma atitude antiga no momento atual, no qual as redes sociais ocupam espaço importante. Se fosse no século 19, seria porque a mulher abriu a janela. O olhar não deve ser para o Facebook, mas para a tentativa de controle.”

Atitudes extremas e cruéis podem ter de fundo ainda uma psicopatia ou transtorno de personalidade antissocial. Pessoas com essa característica precisam procurar especialistas. No consultório de Igor, cerca de 10% dos pacientes são pessoas que têm problemas com as redes sociais de parceiros e parceiras.

SAIBA MAIS

Violência contra a mulher

249 mulheres pernambucanas foram assassinadas em 2014
247 pernambucanas foram assassinadas em 2015
15,6% foi o descréscimo no número de crimes entre 2003 e 2013, de acordo com o Mapa da Violência
19,8% foi o aumento no número de mulheres negras neste mesmo período
187 negras foram assassinadas em 2003, contra 224 mulheres em 2013.
50,9% foi a queda nos homicídios de brancas neste mesmo período
22,6% foi a queda na taxa de homicídios de mulheres, por 100 mil habitantes, entre 2006, ano da promulgação da Lei Maria da Penha, e 2013
5 estados apresentaram queda neste quesito durante o período

Como se matam mulheres no Brasil
48,8% Arma de fogo
25,3% objetos cortantes ou penetrantes
6,1% estrangulamento
8% objeto contundente
11,8% outros

Onde se mata
27,1% em casa
31,2% via pública
41,7% outros locais

Quem mais agride mulheres na faixa etária dos 30 aos 59
34% cônjuge
11,2% ex-cônjuge
75,3% das agressões nessa faixa etária ocorem em casa

44,6% das mulheres assassinadas no Brasil têm entre 33 e 59 anos

4,8 homicídios por 100 mil mulheres é a taxa brasileira atual, que coloca o país na 5ª posição entre 83
pesquisados pela Organização Mundial da Saúde

Os países mais violentos para as mulheres (homicídios por 100 mil habitantes)
El Salvador 8,9
Colombia 6,3
Guatemala 6,2
Russia 2011 5,3
Brasil 4,8

As cidades menores têm maior propensão a taxas altas de homicídios. Das 100 maiores taxas do Mapa
da Violência, nenhuma é capital. Olinda, de 389 habitantes, também não consta na lista

Fontes: Secretaria Estadual da Mulher e Mapa da violência 2015

Imagens podem revelar criminosos que estupraram mulheres

Câmeras de prédios comerciais e residências do bairro dos Bancários, em João Pessoa, poderão ajudar a polícia a identificar os dois homens que sequestraram, estupraram e atropelaram a dona de casa Glória Silva, 42 anos, e sua amiga Caroline Teles, 31. As vítimas foram abordadas pelos bandidos na capital paraibana, na noite do sábado, e encontradas por trabalhadores na zona rural de Goiana, na manhã do domingo. Glória não resistiu aos ferimentos. Caroline segue internada em um hospital no Recife. O filho dela, de nove meses, foi encontrado em um matagal. A criança foi medicada e passa bem.

Foto: Blog Anderson Pereira/Cortesia
Foto: Blog Anderson Pereira/Cortesia

Ontem à tarde, o carro onde as vítimas foram levadas foi encontrado em um canavial no municípío de Pedras de Fogo, na Paraíba. Também ontem, o corpo de Glória seguiu para Salvador, na Bahia, onde deve ser sepultado hoje.

Segundo o superintendente de Polícia Civil da Região Metropolitana de João Pessoa, Marcos Paulo Vilela, a perícia comprovou que o carro localizado foi o usado na ação criminosa. O Siena pertencente ao marido de Caroline, estava carbonizado. “Nossos investigadores já refizeram o provável trajeto e solicitaram as imagens de câmeras localizadas próximo ao local da abordagem, no bairro dos Bancários. Estamos com três delegados neste caso, que por enquanto está sendo tratado como latrocínio (assalto seguido de morte)”, ressaltou Vilela. Uma equipe da Polícia Civil de Pernambuco dá apoio.

A abordagem aconteceu por volta das 20h do sábado. As vítimas estavam no carro quando dois homens chegaram de moto e um deles entrou no veículo. “Apesar de muito debilitada e emocionada, Caroline contou que os criminosos eram violentos. Vamos precisar ouvi-la para saber mais detalhes”, completou Vilela. Caroline sofreu fraturas na clavícula e costela.

Polícia investiga origem de tiro ao prédio da Prefeitura do Recife

A Polícia Civil de Pernambuco determinou a abertura de um inquérito policial para apurar de onde partiu o tiro que atingiu o sexto andar do prédio da Prefeitura do Recife, na Avenida Cais do Apolo, no Bairro do Recife. O projétil, de calibre ainda não identificado, passou pela janela e ficou alojado na coluna de uma das salas onde funciona a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

Perícia já foi realizada no local. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Perícia já foi realizada no local. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

A marca do disparo foi encontrada na manhã de ontem e comunicada à polícia pelo comando da Guarda Municipal. Peritos do Instituto de Criminalística (IC) estiveram no local ainda ontem para realizar a perícia, mas o resultado só deve ficar pronto em 30 dias. A conclusão do laudo vai ser fundamental para guiar a investigação policial.

De acordo com o chefe da Polícia Civil, delegado Antônio Barros, um Boletim de Ocorrência relativo ao caso foi aberto ontem. “Fomos comunicados pela Guarda Municipal sobre o disparo que atingiu o sexto andar e solicitamos a realização de uma perícia do IC no local. Além disso, vamos designar um delegado especial para apurar o caso. Por enquanto, são apenas essas informações que temos”, ressaltou Barros.

O tiro foi disparado em um horário que não havia ninguém na sala. Em todo sexto andar trabalha a equipe da secretária Ana Rita Suassuna. No andar acima funciona o gabinete do vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira.

O que a perícia do IC vai precisar identificar é o ângulo do disparo. A análise pode apontar se o tiro partiu do chão, onde funciona um estacionamento, do meio da rua ou até mesmo de algum prédio nas proximidades. Em matéria publicada na edição de ontem, lembramos que a perícia ajudou a esclarecer um crime ocorrido no ano de 2003 na Zona Sul do Recife.

A menina Lara de Menezes Albert, 7 anos, foi atingida na cabeça por uma bala perdida quando estava dentro do apartamento onde morava com a família no bairro de Boa Viagem. No primeiro momento da investigação, o caso era um mistério para a polícia, que não sabia de onde teria partido o tiro que feriu a garota. A perícia do IC concluiu que o disparo que atingiu Lara partiu de um apartamento de um prédio próximo ao dela.

O prédio
O edifício-sede da Prefeitura do Recife foi construído no final da década de 1960 e inaugurado no ano de 1975. Localizado às margens do Rio Capibaribe, o imóvel conta com 17 pavimentos e tem uma área de aproximadamente de 39 mil metros quadrados. Em 2011, o edifício-sede foi reformado. As mudanças incluíram a ampliação do mezanino, além de melhoria na acessibilidade e na segurança. No Palácio Antônio Farias funcionam os gabinetes do prefeito e do vice-prefeito, além de secretarias e órgãos.