Dois bebês que viviam em condições precárias na Iputinga, Zona Oeste do Recife, foram resgatados pelo Conselho Tutelar. As mães (uma mulher de 42 anos e a filha dela, de 17) estão sendo investigadas por maus-tratos e abandono. Segundo vizinhos, ao invés de cuidarem das crianças, as suspeitas passavam o dia consumindo crack e ingerindo álcool. O episódio, registrado pela Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA), é mais um retrato da epidemia da droga que se alastra e destrói famílias. No entanto, um reforço para mudar essa realidade está sendo construído. Um plano de políticas de enfrentamento ao crack e outras drogas está sendo elaborado por 12 secretarias da Prefeitura do Recife.
Assim como na versão estadual, o programa de combate às drogas será chamado de Atitude. As primeiras ações serão apresentadas no dia 5, durante lançamento do Pacto pela Vida do Recife. Uma série de ações, como a ampliação de abordagens nas ruas e acolhimento aos usuários em local seguro para tratamento do vício, está sendo trabalhada de forma estratégica.
Um mapeamento do consumo de entorpecentes no município já está sendo realizado por equipes da Secretaria de Segurança Urbana. “Os grupos estão visitando as comunidades e flagrando cenas de uso de crack. O que estamos percebendo, em nossa análise, é que não há pontos fixos, como acontece em outra cidades do país. No Recife, há sempre uma migração desses lugares”, explicou a secretária-executiva de Assistência Social, Geruza Felizardo, uma das integrantes do comitê gestor que se reúne quinzenalmente para tratar do tema.
Menos crimes
Além de contribuir com o fim do vício e reinserir os ex-usuários à sociedade, um dos objetivos do Programa Atitude é garantir a redução dos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). A meta é de 12% de queda ao ano – estatística idêntica à prevista pelo governo do estado, desde 2007. Atualmente, a capital registra uma taxa média de 38 homicídios para cada 100 mil habitantes. A criação de cinco Centros Comunitários da Paz (Compaz), nas áreas mais vulneráveis em relação à violência e ao percentual de pobreza, deve contribuir.
Novo lar
Com lesões nos braços e nas cabeças, os dois bebês resgatados pelo Conselho Tutelar na Iputinga receberam cuidados básicos e mudaram de endereço ontem. O filho da mulher de 42 anos foi encaminhado ao Lar do Neném. O outro bebê foi entregue ao pai, que garantiu à polícia que cuidará dele. Já o destino das mães será definido ao final do inquérito.
Saiba mais
Perfil dos atendidos no Atitude Pernambuco
- 72% são usuários de crack
- 37% sofrem ameaças de morte
- 54% sofreram tentativa de homicídio
- 34% já contrairam dívidas com traficantes
- 30% são egressos do sistema penitenciário ou da Funase
Como funciona a abordagem nas ruas
- Unidades móveis percorrem os pontos como praças, bares e comunidades, onde há usuários de droga, fazem intervenções psicossociais a essas pessoas
- A equipe é composta por psicólogos, assistentes sociais e educadores
- Somente em 2012, quase 19 mil pessoas foram abordadas nas ruas
Acolhimento temporário
Espaço que funciona 24 horas para acolher os usuários de drogas e seus familiares. A capacidade, por unidade, é de 30 atendimentos ao dia e dez à noite
Há cinco unidades:
1 – Recife
Rua Reverendo Antônio Gueiros, 40, Casa Amarela
2 – Jaboatão dos Guararapes
Rua Com. José Didier, Piedade
3 – Cabo de Santo Agostinho
Rua Ambulatório, 40, Centro
4 – Caruaru
Rua Alzira Vidal, 471, Petrópolis
5 – Floresta
Praça Major João Novais, s/n, Centro
Acolhimento intensivo
- Espaço de proteção integral intensivo 24h para usuários de drogas com vínculos familiares e comunitários rompidos
- A estadia varia de um a seis meses, de acordo com a necessidade do usuário
- A unidade possui capacidade de atender 30 pessoas (endereços mantidos em sigilo)
Aluguel Social
- Disponibiliza moradia alugada ou acolhimento em repúblicas para os usuários, após o período de recuperação no acolhimento intensivo
- O objetivo é acompanhar o ex-usuário de droga em sua reinserção social
- A permanência máxima na casa é de seis meses
Os números
- 4 mil atendimentos no acolhimento temporário
- 1.264 atendimentos no acolhimento intensivo
- 32 atendimentos no aluguel social
FONTE: Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Pernambuco
Por Raphael Guerra, do Diario de Pernambuco