Do Diario de Pernambuco, por Maira Baracho
O método é sempre o mesmo. Simpático e vestido com roupa social, um estranho chega, puxa assunto e se oferece para pagar uma cerveja. Depois de sentar à mesa com a vítima, que está sempre sozinha, o suspeito espera a hora certa e adiciona alguma droga na bebida. Com a vítima inconsciente, o assaltante consegue senhas de cartões, endereço, limpa a conta corrente e furta objetos das casas. O golpe, conhecido como boa noite, Cinderela já fez pelo menos duas vítimas entre os frequentadores do Largo de Santa Cruz, na Boa Vista.
Paulo* foi uma delas. Em agosto, estava numa edição do projeto semanal Terça do Vinil, que acontece no bar Lisbela e os Prisioneiros. Ele foi abordado por um homem de boa conversa, com quem tomou duas cervejas. Paulo acordou, às 14h do outro dia, em casa, sem lembrar de nada. Sua conta bancária foi zerada e alguns objetos furtados do imóvel. Ele passou dois dias sob efeito da substância.
Em setembro, Jorge* imaginou que havia sido assaltado quando acordou em um terreno baldio, no Janga, em Paulista, depois de ir ao mesmo evento na noite anterior. Ele só percebeu que o caso era ainda mais grave quando chegou em casa, no Recife, e encontrou o apartamento revirado. Além de saquear sua conta corrente, os bandidos levaram três computadores, duas câmeras, HDs externos e equipamentos de trabalho. As duas vítimas registraram Boletim de Ocorrência, mas não acreditam no empenho da polícia para resolver os casos.
Na noite dessa quinta-feira, Maria* também estava no Largo quando foi abordada por dois homens. “Não me lembro direito, mas meu namorado disse que quando se aproximou me viu com dois desconhecidos, cheirando alguma coisa que parecia loló. Ele me afastou dos caras e depois disso passei muito mal e tive muita dor de cabeça”, conta Maria, que acordou no dia seguinte sem nenhuma lembrança desses momentos.
Diante dos episódios, Paulo e Jorge têm buscado por conta própria esclarecer o caso. “Acho que a polícia não vai atrás se você não for, por isso estou indo”, relatou Jorge. A Polícia Civil explicou que não há uma delegacia especializada nesse tipo de golpe e que os casos estão sendo investigados individualmente.
Sócio do bar Lisbela e o Prisioneiro, onde acontece a Terça do Vinil, Marcos Antônio explica que o estabelecimento contrata segurança todos os dias e reforça o pessoal às terças-feiras. Ele fala que há um mês houve uma reunião com a Guarda Municipal e Dircon e que houve um comprometimento de aumentar o apoio na área. “Eles perguntaram se poderíamos terminar o evento mais cedo. Expliquei que a música termina às 23h30 e que à 1h fechamos o bar. Isso pode ser negociado, mas do que adianta os bares fecharem e os ambulantes continuarem lá?, questionou Marcos Antônio”.
* nomes fictícios