A delação premiada foi um dos principais trunfos da polícia na investigação sobre a quadrilha que invadiu e roubou dinheiro da transportadora Brinks, em Areias, em fevereiro. Um dos crimes de maior repercussão no estado, a investida levou pânico à Zona Oeste do Recife. Policiais que participaram da ocorrência afirmaram que o bando disparou cerca de dois mil tiros.
Desde o início da operação, a Polícia Civil contou com a cooperação de um dos integrantes da quadrilha, na primeira vez que o recurso foi utilizado em Pernambuco em um caso de associação criminosa de grande porte. As investigações levaram às prisões de cinco criminosos, incluindo Willames Aguiar da Silva, 24 anos, agente de trânsito de Olinda, o líder do grupo.
O bando, desarticulado durante a Operação Durga, tem ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com o delegado João Gustavo Godoy, da Delegacia de Repressão ao Roubo, a atuação do grupo abrange Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas e São Paulo.
O suspeito que fechou delação foi arregimentado pela polícia e entrou em acordo com o Ministério Público de Pernambuco para realizar a colaboração e permanecer infiltrado no grupo. Durante cinco meses ele forneceu informações importantes sobre a ação e provas materiais, como o desenho da base da empresa Brinks e a divisão tática da quadrilha.
Ele deverá receber benefícios como redução da pena ou até extinção da denúncia. “A delação premiada tem diversos benefícios e pode ser negociada como um contrato. É submetida ao Judiciário, que pode homologar ou não. Esse delator preenche todos os requisitos, e nos deu informações que, sem elas jamais chegaríamos à organização criminosa”, explica o procurador da Justiça e coordenador do Grupo de Ação Especial de Combate às Organizações Criminosas, Ricardo Lapenda. O delator pode também requerer medidas cautelares de proteção.
O delegado Godoy não pretende indiciar o delator, pois considera que as informações foram muito mais úteis do que seria sua detenção. “A gente conseguiu captar esse rapaz, que confiou no nosso trabalho e deu informações fundamentais para o desdobramento dessa investigação policial. No meu entendimento, as informações que ele forneceu são tão importantes que no meu relatório eu não irei indiciá-lo”, afirma.
Segundo a polícia, o valor subtraído durante o assalto foi “muito menor” do que os R$ 60 milhões divulgados no início do ano. “O inquérito é robusto de provas e temos diversos volumes que provam a participação de todas essas pessoas. É uma organização nacional, mas a gente conseguiu eliminar e prender o braço pernambucano dessa organização, inclusive um dos líderes, que há tempos vinha sendo investigado, mas a polícia nunca tinha conseguido elementos suficientes para prendê-lo”, destacou Godoy.
Do Diario de Pernambuco