A vida parecia seguir normalmente para uma mulher de 49 anos que passava os dias de forma confortável e morando em um apartamento à beira-mar. No entanto, ela foi presa na última quarta-feira sob a acusação de ter aplicado um golpe milionário contra um casal de idosos o qual ela costumava frequentar a casa e acompanhar o homem, um médico aposentado, para bancos e para resolver outros problemas. Segundo a família do idoso e a polícia, essa mulher falsificou documentos, desviou dinheiro e se apropriou de vários dos bens da família. Usufruiu deles até ser retirada de casa nessa quarta-feira e levada para a Colônia Penal Feminina, onde vai aguardar julgamento.
O caso está estampado nas páginas do Diario de Pernambuco desta quinta-feira e revela um lado perigoso. Devido à correria do dia a dia, muitos filhos e netos não podem, outros não querem mesmo, acompanhar os parentes idosos na hora de resolver questões relativas a dinheiro. E é justamente aí que mora o perigo. Existem quadrilhas especializadas em aplicar esse tipo de golpe. Abusam da confiança de senhores e senhoras de idade para tirar até o último centavo deles se for possível. Se você tiver conhecimento de algum caso parecido, faça uma denúncia através do telefone 3421.9595. O anonimato é garantido.
Veja parte da reportagem publicada no Diario de Pernambuco:
De motorista e auxiliar de um idoso, Marlucy Scalone de Mello, 49 anos, passou à condição de moradora de um edifício de luxo à beira-mar de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, Graças a um golpe que, segundo a polícia, envolveu desvios de dinheiro, ameaças de morte, estelionato, falsificação ideológica e apropriação de apartamentos e fazendas do médico Ascendino do Rego Lins Filho, 82, que morreu há quase sete anos vítima de câncer. Investigações das polícias Civil e Federal resultaram em vários inquéritos, que comprovaram os crimes. Ontem pela manhã, com um pano de seda enrolado na cabeça e com as mãos algemadas, Marlucy deixou o edifício onde vivia com outros familiares, também suspeitos de participação no esquema. Em cumprimento de um mandado de prisão preventiva, ela foi encaminhada à Colônia Penal Feminina do Recife.
Marlucy foi presa. Foto: Arthur Souza/DP/D.A/Press
As investigações apontam que a suspeita se aproveitou da condição do médico, que precisava de uma ajudante para sair de casa, e da mulher dele, que também tinha graves problemas de saúde. Indefesos, eles foram vítimas de consecutivos crimes. O primeiro aconteceu sete meses antes da morte de Espólio. Com documentos falsos, Marlucy deu entrada na Justiça com um pedido de reconhecimento de união estável com ele, alegando que os dois eram solteiros, mas mantinham um relacionamento. Depois disso, conseguiu uma procuração para poder, por exemplo, retirar ou transferir dinheiro da conta bancária da vítima.
Afirmando ter direito por ser “viúva”, a suspeita ainda se apropriou de dois apartamentos (um em Boa Viagem e outro em Itamaracá), e duas fazendas (uma em Igarassu e uma em Itamaracá). “Várias delegacias abriram inquéritos contra a mulher e outros três familiares dela. Um seria sargento da Aeronáutica. As investigações continuam. Conseguimos provar os crimes”, disse o delegado Eronildo Farias.
Com o dinheiro do idoso, ela comprou apartamento neste prédio. Foto: Eduarda Bione/DP/D.A/Press
Confira entrevista com o filho do idoso:
Henrique Sobral Lins, filho da vítima
“Ela alegou ter uma união estável com meu pai”
Como esta mulher surgiu na vida do seu pai?
Ele já estava com uma idade muito avançada, debilitado por cauda do câncer. Meu pai precisava de ajuda para sair de casa e ir ao banco ou supermercado, por exemplo. Ele pagava R$ 20, R$ 30 para que ela o acompanhasse. Como se fosse uma diarista. Pouco tempo antes dele morrer, ela deu entrada na Justiça no reconhecimento de uma união estável com ele. Algo que nunca aconteceu. Ela se aproveitou da condição de saúde da minha mãe, que também estava debilitada. Somente após anos, conseguimos provar na Justiça, sem sombra de dúvidas, que esta mullher não tinha nenhum vinculo afetivo com meu pai. Ela própria entrou em contradições.
Como a família começou a descobrir os golpes que estavam sendo aplicados?
Ela se apropriou de duas fazendas e outros dois apartamentos do meu pai, sob a alegação de que mantinha uma união com ele. Tentamos, várias vezes, falar com ela e com outros três familiares que estavam envolvidos no golpe, mas não tivemos retorno. Por isso, procuramos a Justiça, que nos deu razão. Precisei juntar um verdadeiro dossiê com documentos, fotografias e processos abertos pelas polícias Civil e Federal. Houve transferências bancárias em nome do meu pai que ela conseguiu fazer graças a uma procuração. Queremos que todos os quatro envolvidos sejam punidos. A Justiça vai prevalecer.
Veja matéria completa escrita pelo repórter Raphael Guerra na edição impressa do Diario de Pernambuco desta quinta-feira.