Assaltos e medo são rotina na BR-232

Trafegar pela BR-232, principalmente à noite, voltou a ser um risco para os motoristas e ocupantes de veículos e ônibus. Faltando menos de dois meses para o início das festas juninas, muita gente que vai pegar a estrada em direção às cidades do Agreste ou Sertão pernambucanos já está pensando no que pode encontrar pela frente. Relatos de assaltos na rodovia federal são frequentes.

Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press
Motoristas trafegam assustados pela rodovia federal. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press

Na última quinta-feira, um grupo de amigos teve o carro interceptado por cinco assaltantes que estavam em outro veículo. Armados, os criminosos realizaram disparos contra o carro das vítimas, o que os fez parar na estrada. O fato aconteceu por volta das 21h40 entre os municípios de Gravatá e Bezerros, quando o grupo seguia para a cidade Garanhuns.

O universitário Marcos Venício Cândido, 20 anos, dirigia um Polo Sedan de cor prata e placas PGG-6682, onde estavam mais quatro amigos dele. Um veículo Corolla com cinco ocupantes se aproximou do carro guiado por Marcos na altura do quilômetro 87. “Eles atiraram no carro e tivemos que parar. Dos cinco homens que estavam no Corolla, quatro desceram. Dois estavam armados e dois encapuzados. Levaram todos os nossos pertences e também o carro. Até agora não tivemos informação da localização do Corolla”, ressaltou Marcos.

O grupo foi deixado em uma área escura da rodovia. Nenhum dos jovens que seguiam para Garanhuns foi ferido. Com a ajuda de um motorista de caminhão, foram deixados em um posto de combustíveis.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), de janeiro até ontem, sete casos de assaltos foram registrados pelos policiais que trabalham no posto da PRF de Gravatá, que atende Moreno até Bezerros. Desses casos, três foram veículos de carga e um táxi. A assessoria de comunicação da PRF informou ainda que desde o início deste ano nove pessoas foram presas e dois adolescentes foram apreendidos envolvidos em vários crimes na região.

A PRF destacou que casos de violência devem ser denunciados através do telefone 191 e recomendou que os motoristas evitem para em locais desertos durante as viagens. O Núcleo de Operações Especiais da PRF desenvolve um trabalho de prevenção nas estradas federais que cortam o estado com o objetivo de reduzir os índices de violência.

Polícia prende suspeitos de assaltos na Zona Norte do Recife

Sete pessoas foram presas suspeitas de integrar uma quadrilha de assaltantes que está aterrorizando a Zona Norte. Segundo a Polícia Militar, o grupo foi capturado quando estava jogando futebol no Parque Santana. Entre os detidos, está um dos suspeitos de assaltar o arquiteto Marcos Mendonça. Ainda de acordo com a PM, os sete foram reconhecidos por testemunhas como responsáveis por assaltos nos bairros de Monteiro, Poço da Panela e Casa forte. Quatro vítimas também reconheceram o grupo. “Foi uma ação rápida e planejada, na qual capturamos todos sem que desse tempo de fuga ou reação. Estamos em diligências com possibilidade de localização das armas de fogo utilizadas por eles”, disse o comandante do 11º BPM, tenente-coronel Hercílio Mamede. Na manhã desta sexta-feira, a PM informou que apenas quatro dos sete detidos tinham ligação com os crimes na Zona Norte.

Rua Jorge de Albuquerque, onde o arquiteto foi assaltado na entrada do prédio. Fotos: Marlon Diego/Esp/DP
Rua Jorge de Albuquerque, onde o arquiteto foi assaltado na entrada do prédio. Fotos: Marlon Diego/Esp/DP

Depois da onda de violência e até da divulgação de um suposto toque de recolher que assustou moradores e comerciantes em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, a população da Zona Norte também reclama do aumento de investidas criminosas na localidade. Quem reside ou trabalha nos bairros de Casa Forte e Poço da Panela tem sido obrigado a modificar a rotina para escapar dos criminosos. Na noite da última quarta-feira, o arquiteto Marcos Mendonça, 73 anos, foi assaltado por dois homens armados quando chegava ao prédio onde mora, por volta das 20h. “Eles levaram a minha carteira com tudo dentro e fui agredido com uma coronhada na cabeça”, contou o arquiteto. As câmeras de segurança do Edifício Monjolo registraram a ação criminosa na Rua Jorge de Albuquerque, no Poço da Panela.

Onda de assaltos tem assustado também moradores da Av. 17 de Agosto
Onda de assaltos tem assustado também moradores da Av. 17 de Agosto

Ainda na noite da última quarta-feira, pelo menos cinco carros teriam sido roubados na região até as 22h30. Moradores também relataram a ocorrência de assaltos em série em bares e abordagens contra moradores de prédios da Avenida 17 de Agosto, uma das principais do bairro de Casa Forte. Em um dos roubos, os criminosos renderam um morador que estava com um filho de três anos no carro. O veículo foi levado e as vítimas liberadas. Ontem pela manhã, o Diario circulou por várias ruas da Zona Norte e constatou o clima de medo entre as pessoas ouvidas pela reportagem. “Moro aqui nas imediações faz mais de 20 anos e nunca tinha visto tanta violência por aqui. Pelo menos três assaltos acontecem por dia. Isso a qualquer hora”, revelou uma moradora da Rua Tapacurá.

Um motorista de 28 anos que preferiu não revelar sua identidade contou que seus parentes têm evitado sair de casa à noite. Mesmo assim, um tio dele foi assaltado na semana passada. “Levaram o celular, relógio e um cordão que estava no pescoço dele. Quase não vemos viaturas da Polícia Militar passando por aqui”, reclamou. O engenheiro Roberto Maia, 69, morador do Poço da Panela, também cobra mais presença da polícia na localidade. “A violência está em todo lugar e temos que tomar certas precauções, no entanto, é preciso de mais policiamento”, pontuou Roberto. O estudante Roberto Wanderley, 23, mora em Apipucos e treina numa academia no Poço da Panela. Ele vem e volta correndo todos os dias. “Evito trazer celular e relógio porque sei que estão acontecendo vários assaltos por aqui”, contou.

O estudante Roberto Wanderley toma cuidado ao passar pelo Poço da Panela
Roberto Wanderley toma cuidado ao passar pela ruas do Poço da Panela

Medo e tensão também fazem parte dos moradores e frequentadores da Praça de Casa Forte. Morador da Rua Jacó Velosino, o engenheiro Marcos Gondim, 34, conta que vários assaltos já aconteceram nas imediações do prédio onde mora. “Sempre temos muito cuidado quando estamos chegando ou saindo de casa. Além disso, deixamos de vir à Praça de Casa Forte à noite. Tenho uma filha pequena e só descemos com ela agora pela manhã”, ressaltou o engenheiro. Quem costuma frequentar a praça, uma das mais conhecidas da Zona Norte, relata que a quantidade de pessoas praticando exercícios ou caminhando no local tem reduzido devido à insegurança.

Marcos Gondim evita frequentar a Praça de Casa Forte com a família no horário da noite
Marcos evita frequentar a Praça de Casa Forte com a família à noite

A Polícia Militar de Pernambuco informou que na área do 11º BPM, responsável pelo policiamento nos bairros de Casa Forte, Monteiro e Poço da Panela, foram recuperados ainda na última quarta-feira, três veículos roubados, sendo uma motocicleta e dois carros, um roubado na quarta-feira e outro que havia sido roubado na semana passada. A corporação disse ainda que “o comandante do 11º BPM conversaria com a população para levantar as necessidades do local. O policiamento na área é realizado pela Patrulha do Bairro e recobrimento do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI) e será reforçado com motopatrulheiros, para trazer maior sensação de segurança para a população. Além disso, foi criado um grupo no WhatsApp para facilitar a comunicação de ações e a resposta. O número é o (81) 99962-8508.

Joana Bezerra: rotina de tensão para motoristas

Andar de carro à noite pelas ruas da Região Metropolitana do Recife (RMR) tem causado pânico em muita gente. E não é para menos. Os recorrentes casos de assaltos praticados em sinais de trânsito é apenas um dos motivos que assustam motoristas e passageiros. Cada vez mais, medidas de segurança estão sendo adotadas pela população para tentar escapar da violência. Ponto de ligação entre as zonas Oeste e Sul do Recife e que livra condutores de engarrafamentos, a Ponte Gregório Bezerra e toda a região do bairro de Joana Bezerra virou sinônimo de medo. Um lugar por onde poucos se arriscam em passar. Seja de dia ou à noite.

Ponte Gregório Bezerra é um dos pontos críticos. Foto: Roberto Ramos/DP
Ponte Gregório Bezerra é um dos pontos críticos. Foto: Roberto Ramos/DP

Na madrugada da última segunda-feira, o motorista Esron Messias de Santana Júnior, 36 anos, foi assassinado quando tentou fugir de um assalto nesse trecho. Ele estava com a esposa quando três homens queriam assaltá-los. Esron foi baleado na cabeça e capotou com carro. Sua esposa teve ferimentos leves. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando o crime. Até agora, um suspeito foi preso e os outros dois já estão identificados.

Quem precisa cruzar as vias que cortam a Ilha Joana Bezerra, na área central do Recife, não descuida da segurança. O medo é o principal companheiro de viagem das pessoas que precisam, por exemplo, chegar ao Fórum Rodolfo Aureliano, localizado entre os viadutos Capitão Temudo e Papa João Paulo II. A advogada Isabelle Menezes, 42 anos, vai ao fórum com frequencia, mas revela que toma cuidados no trajeto. “Sei que essa área é bastante complicada e insegura. Todas as vezes que venho ao fórum, evito passar pelos lugares mais esquisitos e não demoro para descer e entrar no carro. Faço tudo o mais rápido possível. Já presenciei cenas de roubos em cima do viaduto quando os carros estavam presos num engarrafamento”, contou a advogada.

A advogada Isabelle toma cuidados quando vai ao fórum. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP
A advogada Isabelle toma cuidados quando vai ao fórum. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP

A morte do motorista Esron Messias de Santana Júnior, na última segunda-feira, acendeu o alerta novamente para motoristas que trafegam na região. E o medo não se restringe à travessia da Ponte Gregório Bezerra. Após a publicação do crime nas redes sociais do Diario, centenas de leitores relataram casos que vivenciaram ou presenciaram em pontos da Ilha Joana Bezerra. O médico Carlos Esdras relatou que “nessa região, depois das 20h, nem polícia tem coragem de passar.” Já a leitora Fabyolla Tavares contou que foi vítima recentemente na mesma localidade. “Fui assaltada este mês, por volta do meio dia, nessa área. Os bandidos apontaram uma arma para mim e entreguei meu celular e minha aliança. De dia ou à noite, é melhor mudar o caminho, já que o policiamento não está mais presente”, relatou.

Ana Laura tem medo da insegurança em toda a Ilha Joana Bezerra
Maria Laura tem medo da insegurança em toda a Ilha Joana Bezerra

O motorista que opta por chegar à Zona Sul cortando caminho pela Ilha Joana Bezerra, para escapar do engarrafamento no bairro do Paissandu e do final da Avenida Agamenon Magalhães, precisa fazer um retorno em Joana Bezerra para ter acesso ao Viaduto Capitão Temudo. Também entram na rota do medo a Ponte Joaquim Cardoso, que liga o Coque à comunidade dos Coelhos e o pontilhão que leva motoristas em direção à Rua Imperial ou à Avenida Sul. “Toda essa região está muito perigosa. Os relatos de assaltos não param. Na semana passada, um colega meu foi assaltado quando havia acabado de descer do carro. Um rapaz simulando estar armado o abordou e levou os pertences dele”, declarou a advogada Maria Laura Sangerman, 23.

Harleyson Sobreira disse que passa pelo local à noite
Harleyson Sobreira disse que passa pelo local à noite

O advogado Harleyson Sobreira, 43, além de frequentar o Fórum Rodolfo Aureliano constantemente, contou que costuma cortar caminho para casa quando está voltando da Zona Sul. Apesar de nunca ter sido vítima ou presenciado nenhuma ação violenta, ele disse que passará a ter mais cuidado. “Já fiz esse percurso à noite várias vezes, inclusive com minha família. Meus amigos sempre dizem que eu não devo fazer isso, mas eu nunca havia ficado sabendo de algo grave nessa área. E nas vezes em que passei por aqui em horários da noite, esperava sempre outro carro ou um ônibus para não ser o único veículo trafegando”, explicou Harleyson.

Polícia Militar diz que tem policiamemto na localidade
Polícia Militar diz que tem policiamemto na localidade

Resposta
Diante das queixas de motoristas, que alegam falta de policiamento no local, a Polícia Militar disse que existem viaturas fazendo rondas 24 horas por dia na região da Ilha Joana Bezerra. De acordo com o capitão Diogo Racticliss, comandante da 2ª Companhia do 16º Batalhão, responsável pelo policiamento na localidade, blitze são realizadas com frequência nos pontos considerados críticos dentro da Ilha Joana Bezerra. “Temos recebido informações de assaltos na área, mas o policiamento está presente durante o dia e também nos horários da noite e madrugada. Além das viaturas do Gati e da Patrulha do Bairro, contamos com uma viatura de apoio com mais quatro policiais militares. Todos esses profissionais fazem abordagens nas proximidades da Ponte Gregório Bezerra e também na chamada curva do S, que leva os motoristas em direção ao bairro de Boa Viagem”, detalhou o capitão.

 

Usuários do metrô reféns do medo

Um dos meios de transporte mais rápidos e baratos da Região Metropolitana do Recife (RMR) tem se tornado também, na opinião dos usuários, um dos mais perigosos. Os constantes assaltos e até mortes nos trens e estações têm assustado quem usa o metrô do Recife. Do início deste ano até este sábado, quatro pessoas foram assassinadas nas instalações do metrô. Uma violência que reflete na redução de usuários no sistema.

Passageiros contam com a sorte para não serem assaltados. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP
Passageiros contam com a sorte para não serem assaltados. Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP

Dados da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) do Recife indicam queda de quase 5% no total de passageiros transportados em outubro deste ano, que foi de 8.911, em relação ao mesmo mês de 2015, quando foram registrados 9.354 usuários. Para tentar mudar esse cenário, a direção da CBTU aposta na tecnologia. Ainda no início de 2017, 1.300 câmeras de monitoramento serão instaladas em todas as áreas do metrô e um novo sistema de videomonitoramento será implantado.

Atualmente, cerca de 400 mil usuários são transportados diariamente pelos trens do metrô. Existem 37 estações em operação e 40 trens e 9 VLTs (Veículo Leve sobre Trilho) são os responsáveis por levar e trazer os passageiros do sistema. Moradores dos municípios do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho são atendidos pelo modal. Porém, quem mora em outras cidades pode acessar as estações do metrô através dos terminais do Sistema Estrutural Integrado (SEI). Para o próximo ano, a CBTU irá investir R$ 61 milhões em várias melhorias. Reforço nas equipes de segurança, limpeza de estações e aquisição de novos equipamentos estão entre as prioridades da direção.

Abordagnes criminosas acontecem nas estações e dentro dos vagões
Abordagens criminosas acontecem nas estações e dentro dos vagões

A estudante Thayra Nóbrega, 22 anos, costuma usar os trens da Linha Sul, os mais visados recentemente pelos criminosos. Na última quarta-feira, Thayra fazia mais uma viagem de metrô, mas não escondia o medo. “Sempre andei de metrô, porque era um meio de transporte muito rápido, mas depois desses assaltos e das mortes que aconteceram tenho evitado fazer muitas viagens. E quando estou dentro dos trens e nas estações não atendo o telefone celular. Acho que deveria haver policiais militares dentro do metrô, pois a insegurança está aumentando a cada dia e somente os vigilantes não são suficientes para garantir a nossa tranquilidade”, relatou a estudante. Para o diretor de Comunicação do Sindicato do Metroviários, Levi Arruda, o sentimento dos trabalhadores em relação à insegurança é de “indignação e revolta.”

Passageiros assustados e relatos de assaltos são frequentes entre os usuários do metrô. Segundo a CBTU, do início deste ano até a semana passada, 131 ocorrências de roubo foram registradas pela empresa. Em todo o ano de 2015, o número de registros feitos pelos usuários aos funcionários do metrô foi de 171 casos. “A violência é um problema generalizado na Região Metropolitana do Recife. Temos alguns pontos de incidências e com maior frequência nesse mês de dezembro. Na verdade, o metrô não tem uma situação insegura. É uma das áreas mais seguras, mas está sendo alvo da insegurança geral”, declarou o superintendente da CBTU, Leonardo Villar.

Tamirys pego o metrô na Estação Imbiribeira todos os dias com medo
Tamirys pego o metrô na Estação Imbiribeira todos os dias com medo

Usuária da Linha Sul diariamente, a caixa Tamirys Thaine Dias, 26, cobra mais segurança. “Pego o metrô todos os dias na Estação Imbiribeira e, apesar de nunca ter sido assaltada, me machuquei duas vezes por conta dos arrastões e assaltos no metrô, pois tive que correr junto com as outras pessoas para não ser vítima. Acredito que somente um reforço na segurança pode acabar com essa situação. Largo tarde do shopping e chego na estação num horário que não tem quase ninguém”, contou Tamirys. O funcionário público Ricardo Pereira de Sobral, 44, também utiliza a Estação Imbiribeira todos os dias. “É preciso mais segurança dentro dos trens e também nas estações”, destacou.

Bairro da Jaqueira tomado pelo medo

O aumento no número de roubos e furtos registrados nos dois primeiros meses deste ano na Zona Norte do Recife tem deixado moradores e frequentadores de vários bairros assustados. Se em Casa Forte e em Casa Amarela os assaltos estão sendo praticados por homens armados que geralmente estão em carros, na Jaqueira os crimes são cometidos por pessoas que estão em motocicletas ou até mesmo a pé.

Foto: Rafael Martins/ Esp. DP
Assaltos acontecem também no interior do parque. Foto: Rafael Martins/ Esp. DP

No último domingo, o juiz da 10ª Vara Criminal do Recife, João Guido Tenório de Albuquerque, foi assaltado na frente de uma padaria no bairro da Jaqueira. “Nunca imaginei que pudesse ser assaltado de dia, às 9 horas”, relatou o juiz. Ele foi abordado por dois homens numa motocicleta, um deles armado. O crime aconteceu na Praça Souto Filho, conhecida como Praça do Cachorro. “Me ameaçaram de morte e levaram um cordão e minha pulseira de ouro”, contou.

Ao registrar queixa, o juiz João Guido soube que assaltos são comuns não apenas naquela área, mas também na Avenida Rosa e Silva, no Parnamirim, e até mesmo dentro do Parque da Jaqueira. “O policiamento se resume a uma guarita de onde os policiais não podem sair. Os bandidos fazem a festa”, salientou o magistrado, acrescentando que não iria mais frequentar o parque devido à violência. O aposentado Walfredo Dias, 80 anos, costuma caminhar na Jaqueira e disse que já ouviu relatos de alguns assaltos. “Sempre venho no horário da tarde e nunca fui assaltado, mas as pessoas contam que estão acontecendo assaltos por aqui.” Comerciantes do parque dizem que celulares são os objetos mais levados pelos assaltantes.

O comando do 11º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela localidade informou que o policiamento ostensivo no entorno do Parque da Jaqueira é feito pela Patrulha do Bairro, além de policiais a pé. A assessoria de imprensa afirmou que o comandante do batalhão está ciente da denúncia e deixa à disposição dos moradores o número do whatsapp (81) 98722-5712 para que façam denúncias.

Já a Guarda Municipal do Recife, responsável pela segurança no parque, ressaltou que coloca três viaturas a mais nos finais de semana nas ruas do Recife, com quatro homens dentro de cada. A ronda é feita nos pontos de maior movimento da cidade e conta, ainda, com a colaboração das câmeras da Central de Monitoramento.

Moradores farão protesto contra onda de assaltos na Lagoa do Araçá

Mora perto da Lagoa do Araçá, na Imbiribeira, tem sido sinônimo de medo. Foto: Jailson da Paz/DP.D.A Press
Morar perto da Lagoa do Araçá, na Imbiribeira, tem sido sinônimo de medo. Foto: Jailson da Paz/DP.D.A Press

Um protesto organizado por moradores das proximidades da Lagoa do Araçá, na Imbiribeira, vai ganhar as ruas do bairro nesta sexta-feira. Cansados da onda de assaltos na localidade e da ausência de policiamento, moradores estarão concentrados a partir das 18h na Praça de Eventos da Lagoa para chamar a atenção do poder público para a violência no local. Na manhã desta quinta-feira, pelo menos dois assaltos já foram praticados por suspeitos em motos nas proximidades da Lagoa do Araçá, um na Rua David Kauffman e outro na Engenheiro José Brandão Cavalcante.

Rotina de medo toma conta das proximidades da Lagoa. Foto: Pedro da Hora/Esp. DP/D. A Press
Moradores temem estar nas ruas.  Foto: Pedro da Hora/Esp. DP/D. A Press

Através das redes sociais, a população está convocando o maior número possível de pessoas para participarem do protesto. A saída está prevista para as 19h e o percurso será as ruas, Leôncio Soares Pessoa, Av. Engenheiro Alves de Souza, Arquiteto Luiz Nunes, Grasiela e José Brandão de Cavalcante. A caminhada deve terminar por volta das 21h em frente ao Núcleo de Seguraça Comunitária da Lagoa.

Cartaz está sendo divulgado nas redes sociais
Cartaz está sendo divulgado nas redes sociais

Organizadores do protesto pedem que as pessoas levem cartazes, apitos, panelas ou qualquer coisa que faça barulho para chamar a atenção das autoridades. Também está sendo pedido que quem foi assaltado leve o Boletim de Ocorrência para anexar ao ofício que será entregue à Prefeitura do Recife e à Polícia Militar. Segundo os moradores da área, os assaltos são, geralmente, praticados por suspeitos em motos e em cinquentinhas e acontecem a qualquer hora do dia.

Mulheres do Agreste em pânico por causa de um maníaco

Por Marcionila Teixeira, do Diario de Pernambuco

Na noite de 29 de agosto, um desconhecido usando uma blusa enrolada na cabeça e com o braço direito marcado pelos dizeres Henrique, Cristina Nenem no braço direito invadiu duas casas no Sítio Manduri, a 8 km do centro de Surubim, no Agreste. Na primeira residência, pertencente a um promotor, ele pediu dinheiro, espancou e estuprou uma mulher de 23 anos, funcionária da casa. Uma hora e meia depois, invadiu outro imóvel, onde abusou de uma costureira de 27 anos após arrastá-la por metros mato adentro.

O medo domina a população da localidade da cidade. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press
O medo domina a população da localidade da cidade. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press

Desde aquele dia, mulheres deixaram empregos, escolas suspenderam aulas e famílias trancaram-se em casa com medo. Na semana passada, duas vítimas conseguiram escapar após reagirem. Moradores criticam a lentidão na apuração o caso.

O sítio fica no limite entre Surubim, Frei Miguelinho, Santa Maria do Cambucá e Vertente do Lério. A notícia espalhou-se e muitos boatos circulam. “Hoje (ontem) de manhã, vi esse homem lavando os pés no riacho. Tinha uma arma na cintura e uma pá. Vai ver que é para enterrar as vítimas”, comentava um morador do sítio. Na tarde de segunda-feira, diante de mais um suposto sinal da presença do suspeito, a população armou-se na tentativa de capturá-lo, em vão.

O homem foi identificado pela Polícia Civil como José Rego de Queiroz, 36, foragido do Presídio de Limoeiro. Conhecido como Neném, é agricultor e analfabeto. Foi preso em 2007 acusado de estupro. Em 2013, recebeu autorização para visitar o pai, quebrou a tornozeleira e não voltou mais.

Aflição
Após o estupro, a costureira deixou a casa onde vivia no sítio com o marido e o filho de dois anos e foi para um apartamento na zona urbana de Surubim, cidade de 62.530 habitantes a 120 km do Recife. “Pensei que fosse morrer. Estou vivendo um pesadelo. Quero acordar.”

Moradora do sítio onde ocorreram os crimes, uma mulher de 32 anos pediu demissão do trabalho e não leva mais o filho à escola. “Tenho medo de ser atacada no caminho. A professora disse que os meninos não iriam se prejudicar porque entende a situação. Não saio nem ao quintal. Vivo trancada.”

A Delegacia de Santa Maria do Cambucá é responsável pela apuração. “Recebemos mais de dez denúncias por dia, mas muitas chegam à noite quando o efetivo não está. Tem muito boato também”, afirmou o delegado Aldeci José da Silva.

ENTREVISTA >> VíTIMA DO MANíACO »

Vítima
Vítima voltou a morar com os pais por conta do medo

“Ele foi muito violento, me espancou muito”

Aos 23 anos, uma das vítimas do homem acusado de estupro deixou a casa onde vivia com o filho pequeno para voltar a morar com os pais, no Sítio Manduri. Desde o dia do crime, não consegue dormir à noite. Pensa na violência, chora, tem crises nervosas. As sequelas são psicológicas, mas físicas também. Quase um mês depois, anda com dificuldade por conta de dores no ventre.

Como você se sente hoje, quase um mês depois?
Ele me espancou muito. Sinto dores fortes no pé da barriga. Por algum tempo sangrei, sequer podia me sentar. Me sinto distraída, pertubada demais. Minha família tenta ajudar, conversa, me dá filmes para assistir, CDs para escutar de madrugada. Meu pai também não dorme. Só penso em coisa ruim, na possibilidade de ele voltar, fazer tudo de novo. Até mesmo com minhas irmãs, com minha mãe.

O que você imaginou na hora do crime?
Na verdade, hoje me sinto uma vitoriosa. Achei que ele fosse me matar. Ele falava isso o tempo inteiro, com a arma apontada contra mim. Não reagi em nenhum momento, mas mesmo assim ele foi muito violento, me espancou muito.

Você tem recebido acompanhamento psicológico e tratamento após a agressão?
Vou tomar o coquetel anti-HIV por um mês. Estou tentando um acompanhamento psicológico pelo menos uma vez por semana aqui na cidade. Uma psicóloga do Recife disse que uma vez por mês era muito pouco.

Mulheres têm rotina de medo

A dona de casa Inês Castro, 49 anos, espera todos os dias a filha de 21 anos na parada de ônibus. Moradora do bairro de Passarinho, em Olinda, Inês teme que algo de ruim aconteça à estudante, que chega da faculdade após as 22h. O medo de Inês se traduz no resultado da pesquisa realizada pela organização humanitária ActionAid com 150 mulheres pernambucanas, moradoras de periferias do Recife, Olinda e Cabo, que traz dados sobre a insegurança que eles sentem todos os dias.

Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
Passarinho foi um dos bairros pesquisados. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press

Entre as entrevistadas pernambucanas, 43,8% declararam já terem sofrido assédio dentro do transporte público. Outro número grave: mais da metade (54,2%) declarou já ter sofrido algum tipo de assédio de quem deveria protegê-las, a polícia.

Além de Pernambuco, outros três estados foram avaliados. A pesquisa ouviu 306 mulheres. O resultado gerou a campanha Cidades seguras para as mulheres. No Recife, o lançamento acontece hoje, às 18h, na Torre Malakoff, no Recife Antigo. A pesquisa buscou traçar um paralelo entre a qualidade dos serviços públicos no Brasil e a insegurança das mulheres. Todas as entrevistadas disseram que a falta de qualidade dos serviços atrapalha sua vida.

“À noite fica muito perigoso para as mulheres andarem sozinhas aqui em Passarinho”, aponta Inês. Também moradora do bairro, em Olinda, Janaína Ribeiro, 36, conta que assaltos acontecem a qualquer hora. “As mulheres têm medo de andar sozinhas. A violência está muito grande”, diz a dona de casa.

Uma carta política foi construída com as mulheres que participaram da pesquisa e o documento será entregue aos candidatos a governo do estado. Entre as reivindicações estão a adoção de medidas concretas para melhorar os serviços públicos em iluminação, transporte, policiamento, moradia, educação e saúde.

“A pesquisa mostra que, mais que a sensação do medo da violência, as mulheres são afetadas porque têm suas rotinas limitadas pelas estratégias que criam para fugir de situações perigosas. Assim, elas têm seu direito de ir e vir afetado. Algumas disseram que deixam de trabalhar ou estudar, por exemplo”, diz Ana Paula Ferreira, coordenadora da equipe de Direito da mulher da Actionaid no Brasil.

A Polícia Militar de Pernambuco informou que a denúncia sobre insegurança em Passarinho foi encaminhada ao 1º BPM que analisará as informações da população. A Estrada de Passarinho conta com uma viatura da Patrulha do Bairro diariamente, além do Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati) e apoio de motopatrulheiros.

Violência muda rotina da cidade de Pombos

O medo está tirando o sono de moradores e comerciantes da cidade de Pombos, na Mata Sul, a 64 km do Recife. Eles relatam que nos últimos seis meses a violência tem crescido, sendo constante os assaltos no local. A denúncia se reflete nos dados registrados pela Secretaria de Defesa Social (SDS). De janeiro a junho, o número de furtos aumentou 88%, passando de 34 ocorrências para 64, se comparado com o mesmo período em 2013. Já a quantidade de roubos pulou de 51 para 68, um crescimento de 33,3% também comparado ao ano anterior.

Cidade que sempre preservou clima pacato agora está assustada com assaltos constantes (PREFEITURA DE POMBOS/DIVULGAÇÃO)

Conhecida como a terra do abacaxi, Pombos em nada se parece hoje com o município pacato lembrado pelos que lá vivem. Dono de uma loja na Rua do Comércio, no centro do município, há 10 anos, um comerciante que não quis se identificar contou que instalou câmeras. Ele disse que outros lojistas contrataram seguranças. Mas as medidas não têm sido suficientes para coibir a ação dos bandidos.

“Uma loja de roupas vizinha à minha foi assaltada. Levaram dinheiro e celulares das vendedoras. A cidade é pequena e todo mundo se conhece. Temos medo até de procurar a polícia”, disse. Outra comerciante creditou os crimes ao crescimento do município. “Quase todos os dias tem assalto, principalmente nas ruas. Uma amiga minha já foi roubada”, contou. A população estava estimada em 26.716, segundo o IBGE, em 2013. Em 2000 eram 23.351 moradores.

Diante da situação, moradores pretendem sair em passeata pelas ruas da cidade, às 15h da próxima quinta-feira, pedindo providências ao poder público. “O comércio colocará balões brancos em suas portas e os carros vão rodar com fitas brancas. O protesto foi marcado após a morte de um empresário no domingo passado. Ele estava sendo perseguido por dois homens numa moto, bateu numa árvore e morreu”, afirmou uma das organizadoras e moradora Marimuth Coelho, 58.

Em nota, a SDS informou que detectou os principais gargalos que elevaram o número de roubos e furtos e alterou os locais de policiamento ostensivo, além de reforçar a segurança com motocicletas no período noturno. Uma viatura e três motocicletas da CIPMotos atuam na área. O delegado Frederico Lapenda informou que uma das ocorrências de maior repercussão na cidade, o assassinato de um idoso, foi solucionada em apenas uma hora e meia após o crime.

De acordo com o tenente-coronel Lindjonhson Felix da Silva, comandante do 21º Batalhão da PM, o desenvolvimento da cidade e municípios vizinhos é um dos motivos para o aumento da violência. “É importante que a população passe informações e preste queixa, iniciativa não muito comum no interior. Sem esses dados não há como identificar a ação delituosa”, acrescentou o oficial. O telefone do 21º BPM é (81) 3526-8901 e o da Delegacia de Pombos é (81) 3536-2803.

Do Diario de Pernambuco

PMs voltaram às ruas e discussão sobre reajuste ficou para 2015

Após 48 horas de medo e violência nas ruas, os policiais militares e bombeiros de Pernambuco decidiram interromper a greve deflagrada por melhores salários e condições de trabalho. Na noite de ontem, após a terceira rodada de negociações intermediada por uma comissão de deputados da Assembleia Legislativa do estado, o grupo que liderou a mobilização anunciou aos policiais as propostas do governo e ponderou que a população não poderia mais continuar sem segurança nas ruas.

Tanques de guerra nas ruas chamou a atenção da população. Foto: Guilherme Veríssimo/ESP/DP/D.A Press
Tanques de guerra nas ruas chamou a atenção da população. Foto: Guilherme Veríssimo/ESP/DP/D.A Press

Horas após o anúncio do fim da greve, as equipes do Diario percorreram alguns bairros do Recife, como Derby, Boa Viagem, Torre e Várzea. Viaturas da PM já eram vistas em rondas pelas principais ruas. O clima continuava tenso e saques foram registrados mesmo depois de anunciado o fim da greve. O governo do estado informou que a Força Nacional de Segurança e o Exército continuarão oferecendo segurança à população até que o retorno ao trabalho dos policiais esteja consolidado.

Apesar de a decisão pelo fim da greve não ter ocorrido com a votação direta da categoria, como havia acontecido na quarta-feira, a maior parte do grupo saiu demonstrando satisfação. “Algumas vezes é preciso dar um passo para trás para no futuro dar dois para frente. Tivemos ganhos”, afirmou o soldado Joel Maurino, um dos líderes do movimento. Um grupo menor, mais exaltado, não concordou com o fim da greve e, aos gritos, chamou as lideranças do movimento de covardes.

Polícia Civil estava fazendo o papel da PM. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press
Polícia Civil estava fazendo o papel da PM. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press

Entre as propostas apresentadas pelo governo está a criação da lei de planos de cargos e carreiras. “A cada cinco anos, haverá promoção para os praças. Uma comissão na Assembleia começará a avaliar as promoções na próxima segunda-feira”, garantiu Joel Maurino. A discussão do aumento salarial para os praças e os oficiais ficou para janeiro de 2015. No próximo mês, eles receberão reajuste de 14,55%, já previsto desde 2011. “Na primeira semana voltaremos às ruas para cobrar. Por enquanto, por conta do ano eleitoral, não podemos ter a certeza do aumento”, completou Maurino.

Leia cobertura completa sobre os problemas ocorridos nos dois dias de greve na edição do Diario de Pernambuco desta sexta-feira.