Depois dos recorrentes episódios de assaltos ocorridos na Avenida Agamenon Magalhães, um dos principais corredores viários do Recife, e de várias promessas de reforço no policiamento, a Polícia Militar falará nesta quarta-feira, em entrevista coletiva, qual será a nova estratégia de segurança para a avenida. A apresentação será feita no auditório térreo do Quartel do Comando Geral, no Derby, a partir das 10h, e contará com a participação do diretor Integrado Metropolitano, coronel Ricardo Barbosa; do comandante do 16º BPM, tenente coronel Silvestre Dantas; e do comandante do 13º BPM, tenente coronel Daniel Dias.
Motoristas que trafegam nos dois sentidos da avenida relatam constantemente roubos praticados ao longo da via por falsos vendedores de pipoca. O problema não é novo e tem deixado muita gente assustada. Além disso, os vendedores que estão na via para trabalhar e sustentar suas famílias também são prejudicados pelos criminosos que estão infiltrados no meio deles. Condutores de todas as idades temem parar nos semáforos da avenida e até de ruas adjacentes. Espera-se que agora a Polícia Militar consiga garantir um pouco mais de segurança na localidade. No entanto, esse não é o único ponto do Grande Recife e do estado de Pernambuco que está precisando de mais atenção.
Em janeiro deste ano, a Polícia Militar anunciou que passaria a recolher os dados de vendedores ambulantes que circulam pela Avenida Agamenon Magalhães para ajudar a identificar suspeitos de assaltos na região. Os policiais irião consultar vendedores, solicitando nome, telefone, endereço e identidade. O objetivo era criar uma rede para facilitar o direcionamento das rondas. Será que esse trabalho foi realizado?
Andar de carro à noite pelas ruas da Região Metropolitana do Recife (RMR) tem causado pânico em muita gente. E não é para menos. Os recorrentes casos de assaltos praticados em sinais de trânsito é apenas um dos motivos que assustam motoristas e passageiros. Cada vez mais, medidas de segurança estão sendo adotadas pela população para tentar escapar da violência. Ponto de ligação entre as zonas Oeste e Sul do Recife e que livra condutores de engarrafamentos, a Ponte Gregório Bezerra e toda a região do bairro de Joana Bezerra virou sinônimo de medo. Um lugar por onde poucos se arriscam em passar. Seja de dia ou à noite.
Na madrugada da última segunda-feira, o motorista Esron Messias de Santana Júnior, 36 anos, foi assassinado quando tentou fugir de um assalto nesse trecho. Ele estava com a esposa quando três homens queriam assaltá-los. Esron foi baleado na cabeça e capotou com carro. Sua esposa teve ferimentos leves. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando o crime. Até agora, um suspeito foi preso e os outros dois já estão identificados.
Quem precisa cruzar as vias que cortam a Ilha Joana Bezerra, na área central do Recife, não descuida da segurança. O medo é o principal companheiro de viagem das pessoas que precisam, por exemplo, chegar ao Fórum Rodolfo Aureliano, localizado entre os viadutos Capitão Temudo e Papa João Paulo II. A advogada Isabelle Menezes, 42 anos, vai ao fórum com frequencia, mas revela que toma cuidados no trajeto. “Sei que essa área é bastante complicada e insegura. Todas as vezes que venho ao fórum, evito passar pelos lugares mais esquisitos e não demoro para descer e entrar no carro. Faço tudo o mais rápido possível. Já presenciei cenas de roubos em cima do viaduto quando os carros estavam presos num engarrafamento”, contou a advogada.
A morte do motorista Esron Messias de Santana Júnior, na última segunda-feira, acendeu o alerta novamente para motoristas que trafegam na região. E o medo não se restringe à travessia da Ponte Gregório Bezerra. Após a publicação do crime nas redes sociais do Diario, centenas de leitores relataram casos que vivenciaram ou presenciaram em pontos da Ilha Joana Bezerra. O médico Carlos Esdras relatou que “nessa região, depois das 20h, nem polícia tem coragem de passar.” Já a leitora Fabyolla Tavares contou que foi vítima recentemente na mesma localidade. “Fui assaltada este mês, por volta do meio dia, nessa área. Os bandidos apontaram uma arma para mim e entreguei meu celular e minha aliança. De dia ou à noite, é melhor mudar o caminho, já que o policiamento não está mais presente”, relatou.
O motorista que opta por chegar à Zona Sul cortando caminho pela Ilha Joana Bezerra, para escapar do engarrafamento no bairro do Paissandu e do final da Avenida Agamenon Magalhães, precisa fazer um retorno em Joana Bezerra para ter acesso ao Viaduto Capitão Temudo. Também entram na rota do medo a Ponte Joaquim Cardoso, que liga o Coque à comunidade dos Coelhos e o pontilhão que leva motoristas em direção à Rua Imperial ou à Avenida Sul. “Toda essa região está muito perigosa. Os relatos de assaltos não param. Na semana passada, um colega meu foi assaltado quando havia acabado de descer do carro. Um rapaz simulando estar armado o abordou e levou os pertences dele”, declarou a advogada Maria Laura Sangerman, 23.
O advogado Harleyson Sobreira, 43, além de frequentar o Fórum Rodolfo Aureliano constantemente, contou que costuma cortar caminho para casa quando está voltando da Zona Sul. Apesar de nunca ter sido vítima ou presenciado nenhuma ação violenta, ele disse que passará a ter mais cuidado. “Já fiz esse percurso à noite várias vezes, inclusive com minha família. Meus amigos sempre dizem que eu não devo fazer isso, mas eu nunca havia ficado sabendo de algo grave nessa área. E nas vezes em que passei por aqui em horários da noite, esperava sempre outro carro ou um ônibus para não ser o único veículo trafegando”, explicou Harleyson.
Resposta
Diante das queixas de motoristas, que alegam falta de policiamento no local, a Polícia Militar disse que existem viaturas fazendo rondas 24 horas por dia na região da Ilha Joana Bezerra. De acordo com o capitão Diogo Racticliss, comandante da 2ª Companhia do 16º Batalhão, responsável pelo policiamento na localidade, blitze são realizadas com frequência nos pontos considerados críticos dentro da Ilha Joana Bezerra. “Temos recebido informações de assaltos na área, mas o policiamento está presente durante o dia e também nos horários da noite e madrugada. Além das viaturas do Gati e da Patrulha do Bairro, contamos com uma viatura de apoio com mais quatro policiais militares. Todos esses profissionais fazem abordagens nas proximidades da Ponte Gregório Bezerra e também na chamada curva do S, que leva os motoristas em direção ao bairro de Boa Viagem”, detalhou o capitão.
Os motoristas profissionais de todo o Brasil terão que fazer exames toxicológicos de larga janela de detecção, em cumprimento à deliberação 145, de dezembro de 2015, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Conhecido como teste do cabelo, esse exame permite identificar o uso de drogas por um período de, pelo menos, 90 dias antes da coleta. A medida foi aprovada nessa quarta-feira (2).
Na avaliação do coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, trata-se de uma medida “extraordinária”. “É a primeira medida que se toma no país desde 1998, quando entrou em vigor o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Não havia nenhuma medida para combater o uso de drogas por quem dirige de forma profissional”, disse. Ele destacou que o exame não visa à fiscalização, mas à prevenção.
Autor do estudo “As drogas e os motoristas profissionais”, Rizzotto informou que, nos Estados Unidos, as próprias empresas tiveram, há dez anos, a iniciativa de fazer o teste do cabelo e conseguiram praticamente zerar os acidentes envolvendo motoristas sob efeito de drogas. Naquele país, o teste de urina é obrigatório há 30 anos, mas apresenta detecção de menor número de dias.
Rizzotto ressaltou a importância da medida para a saúde dos motoristas, porque “quem é usuário de drogas vai ter que parar e, se for dependente, vai ter que buscar um tratamento. É importante, do ponto de vista de saúde pública”, afirmou. Em termos de segurança, a medida é importante, porque vai diminuir os acidentes. O teste vai beneficiar toda a população brasileira, porque é exigido também dos motoristas de ônibus, de vans e de transporte escolar.”
Exames clínicos feitos em caminhoneiros brasileiros voluntários que transportam as chamadas cargas de horário, do tipo perecível, mostraram que chega a 50% o número de motoristas que fazem uso de drogas. Desse total, 80% já são dependentes químicos e necessitam de tratamento, disse Rizzotto. Ele afirmou que muitos motoristas entram nas drogas porque são explorados, começam a usar rebite (droga sintética produzida em laboratório) e, atualmente, cocaína; enquanto outros são “irresponsáveis”.
O coordenador do SOS Estradas disse acreditar que o teste do cabelo vai ajudar também a combater a concorrência desleal. “Porque aquele que não usa drogas não aceita fazer determinadas viagens.” Se um motorista faz, em 22 horas, por exemplo, uma viagem que dura normalmente 30 horas, “é porque o cara não vai dormir”, explicou. No fundo, ele está baixando o valor do frete e trabalhando em condições sub-humanas. Para ele, que a transportadora, se for uma empresa séria, e não explorar o empregado, também não vai aceitar determinados tipos de carga, nem condições adversas de transporte.
Nesse domingo, o Diario de Pernambuco publicou uma matéria feita por mim e pelo fotógrafo Paulo Paiva que conta as histórias dos passageiros, cobradores e motoristas que usam e trabalham nas linhas de coletivo que circulam no horário do bacurau.
Abaixo seguem o vídeo e o link da reportagem que está publicada no portal Diariodepernambuco.com.br, onde as pessoas falam dos perigos encontrados nesse horário. Confira.
Assista ao vídeo:
Leia a matéria:
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2013/11/23/interna_vidaurbana,475380/onibus-bacuraus-acumulam-quilometros-de-historias-nas-noites-do-recife.shtml