Quando o inocente paga o pato

 

Até que ponto a revolta da população pode acabar com a vida de uma pessoa inocente? Na manhã desta segunda-feira, um senhor de aproximadamente 70 anos foi covardemente espancado por moradores do bairro da Mangueira, no Recife, sob suspeita de ter estuprado e matado a menina Kétuli Raíssa, de apenas 4 anos. As imagens do espancamento registradas pela equipe da TV Clube/Record são revolvantes. Mesmo afirmando que era inocente, o senhor foi agredido com socos e pontapés por homens e até mesmo mulheres da comunidade.

Suspeito foi liberado após chegar ao DHPP. Foto: Wagner Oliveira/DP.D.A Press

A violência dos golpes era tão grande que o homem chegou a cair no chão. E o pior de tudo foi ver que uma viatura da Polícia Militar com dois policiais estava responsável por conduzir o “suspeito” à delegacia e os militares nada fizeram para conter a fúria dos moradores. Ao chegar no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o senhor explicou para a imprensa que era inocente e que teria sido espancado porque confundiram seu nome com o de outra pesssoa. Poucos minutos depois de entrar no prédio do DHPP, o suspeito foi liberado porque o provável verdadeiro suspeito já estava detido.

 

Mesmo afirmando inocência, ficou com ferimentos Foto: Wagner Oliveira/DP/D.A Press

Até aí, o destino de uma pessoa inocente não terminou de uma forma pior. Com vários hematomas no corpo o homem inocente voltou para casa de alma lavada, mas com o corpo ferido. Fazer justiça pelas próprias mãos não é, de forma alguma, a maneira correta de se punir um culpado. A polícia e a lei estão aí justamente para isso. E no caso de pessoas inocentes que acabam “pagando o pato” pelo erros de outros a revolta é ainda maior.

 

 

One Reply to “Quando o inocente paga o pato”

  1. Repito aqui a postagem que fiz no meu facebook:

    Estou lendo um livro chamado ‘Clube do Bangue-Bangue que é o relato de quatro fotojornalistas que cobriram o Apartheid na África em 90-94. Qualquer motivo é motivo para carnificina. Vidas escorrem pelas vielas, não importando muito se negro ou branco, porque o que muitos esquecem é que, independe da sua pele, o sangue é sempre vermelho. Leio cada página com o coração espremido. Pensando na coragem dos repórteres, na barbárie que o mundo acomete.

    Hoje vi que 94 ainda é perto. Muito mais perto do que imaginava. Tão absurdo e violento tal qual acredito ser uma guerra.
    Uma garota de 4 anos morta. Um suspeito, que já foi inocentado, espancado por uma população furiosa. Um carro de reportagem agredido por tentar cobrir a matéria. Uma bárbarie tal qual li no livro, tal qual vi na África que aconteceu aqui, no bairro do lado.

    E aí lembro novamente que independente da sua pele e, agora, do seu país-ano, a lágrima, a dor e a indignação sempre ficam sem resposta pra uma de suas perguntas mais básica: por quê?