Joana Bezerra: rotina de tensão para motoristas

Andar de carro à noite pelas ruas da Região Metropolitana do Recife (RMR) tem causado pânico em muita gente. E não é para menos. Os recorrentes casos de assaltos praticados em sinais de trânsito é apenas um dos motivos que assustam motoristas e passageiros. Cada vez mais, medidas de segurança estão sendo adotadas pela população para tentar escapar da violência. Ponto de ligação entre as zonas Oeste e Sul do Recife e que livra condutores de engarrafamentos, a Ponte Gregório Bezerra e toda a região do bairro de Joana Bezerra virou sinônimo de medo. Um lugar por onde poucos se arriscam em passar. Seja de dia ou à noite.

Ponte Gregório Bezerra é um dos pontos críticos. Foto: Roberto Ramos/DP
Ponte Gregório Bezerra é um dos pontos críticos. Foto: Roberto Ramos/DP

Na madrugada da última segunda-feira, o motorista Esron Messias de Santana Júnior, 36 anos, foi assassinado quando tentou fugir de um assalto nesse trecho. Ele estava com a esposa quando três homens queriam assaltá-los. Esron foi baleado na cabeça e capotou com carro. Sua esposa teve ferimentos leves. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando o crime. Até agora, um suspeito foi preso e os outros dois já estão identificados.

Quem precisa cruzar as vias que cortam a Ilha Joana Bezerra, na área central do Recife, não descuida da segurança. O medo é o principal companheiro de viagem das pessoas que precisam, por exemplo, chegar ao Fórum Rodolfo Aureliano, localizado entre os viadutos Capitão Temudo e Papa João Paulo II. A advogada Isabelle Menezes, 42 anos, vai ao fórum com frequencia, mas revela que toma cuidados no trajeto. “Sei que essa área é bastante complicada e insegura. Todas as vezes que venho ao fórum, evito passar pelos lugares mais esquisitos e não demoro para descer e entrar no carro. Faço tudo o mais rápido possível. Já presenciei cenas de roubos em cima do viaduto quando os carros estavam presos num engarrafamento”, contou a advogada.

A advogada Isabelle toma cuidados quando vai ao fórum. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP
A advogada Isabelle toma cuidados quando vai ao fórum. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP

A morte do motorista Esron Messias de Santana Júnior, na última segunda-feira, acendeu o alerta novamente para motoristas que trafegam na região. E o medo não se restringe à travessia da Ponte Gregório Bezerra. Após a publicação do crime nas redes sociais do Diario, centenas de leitores relataram casos que vivenciaram ou presenciaram em pontos da Ilha Joana Bezerra. O médico Carlos Esdras relatou que “nessa região, depois das 20h, nem polícia tem coragem de passar.” Já a leitora Fabyolla Tavares contou que foi vítima recentemente na mesma localidade. “Fui assaltada este mês, por volta do meio dia, nessa área. Os bandidos apontaram uma arma para mim e entreguei meu celular e minha aliança. De dia ou à noite, é melhor mudar o caminho, já que o policiamento não está mais presente”, relatou.

Ana Laura tem medo da insegurança em toda a Ilha Joana Bezerra
Maria Laura tem medo da insegurança em toda a Ilha Joana Bezerra

O motorista que opta por chegar à Zona Sul cortando caminho pela Ilha Joana Bezerra, para escapar do engarrafamento no bairro do Paissandu e do final da Avenida Agamenon Magalhães, precisa fazer um retorno em Joana Bezerra para ter acesso ao Viaduto Capitão Temudo. Também entram na rota do medo a Ponte Joaquim Cardoso, que liga o Coque à comunidade dos Coelhos e o pontilhão que leva motoristas em direção à Rua Imperial ou à Avenida Sul. “Toda essa região está muito perigosa. Os relatos de assaltos não param. Na semana passada, um colega meu foi assaltado quando havia acabado de descer do carro. Um rapaz simulando estar armado o abordou e levou os pertences dele”, declarou a advogada Maria Laura Sangerman, 23.

Harleyson Sobreira disse que passa pelo local à noite
Harleyson Sobreira disse que passa pelo local à noite

O advogado Harleyson Sobreira, 43, além de frequentar o Fórum Rodolfo Aureliano constantemente, contou que costuma cortar caminho para casa quando está voltando da Zona Sul. Apesar de nunca ter sido vítima ou presenciado nenhuma ação violenta, ele disse que passará a ter mais cuidado. “Já fiz esse percurso à noite várias vezes, inclusive com minha família. Meus amigos sempre dizem que eu não devo fazer isso, mas eu nunca havia ficado sabendo de algo grave nessa área. E nas vezes em que passei por aqui em horários da noite, esperava sempre outro carro ou um ônibus para não ser o único veículo trafegando”, explicou Harleyson.

Polícia Militar diz que tem policiamemto na localidade
Polícia Militar diz que tem policiamemto na localidade

Resposta
Diante das queixas de motoristas, que alegam falta de policiamento no local, a Polícia Militar disse que existem viaturas fazendo rondas 24 horas por dia na região da Ilha Joana Bezerra. De acordo com o capitão Diogo Racticliss, comandante da 2ª Companhia do 16º Batalhão, responsável pelo policiamento na localidade, blitze são realizadas com frequência nos pontos considerados críticos dentro da Ilha Joana Bezerra. “Temos recebido informações de assaltos na área, mas o policiamento está presente durante o dia e também nos horários da noite e madrugada. Além das viaturas do Gati e da Patrulha do Bairro, contamos com uma viatura de apoio com mais quatro policiais militares. Todos esses profissionais fazem abordagens nas proximidades da Ponte Gregório Bezerra e também na chamada curva do S, que leva os motoristas em direção ao bairro de Boa Viagem”, detalhou o capitão.

 

Homem é morto dentro de ônibus no Terminal Joana Bezerra

Passageiros de um ônibus que fazia a linha PE-15 Joana Bezerra tiveram um grande susto no início da noite deste sábado quando um homem foi morto com um tiro na cabeça dentro do coletivo.

Crime aconteceu por volta das 18h. Fotos: Wagner Oliveira/DP/D.A Press
Crime aconteceu por volta das 18h. Fotos: Wagner Oliveira/DP/D.A Press

Segundo a polícia, três rapazes subiram no ônibus uma parada antes do terminal. Um deles, que estava armado, entrou pela porta da frente e rendeu o motorista. Enquanto isso, outros dois suspeitos recolhiam pertences dos passageiros. O homem morto foi identificado pela polícia como Jaderson Rodrigues dos Santos, 24 anos, que segundo a polícia, era um dos assaltantes.

Policiais civis da Força-tarefa do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) estiveram no local para registrar a ocorrência, assim como também peritos do Instituto de Criminalística (IC). A pessoa que atirou não foi identificada.

Muitos passageiros que chegavam e saíam da Estação do Metrô Joana Bezerra ficaram assustados com a movimentação no local. Após o término da perícia, o corpo da vítima foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML), no bairro de Santo Amaro.

Motoristas são vítimas de assaltos na Avenida Agamenon Magalhães

A fisioterapeuta Letícia Pereira, 26 anos, por pouco não se tornou mais uma vítima dos constantes assaltos que estão acontecendo na Avenida Agamenon Magalhães, uma das principais artérias do Recife. Na semana passada, Letícia voltava da Zona Norte para Boa Viagem quando foi abordada por assaltantes ao parar o carro no semáforo nas proximidades da Rua do Paissandú.

Ponto mais pirigoso é o cruzamento com a Rua do Paissandú. Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
Ponto mais pirigoso é o cruzamento com a Rua do Paissandú. Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press

Os casos de investidas a motoristas ao longo da via têm aumentado nos últimos meses, o que chamou a atenção da Polícia Militar, que afirmou ter reforçado o policiamento na localidade. As vítimas, em sua maioria, são mulheres.

Os assaltos acontecem nos dois sentidos da avenida e a qualquer hora do dia. Em menos de um mês, a Polícia Civil registrou dez casos do tipo. A Delegacia de Joana Bezerra, responsável pelas investigações na área, apreendeu, recentemente, dois adolescentes e um homem envolvidos em atos infracionais e assaltos, respectivamente, ao longo da Avenida Agamenon Magalhães. “Muitos assaltos acontecem no sentido para a Zona Sul, o que faz as pessoas prestarem queixa na Delegacia de Boa Viagem”, ressaltou o delegado de Joana Bezerra, Darley Timóteo.

Assaltantes usaram uma arma de brinquedo para roubar bolsa. Fotos: Divulgação
Assaltantes usaram uma arma de brinquedo para roubar bolsa. Fotos: Divulgação

Letícia seguia para casa, por volta 16h30, quando foi abordada por dois garotos, um deles armado, segundo a fisioterapeuta. “Quando estava me aproximando do sinal, vi que havia alguns meninos à beira do canal, mas achei que eram apenas vendedores. No momento em que parei o carro, dois deles foram até a minha porta e bateram no vidro. Um deles estava com dois sacos de pipocas e me mostrou uma arma, que pensei ser de brinquedo”, contou.

O assalto a Letícia não foi consumado porque um homem percebeu a movimentação e perguntou aos garotos o que estava acontecendo. “Eles estavam pedindo o meu celular, mas aí apareceu um ‘anjo’ que fez com que os garotos fossem embora. Fiquei muito nervosa e chorei bastante depois”, lembrou.

Dois adolescentes e um adulto foram pegos pela polícia por assaltos na área
Dois adolescentes e um adulto foram pegos pela polícia por assaltos na área

A empresária Lorena Gouveia, 30, não teve a mesma sorte de Letícia. No dia 22 de maio Lorena voltava de Boa Viagem quando foi assaltada na Agamenon Magalhães, nas proximidades do Derby. “Estava com meu filho pequeno no carro e os assaltantes foram muito violentos. Pediram meu celular e ainda ameaçaram atirar na minha cabeça. Lembro que eram três garotos e que um deles estava com vários sacos de pipoca nas mãos. Foi horrível. Mudei de endereço para não ter que passar pela Agamenon novamente para buscar meu filho na escola”, ressaltou Lorena.

Os assaltos na avenida acontecem com tamanha frequência que a médica Márcia Pereira, 55, já presenciou pelo menos cinco no trajeto de casa para o trabalho. “Presenciei assaltos em todos os horários e os assaltantes escolhem como alvo principal as mulheres. Eles abordam pessoas que estão com os vidros dos carros abertos ou pedem para os motoristas abrirem aqueles que estão fechados. Está muito perigoso transitar pela Agamenon Magalhães”, ressaltou.

Darley Timóteo assume a chefia da Delegacia da Joana Bezerra

Depois de passar cinco anos à frente da Delegacia do Turista e pouco mais de três anos atuando na assistência do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o delegado da Polícia Civil de Pernambuco Darley Timóteo está de volta às delegacias. Recentemente, o policial foi designado por meio de portaria assinada pelo secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, para assumir a chefia da Delegacia de Polícia da 3ª Circunscrição (Joana Bezerra).

Policial tem vasta experiência na polícia. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Delegado tem vasta experiência na polícia. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

No cargo há menos de um mês, Darley começa nesta segunda-feira a investigação do roubo de uma bicicleta de um músico avaliada em R$ 5 mil. A vítima foi assaltada por um homem armado, por volta das 6h30 da última quinta-feira, embaixo do Viaduto Joana Bezerra. O crime acontece perto da Academia da Cidade do bairro e pode ter sido flagrado pelas câmeras de monitoramento da Secretaria de Defesa Social (SDS).

 

Ciclistas são novo alvo dos assaltantes

A Polícia Civil já começou a investigar o assalto que vitimou o músico Jurin Senna, 50 anos, que teve a bicicleta roubada nas proximidades do Fórum Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, no Recife, na manhã da última quinta-feira. O delegado Darley Timóteo, da Delegacia da Joana Bezerra, informou ao blog que irá ouvir o depoimento da vítima nesta segunda-feira. A polícia irá com o músico até o local do assalto para verificar se existem câmeras de segurança por perto e se as mesmas registraram a ação.

Muitos frequentadores estão com medo. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Muitos frequentadores estão com medo. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Segundo relatos de quem utiliza Ciclofaixa Móvel de Turismo e Lazer no Recife aos domingos e feriados, nos últimos meses os assaltos se tornaram rotina em alguns pontos do trajeto e ainda nas proximidades. Muitos ciclistas dizem que o bairro do Cabanga seria ponto mais crítico no quesito segurança.

Uma das vítimas foi a auxiliar-administrativa Suellen Cabral, 21. Enquanto pedalava, ela teve a bicicleta e o celular roubados. A violenta abordagem, que também rendeu a Suellen um braço quebrado e sessões de fisioterapia, teria sido o sexto ocorrido em apenas uma manhã, no Cabanga, em janeiro, segundo os ciclistas, informação não confirmada pela polícia.

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