Itambé: cidade da revolta e do medo

A cidade de Itambé está de luto. Moradores e trabalhadores do município da Mata Norte pararam ontem para acompanhar a passagem do enterro de Edvaldo da Silva Alves, 21 anos, morto após ter sido baleado por um policial militar. A ação foi filmada e divulgada nas redes sociais, o que causou revolta na sociedade. Depois do velório realizado no Ginásio de Esporte José Mendes Júnior, o corpo do jovem foi levado pelas ruas da cidade acompanhado de centenas de pessoas. Edvaldo, assim como outros moradores de Itambé, protestavam por mais segurança no dia 17 de março, quando ele foi baleado. O jovem estava internado no Hospital Dom Helder Camara, em Paulista, e morreu na manhã da última terça-feira. Familiares, amigos e conhecidos da vítima cobraram justiça durante o enterro.

Centenas de pessoas acompanharam o enterro de Edvaldo Alves. Fotos: Ricardo Fernandes/DP
Centenas de pessoas acompanharam o enterro de Edvaldo Alves. Fotos: Ricardo Fernandes/DP

A mãe de Edvaldo, a dona casa Maria de Lurdes da Silva, 49, não teve forças para acompanhar o cortejo nem o sepultamento do filho. Amparada por parentes, foi levada para casa por volta das 15h. Já o pai do jovem, Nivaldo Alves, 50, pediu a punição dos responsáveis pela morte de Pretinho Alves, como ele era conhecido. “Estou sentindo muita revolta e mágoa. O que fizeram com o meu filho não se faz com ninguém. Ele era um amor de pessoa. Queremos que seja feita justiça. Meu filho era um rapaz bom de saúde, gostava de tocar guitarra, era muito alegre e agora está sendo enterrado. Não me conformo com isso”, desabafou Nivaldo. Por trás do caixão, um banner com a foto de Edvaldo estava pendurada na parede junto a sua guitarra.

Mãe do jovem não ter condições de participar do sepultamento
Mãe do jovem não teve condições de participar do sepultamento

O medo ainda toma conta dos moradores de Itambé. Morador da cidade desde a infância, um pedreiro de 30 anos que preferiu não ter o nome publicado, disse que os assaltos continuam acontecendo. “Antigamente, a gente tinha orgulho de dizer que morava em Itambé. As pessoas podiam dormir de portas abertas e ficar conversando na rua até tarde da noite. Agora, faz até vergonha dizer onde moramos. A situação está fora de controle”, declarou o pedreiro. Além dos roubos realizados dentro de Itambé, ônibus que transportam estudantes para outras cidades estavam sendo assaltados na estrada. No início de março, pelo menos quatro coletivos foram assaltados. Dias depois do protesto, a Polícia Militar anunciou a prisão de dois homens e a apreensão de dois adolescentes responsáveis por crimes na região.

Multidão foi até o Cemitério de Itambé, onde o corpo foi sepultado
Multidão foi até o Cemitério de Itambé, onde o corpo foi sepultado

Pároco de Itambé, o padre Severino Filho também falou sobre a insegurança na cidade. Após celebrar uma missa no velório de Edvaldo, o religioso disse que os moradores do município estão sem paz. “Itambé clama por justiça. Edvaldo foi morto por alguém que deveria estar protegendo a população. Os culpados têm que ser punidos. Além disso, a cidade está sem segurança e sem dignidade. As pessoas estão assustadas”, declarou o padre. Na última terça-feira, o governo do estado anunciou mundanças nos comandos do batalhões e companhias da PM com o objetivo de melhorar a segurança em Pernambuco.

Padre Severino Filho disse que moradores de Itambé estão sem paz
Padre Severino Filho disse que moradores de Itambé estão sem paz