A população de Ipojuca, distante 43 Km do Recife, está aterrozida. Segundo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), moradores de duas localidades da cidade que abriga uma das mais famosas praias do Brasil estão sendo obrigados a não sair de casa à noite devido ao toque de recolher imposto por traficantes.
O pedido de socorro por parte da população foi feitos aos promotores Paula Katarine e Rinaldo da Silva, o que fez o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, recomendar à Secretaria de Defesa Social (SDS) reforço no policiamento na área. Ontem, viaturas do 18º Batalhão da Polícia Militar fizeram rondas na comunidade Bairro 13, em Nossa Senhora do Ó. Já a Polícia Civil fez diligências nas Salinas e na praia de Maracaípe, em Porto de Galinhas. Uma força-tarefa foi montada para investigar os crimes e oferecer patrulha nas localidades.
Na denúncia feita ao MPPE, moradores das Salinas e do Bairro 13 relataram que não podem sair de casa depois das 21h por determinação dos traficantes. As reclamações da população incluem ainda o fechamento do comércio nesse mesmo horário. Um morador do Bairro 13 contou que pessoas armadas, inclusive com espingardas calibre 12, são vistas andando livremente pela localidade durante o dia. “Isso aqui está muito violento. Ninguém pode sair de casa nem de dia, nem à noite. Agora mesmo passaram umas quatro viaturas da Polícia Militar em alta velocidade por aqui”, apontou o morador.
Um grupo de jovens que estava na cobertura de uma casa foi abordado e revistado por PMs. Como nenhum deles foi encontrado com armas ou drogas, não foram levados para a delegacia. Informações extra-oficias apontam um dos rapazes como o responsável pelo medo imposto aos moradores. Uma reunião realizada entre a Prefeitura de Ipojuca, policiais Militar e Polícia Civil e o MPPE discutiu as ações de combate à iniciativa dos bandidos. “Não podemos admitir que bandidos imponham toque de recolher em lugar nenhum. Isso é muito grave”, ressaltou Fenelon.
Ainda entre as denúncias, os relatos de que as motos de 50 cilindradas (cinquentinhas) eram usadas para a entrega de drogas na cidade, resultaram numa determinação para abordagens e recolhimento das motonetas irregulares.
Segundo o delegado titular de Porto de Galinhas, Luciano Siqueira, desde o início do ano até ontem, apenas um homicídio foi registrado em Ipojuca. “A última morte da cidade foi no dia 14 de janeiro e o inquérito já está sendo concluído. Além disso, várias operações são realizadas com o objetivo de melhorar a segurança nas comunidades. Fazemos operações conjutas com a Polícia Militar. Amanhã (hoje) nossa equipe da delegacia seguirá com diligências em Nossa Senhora do Ó”, adiantou o delegado.
Entrevista – Comerciante do Bairro 13
“O crack está dominando tudo”
É verdade que as pessoas não podem mais sair de casa à noite?
As coisas aqui estão muito complicadas. A comunidade está assustada e a insegurança sem limites. Tenho um comércio e quando anoitece eu fecho as grades e fico atendendo as pessoas sem elas entrarem, pois o risco é muito grande. Algumas pessoas não saem mais de casa à noite.
Como está a situação do tráfico de drogas aqui na comunidade?
Eu não gosto nem de falar muito sobre essas coisas, mas como várias viaturas da polícia acabaram de passar por aqui e você mesmo viu, não tenho como dizer que está tranquilo, né? Esse tal de crack está domindo tudo por aqui.
Estão acontecendo muitos assaltos na localidade?
Com certeza. Eu, graças a Deus, nunca fui assaltada, mas outros comerciantes estão tendo muito prejuízo. E os bandidos andam armados e assaltam durante o dia mesmo. Parece que não têm medo de nada.