Após a perda da filha, a condenação popular

O texto a seguir é do colega Raphael Guerra, repórter da editoria de Vida Urbana do Diario de Pernambuco, e que assistiu na tarde desta terça-feira a mais uma tentativa de linchamento no Recife. Dessa vez, a população tentou agredir a mãe da menina de quatro anos que foi estuprada e morta na noite do último domingo.

 

Por Raphael Guerra

A vontade de tentar fazer “justiça pelas próprias mãos” levou os moradores do bairro da Mangueira, na Zona Oeste do Recife, a tomar uma atitude extrema. Revoltados com o assassinato bárbaro da menina Kétuli Raíssa, 4 anos, eles tentaram na tarde desta terça-feira linchar a mãe da garota, Érica Regina, dentro do Cemitério de Santo Amaro, durante o sepultamento do corpo da menina, por acreditarem que ela foi negligente. Sob a escolta de policiais militares, ela ficou impossibilitada de acompanhar o enterro da filha mais velha. Mas, por que o desejo, cada vez maior, de se criar um caminho cuja lei medieval “olho por olho, dente por dente” insiste em prevalecer entre os cidadãos, independente de classe social?

Mãe da garota precisou ser escoltada pela PM. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press

A pesquisadora social e de segurança pública da Fundaj, Ronidalva de Andrade, acredita que o instrumento da violência foi o encontrado pelas pessoas para que elas sintam que está se fazendo justiça. “Prevalece o sentimento de impunidade. Com a demora para que os culpados sejam condenados, as pessoas não confiam mais na Justiça. Não acham que a lei seja suficientemente justa. Por isso, em casos em que há extrema violência, o povo quer crueldade. Quer que os culpados sejam desmoralizados. Por isso, acabam agindo da mesma forma”, explicou.

Sepultamento do corpo aconteceu em Santo Amaro. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press