Usuários do metrô reféns do medo

Um dos meios de transporte mais rápidos e baratos da Região Metropolitana do Recife (RMR) tem se tornado também, na opinião dos usuários, um dos mais perigosos. Os constantes assaltos e até mortes nos trens e estações têm assustado quem usa o metrô do Recife. Do início deste ano até este sábado, quatro pessoas foram assassinadas nas instalações do metrô. Uma violência que reflete na redução de usuários no sistema.

Passageiros contam com a sorte para não serem assaltados. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP
Passageiros contam com a sorte para não serem assaltados. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP

Dados da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) do Recife indicam queda de quase 5% no total de passageiros transportados em outubro deste ano, que foi de 8.911, em relação ao mesmo mês de 2015, quando foram registrados 9.354 usuários. Para tentar mudar esse cenário, a direção da CBTU aposta na tecnologia. Ainda no início de 2017, 1.300 câmeras de monitoramento serão instaladas em todas as áreas do metrô e um novo sistema de videomonitoramento será implantado.

Atualmente, cerca de 400 mil usuários são transportados diariamente pelos trens do metrô. Existem 37 estações em operação e 40 trens e 9 VLTs (Veículo Leve sobre Trilho) são os responsáveis por levar e trazer os passageiros do sistema. Moradores dos municípios do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho são atendidos pelo modal. Porém, quem mora em outras cidades pode acessar as estações do metrô através dos terminais do Sistema Estrutural Integrado (SEI). Para o próximo ano, a CBTU irá investir R$ 61 milhões em várias melhorias. Reforço nas equipes de segurança, limpeza de estações e aquisição de novos equipamentos estão entre as prioridades da direção.

Abordagnes criminosas acontecem nas estações e dentro dos vagões
Abordagens criminosas acontecem nas estações e dentro dos vagões

A estudante Thayra Nóbrega, 22 anos, costuma usar os trens da Linha Sul, os mais visados recentemente pelos criminosos. Na última quarta-feira, Thayra fazia mais uma viagem de metrô, mas não escondia o medo. “Sempre andei de metrô, porque era um meio de transporte muito rápido, mas depois desses assaltos e das mortes que aconteceram tenho evitado fazer muitas viagens. E quando estou dentro dos trens e nas estações não atendo o telefone celular. Acho que deveria haver policiais militares dentro do metrô, pois a insegurança está aumentando a cada dia e somente os vigilantes não são suficientes para garantir a nossa tranquilidade”, relatou a estudante. Para o diretor de Comunicação do Sindicato do Metroviários, Levi Arruda, o sentimento dos trabalhadores em relação à insegurança é de “indignação e revolta.”

Passageiros assustados e relatos de assaltos são frequentes entre os usuários do metrô. Segundo a CBTU, do início deste ano até a semana passada, 131 ocorrências de roubo foram registradas pela empresa. Em todo o ano de 2015, o número de registros feitos pelos usuários aos funcionários do metrô foi de 171 casos. “A violência é um problema generalizado na Região Metropolitana do Recife. Temos alguns pontos de incidências e com maior frequência nesse mês de dezembro. Na verdade, o metrô não tem uma situação insegura. É uma das áreas mais seguras, mas está sendo alvo da insegurança geral”, declarou o superintendente da CBTU, Leonardo Villar.

Tamirys pego o metrô na Estação Imbiribeira todos os dias com medo
Tamirys pego o metrô na Estação Imbiribeira todos os dias com medo

Usuária da Linha Sul diariamente, a caixa Tamirys Thaine Dias, 26, cobra mais segurança. “Pego o metrô todos os dias na Estação Imbiribeira e, apesar de nunca ter sido assaltada, me machuquei duas vezes por conta dos arrastões e assaltos no metrô, pois tive que correr junto com as outras pessoas para não ser vítima. Acredito que somente um reforço na segurança pode acabar com essa situação. Largo tarde do shopping e chego na estação num horário que não tem quase ninguém”, contou Tamirys. O funcionário público Ricardo Pereira de Sobral, 44, também utiliza a Estação Imbiribeira todos os dias. “É preciso mais segurança dentro dos trens e também nas estações”, destacou.

Audiência de instrução do caso Betinho será nesta sexta-feira

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) marcou para esta sexta-feira (16), às 13h, a realização da terceira audiência de instrução sobre o assassinato do professor José Bernardino da Silva Filho, mais conhecido como Betinho. A sessão estava prevista para acontecer no dia 24 de outubro, na 2ª Vara do Tribunal do Júri, no Fórum Rodolfo Aureliano, mas foi adiada. O adiamento foi motivado pela ausência do delegado Alfredo Jorge, que estava participando do julgamento dos acusados da morte do promotor de Itaíba Thiago Faria Soares, na Justiça Federal de Pernambuco.

Sandra e Márcia esperam que culpados sejam punidos. Foto: Wagner Oliveira/DP
Sandra e Márcia esperam que culpados sejam punidos. Foto: Wagner Oliveira/DP

O delegado foi responsável pelas investigações do caso e pela conclusão do inquérito policial que indiciou dois estudantes do Colégio Agnes. Além de Alfredo Jorge, será ouvido nestaa audiência o estudante Ademário Gomes da Silva Dantas, 20 anos, e um perito particular contratado pela defesa. A audiência já havia sido remarcada no dia 20 de julho deste ano, quando o delegado estava de férias e também não podia comparecer ao fórum.

As irmãs do professor assassinado, Sandra e Márcia Pereira, estão confiantes na Justiça. “Não temos mais dúvidas de que quem matou meu irmão foram os dois estudantes, como disse a polícia. Agora, só esperamos que a justiça seja feita”, disse Sandra. Betinho foi encontrado morto dentro do seu apartamento, em maio do ano passado, na Avenida Conde da Boa Vista.

Crime aconteceu neste prédio, na Boa Vista. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Crime aconteceu neste prédio, na Boa Vista. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

A investigação da Polícia Civil apontou que Ademário Dantas e outro estudante que à época tinha 17 anos foram os responsáveis pelo crime. Os dois eram alunos do Colégio Agnes, no Recife, onde Betinho trabalhava. O mais velho é filho do diretor do colégio. Os dois estudantes negam participação no assassinato.

Turista cearense baleada na Praia de Boa Viagem tem alta do HR

Já está na casa de familiares no Recife a turista cearense Maria Clara Souza Damaceno, 22 anos. Ela foi baleada de raspão no rosto, por volta das 10h desta segunda-feira, quando estava na praia de Boa Viagem, na Zona Sul, com mais duas amigas. As três jovens estavam sentadas em cadeiras na beira-mar, nas imediações do 2º Jardim, quando um homem se aproximou das vítimas e pediu os seus telefones celulares.

Crime aconteceu na Praia de Boa Viagem. Foto: Alcione Ferreira/DP/Arquivo
Crime aconteceu na Praia de Boa Viagem. Foto: Alcione Ferreira/DP/Arquivo

De acordo com parentes de Maria Clara, a estudante teria se assustado com o anúncio do assalto e corrido em direção à Avenida Boa Viagem. Foi nesse momento que o criminoso, que havia chegado à praia de bicicleta, correu atrás da vítima. Ele conseguiu pegar o celular da vítima e ainda efetuou o disparo que a atingiu de raspão no queixo. A vítima foi levada pelas amigas para o Hospital da Restauração (HR), no Derby, onde recebeu atendimento e foi liberada no início desta tarde.

A Polícia Civil já está investigando o caso. Uma equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) esteve no local e no hospital para colher as primeiras informações. Maria Clara Souza é moradora do Crato, no Ceará, mas está de férias no Recife. A jovem voltaria para casa no próximo sábado, mas, devido ao ocorrido, pode antecipar o retorno.

Jovem de 22 anos é baleada no rosto no bairro de Boa Viagem

A Polícia Civil está investigando uma possível tentativa de assalto ocorrida na manhã desta segunda-feira. Uma jovem identificada como Clara Souza Damaceno, 22 anos, moradora do Crato, no Ceará, teria sido baleada por criminosos na Avenida Boa Viagem. As primeiras informações indicam que a vítima foi atingida no rosto. Clara foi socorrida e levada para o Hospital da Restauração (HR), no Derby.

Vítima está internada no Hospital da Restauração. Foto: Wagner Oliveira/DP
Vítima está internada no Hospital da Restauração. Foto: Wagner Oliveira/DP

Até o momento a Polícia Militar não tem informações sobre o caso, mas uma equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está iniciando as investigações. Informações preliminares dão conta de que o crime aconteceu nas imediações do Segundo Jardim da Avenida Boa Viagem.

Cidades seguem reféns de ataques a bancos no interior de Pernambuco

Medo. A palavra resume a rotina de moradores e funcionários de bancos do interior pernambucano. Com armas utilizadas pelos exércitos brasileiro e norte-americano, e explosivos, grupos criminosos levam pânico a municípios afastados dos grandes centros urbanos, num fenômeno classificado por alguns como “novo cangaço”. As ações, cada vez mais ousadas, seguem um padrão. Os assaltantes chegam em grande número, detonam caixas eletrônicos e cofres de bancos, atiram contra delegacias e destacamentos da Polícia Militar, espalham grampos pela estrada para dificultar a perseguição policial e fogem, na maior parte das vezes, levando altas quantias em dinheiro.

Destruição no Banco do Brasil de Riacho das Almas aconteceu há nove meses. Fotos: Ricardo Fernandes/DP
Destruição no Banco do Brasil de Riacho das Almas aconteceu há nove meses. Fotos: Ricardo Fernandes/DP

Para tentar barrar a onda, foi criada, em julho, a Força-tarefa de Repressão aos Crimes de Roubo e Furto contra Instituições Financeiras, formada pelas polícias Federal, Civil e Militar. De acordo com a Polícia Civil, de janeiro a novembro foram desarticuladas 13 quadrilhas de crimes contra bancos e 88 pessoas foram presas. O chefe da Civil, delegado Antônio Barros, aumentou de três para sete o número de equipes responsáveis pelas investigações.

Muitas cidades estão sem atendimento em agências. Para receber salários e aposentadorias, moradores precisam se deslocar a outros municípios. Um exemplo é Riacho das Almas, no Agreste do estado, a 103 km da capital. O blog esteve no município onde a agência do Banco do Brasil, que já estava sem funcionar há nove meses, teve o fechamento definitivo anunciado em novembro. Cinco das nove cidades pernambucanas que tiveram agências do BB convertidas em postos já não contavam mais com os serviços por causa de ataques com explosivos. Segundo o banco, o fator não foi considerado na reorganização nacional, que teria levado em conta apenas questões como eficiência operacional e a proximidade entre agências.

Comércio em Riacho das Almas foi prejudicado com fechamento do Banco do Brasil
Comércio em Riacho das Almas foi prejudicado com fechamento do Banco do Brasil

Agonia também para quem mora no Sertão. Uma comerciante de Triunfo (355 km da capital), que preferiu não ter o nome publicado, diz que a cidade tem ficado desabastecida. “Por causa das explosões, os caixas eletrônicos ficam sem dinheiro durante os fins de semana e também à noite. Somente na agência do Banco do Brasil houve explosões duas vezes em um mês”, conta.

Estado tenta frear escalada de crimes

Após aumentar o número de equipes voltadas a elucidar crimes contra agências bancárias e prender suspeitos, a Polícia Civil pernambucana busca reforçar o trabalho conjunto com as polícias Federal e Militar, além das autoridades de segurança de outros estados.

“Até o fim de outubro, vínhamos trabalhando com três equipes para investigar os assaltos e as explosões a bancos e caixas eletrônicos, além dos roubos a carros-fortes. Agora são sete. Essas investigações são complexas e demandam tempo. Estamos tratando com o crime organizado”, comenta o chefe da Polícia Civil, Antônio Barros.

Ele ressalta que a maioria das quadrilhas vem de fora do estado. “Temos feito ações integradas com a PM e com a Federal. A interlocução com outros estados está cada vez melhor. Prisões, a gente já vinha fazendo, mas agora vamos aumentar esses números para devolver a tranquilidade à população do estado”, destaca Barros.

Além dos três delegados da Delegacia de Repressão ao Roubo, do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), outros quatro investigadores e suas equipes estão dedicados a esse tipo de trabalho. Compõem o grupo dois delegados responsáveis pela Zona da Mata e Agreste, e dois que atuam no Sertão. Todas as equipes estão recebendo suporte do serviço de inteligência da SDS e da Polícia Civil, num trabalho coordenado diretamente pela chefia da polícia.

“Sabemos que cidades pequenas, com cerca de 20 mil habitantes, têm certa fragilidade na segurança e acabam sendo alvos fáceis. Também sabemos que esses grupos de fora de Pernambuco usam armas de guerra. Já prendemos  pessoas do Sudeste que agiam aqui. Mas não concordo quando dizem que se trata de novo cangaço. É crime organizado. Temos que enfrentar com seriedade as quadrilhas”, ressalta o chefe da Polícia Civil.

Bancários cobram segurança

O aumento nas investidas contra instituições financeiras tem preocupado representantes do Sindicato dos Bancários. Não é de hoje que a instituição faz alertas sobre a fragilidade das agências e cobra ação das polícias. O diretor de assuntos jurídicos do sindicato, João Rufino Filho, ressalta a importância da participação do Exército nas investigações dos casos com uso de explosivos. “É fundamental o apoio para saber de onde estão vindo esses explosivos e armamentos pesados.”

Segundo Rufino, é preocupante a situação das cidades que estão recebendo moradores de outros locais para usar os serviços bancários. “Há municípios que recebem pessoas de cinco ou seis cidades vizinhas. Isso também é um risco. Clientes e funcionários estão cada vez mais expostos. Atividade bancária hoje é uma rotina de medo”, aponta Rufino.

O diretor jurídico afirma que as quadrilhas são bastante organizadas. “Não concordo quando as pessoas usam o termo ‘novo cangaço’. Esses assaltantes fazem parte do crime organizado, são de quadrilhas especializadas e usam equipamentos de guerra. Têm armas que alguns policiais nunca viram”, destaca.

Em entrevista coletiva concedida no dia 28 de novembro, o delegado titular de Roubos e Furtos, Paulo Berenguer, informou que a Polícia Civil contará com a participação do Exército nas operações da Força-tarefa. “O Exército já está integrado e vai colaborar no sentido de identificar e  rastrear os explosivos, que são atividades controladas por eles, além de ministrar cursos para os nossos policiais, para que eles tenham uma intimidade maior com os explosivos que são utilizados nessas ações”, explicou o investigador.