Detentos têm aulas de música no PJALLB

Diante do cenário de caos existente nas unidades prisionais de todo país, e em Pernambuco não é diferente, uma oportunidade de ressocialização pode ajudar a quem quer aprender uma profissão enquanto cumpre sua pena. Um estúdio de música montado no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB), no Complexo do Curado, está oferecendo aulas a 63 detentos da unidade. A iniciativa é da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres).

Detentos têm que ter bom comportamento para fazer aulas. Foto: Márcia Galindo/Seres/Divulgação.

Os presos têm à disposição instrumentos como bateria, violão, contrabaixo, teclado e microfones. Dois reeducandos, com autorização da direção do presídio, ministram as aulas que ocorrem pela manhã e à tarde, de segunda a sexta-feira. O envolvimento no grupo é voluntário, mas para ser inserido no projeto o apenado deve ter bom comportamento, seguindo as regras da unidade prisional.

O detento Gilberto Guaraná, 37 anos, dá aulas de violão aos colegas e não esconde a paixão que tem pela música. “A música é uma arte que liberta a alma e faz com que a gente se ressocialize, enxergue o mundo de uma forma diferente,” conta. Já o detento Solon Henrique, 42, diz que o estúdio é seu lugar preferido no presídio. “É um lugar que a gente fala de cultura e que nos faz interagir de forma pacífica, falando a linguagem da música, ocupando a mente, abrindo os horizontes e nos dando perspectivas de vida”, frisa o músico que cumpre pena há nove anos.

Para o supervisor de Laborterapia e Apoio Pedagógico, Euclides Ferreira, que monitora as aulas e ensaios musicais “o projeto vai além dos muros do presídio porque oferece novas perspectivas de vida aos reeducandos” destaca. “Vemos futuro nos detentos, um acréscimo cultural, espiritual e profissional”, finaliza Ferreira, que também é agente penitenciário.

Com informações da assessoria de imprensa da Seres

Entre golpes, gols e notas musicais

Veja algumas das oficinas oferecidas por policiais militares a moradores de vários bairros da Zona Norte do Recife através do projeto Amigos do 11º Batalhão. O trabalho tem o objetivo de tirar crianças e adolescentes das ruas e afastá-los da criminalidade.

Aulas de jiu-jítsu para quem não fazia nada

Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP
Fotos: Peu Ricardo/Esp/DP

Há quatro meses, o estudante Rafael Vicente de Oliveira, 14 anos, conheceu um mundo diferente. Aluno no 9º ano, ele entrou para a turma de jiu-jítsu – arte marcial japonesa aperfeiçoada no Brasil – que treina na Escola Estadual Lions de Parnamirim, onde também estuda. “Antes de entrar para o jiu-jítsu, eu ficava em casa sem fazer nada. Agora estamos eu e meu irmão treinando e eu penso em me tornar lutador profissional. Às vezes, até meu pai treina com a gente em casa”, confessou Rafael.

Assim como ele, o irmão Emanuel Alexandre de Oliveira, 16, não falta a uma aula. Vestidos com quimono, os garotos se juntam a outros moradores dos bairros de Dois Irmãos e Sítio dos Pintos para aprender a arte macial fora do horário de estudo. As aulas acontecem todas as segundas e quintas-feiras na quadra da escola. O espaço foi cedido pelo diretor da unidade de ensino, Nelson Alves.

O responsável pelas aulas e orientações dadas aos garotos é o soldado da Polícia Militar Evaldo Bahia. “Treino jiu-jítsu há 20 anos e também dou aulas em alguns lugares. No projeto Amigos do 11º BPM estou há um ano. Esse é um trabalho muito importante, pois no tempo livre dos meninos eles praticam atividades e isso evita que caiam na criminalidade”, destacou Bahia. Ainda segundo o professor, crianças a partir dos 10 anos, alunos ou não da escola, podem fazer a inscrição de maneira gratuita para participar das aulas.

Juan França, 12 anos, não pensou duas vezes quando viu outros garotos da escola fazendo as aulas de jiu-jítsu. “É muito legal fazer parte desse projeto. Antigamente eu ficava pela rua no horário da manhã. Agora, duas vezes na semana, estou treinando. O professor passa todas as orientações para a gente. Depois que assisti à Olimpíada, fiquei com vontade de ser lutador”, disse o estudante do 6º ano. Para o diretor da escola, Nelson Alves, a parceria com a Polícia Militar é importante para o desenvolvimento dos alunos.

Uma bola no pé e alguns sonhos na cabeça

O campo do Barreirão, em Dois Unidos, virou ponto de encontro de adolescentes e adultos nas tardes de terça-feira. O bairro onde a violência já foi marca registrada hoje recebe aulas semanais. O objetivo é levar lazer e esporte à população da localidade. Dos 32 mil habitantes de Dois Unidos, segundo dados do Censo de 2010, 48% são do sexo masculino, o mais facilmente recrutado pelo mundo do crime. Ainda de acordo com o Censo, 12 mil moradores de Dois Unidos têm entre 5 e 24 anos, onde está inserida a faixa etária que mais morre vítima de violência.

A partir das 14h, o soldado da Polícia Militar Leonardo Souza começa as atividades no Barreirão. “Estamos com o projeto aqui há três meses e muita gente tem procurado para fazer inscrições. Antes de iniciar as partidas, os meninos fazem aquecimento e dividimos os jogos em dois grupos. No primeiro, jogam os garotos mais novos. Os mais velhos entram em campo na segunda partida”, detalhou Souza. No dia em que a reportagem acompanhava o treino, o time ganhou duas bolas de futebol novas, frutos de doações. “Muita gente da comunidade e até de outros lugares colaboram fazendo doações para o projeto. Isso é muito bom para o nosso trabalho”, completou o sargento Amiel Alcântara.

O sonho de ser jogador de futebol faz parte do imaginário de muitos meninos e adolescentes pernambucanos. O estudante Luciano Apolinário da Silva, 14 anos, é um deles. Morador do bairro da Linha do Tiro, ele sai de casa toda terça-feira para jogar bola no campo do bairro vizinho. “Gosto muito de jogar aqui. Também é bom porque o treinador é um policial militar e a gente sabe que nada de errado vai acontecer enquanto a gente estiver procurando ocupar nosso tempo”, ressaltou. O também estudante Erick Cleidson Silva, 14, sonha em jogar num grande time do futebol pernambucano. “É importante esse projeto porque tira a gente da rua. Estou me dedicando para realizar meu sonho de ser jogador”, contou Erick.

Taekwondo colhe primeiros resultados

A doméstica Maria Rita dos Santos, 36 anos, está mais aliviada desde que seu filho adolescente passou a frequentar as aulas de taekwondo, arte marcial de origem coreana, que fazem parte do projeto Amigos do 11º BPM. O estudante João Marcos dos Santos, 16 anos, estuda à noite e costumava passar as manhãs e tardes jogando futebol ou sem outras atividades para fazer. Agora, ele é um dos alunos que se encontram todas as quartas-feiras pela manhã no espaço cedido por um morador da Rua do Canal, no bairro da Macaxeira.

“Achei uma maravilha meu filho participar da atividade de luta, assim ele fica longe das coisas erradas. Além do taekwondo, ele está jogando futebol e estudando à noite”, comentou a doméstica, que faz questão de acompanhar o treino.

As aulas que acontecem das 8h às 12h para meninos e meninas são ministradas pelo soldado da PM Emerson Martins. “O projeto por aqui é recente, mas está atraindo muita gente. Nosso objetivo é fazer com que as crianças e adolescentes das comunidades não fiquem ociosos. Alguns alunos já estão até participando de campeonatos. Para entrar nas aulas, os garotos e as garotas precisam estar estudando. Assim é possível tirar as crianças da criminalidade e trazê-las para a disciplina”, apontou Martins. Os treinos acontecem numa área da casa do aposentado Reginaldo Israel de França, 78. “Esse trabalho é muito importante para a nossa comunidade, por isso resolvi apoiar”, destacou.

O estudante João Marcos está animado com as aulas de taekwondo. “Esse tempo que passamos aqui é muito valioso. Ficamos longe das coisas erradas estamos aprendendo um esporte. Além disso, ainda jogo futebol e estudo à noite”, destacou o adolescente. Também aos 16 anos, o estudante João Vitor Aguiar fez a sua segunda aula na semana passada. Foi incentivado por colegas. “Além de ter visto as lutas na televisão, meus amigos entraram e disseram que era legal. Agora que comecei estão gostando muito e quero ser lutador”, revelou Vitor.

Aprendendo e ensinando os primeiros acordes

É de uma sala ao lado da igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Alto da Foice, bairro do Vasco da Gama, que ecoam sons para o futuro. É lá que o soldado Moisés Costa, integrante do projeto Amigos do 11º BPM, ministra suas aulas de instrumentos musicais e canto. Uma faixa colocada na frente do prédio faz o convite aos moradores da localidade para participarem. Uma média de 30 alunos já está inscrita para as aulas que acontecem todas as quartas-feiras pela manhã. “Temos alunos de várias idades e aqueles que já estão mais avançados acabaram virando monitores e me ajudam durante as aulas”, destacou Moisés.

Falantes e alegres, as estudantes Dayane Larissa da Silva, 10 anos, Bruna Viviane da Conceição, 9, e Taylane Lys Lima, 10, estão animadas com as aulas de violão. Apesar de terem sonhos de seguirem outras carreiras quando terminarem os estudos, as três amigas acham importante aprender a cantar e tocar o instrumento de cordas. “Gosto muito de cantar, por isso me interessei”, respondeu Larissa, que pretende ser atriz. Já Bruna disse que vai ser médica. “Mas gosto de cantar também”, completou. Taylane escolheu para seu futuro ser advogada ou juíza. “Vou estudar muito para realizar meu sonho”, declarou.

Enquanto ainda estão um pouco longe de concretizar seus desejos, elas vão aproveitando as aulas de percussão, bateria, teclado, violão e canto. Quem ajuda a fazer as inscrições dos jovens e acompanha as aulas é o líder comunitário Fábio da Silva. “É uma oportunidade para eles terem um curso gratuito e ocuparem o tempo livre enquanto não estão na escola. Além disso, são preparados para o futuro”, ressaltou Fábio. O produtor de eventos Valter de Oliveira tem 31 anos e já é baterista profissional. Entrou no projeto para aprender a tocar teclado. O filho dele, Valter Santos, de 11 anos, acompanha o pai nas aulas. “É um incentivo para tirar as crianças das ruas e das drogas”, comentou.

Confira o vídeo com entrevistas sobre o projeto

PMs ensinam música a crianças carentes da Estância

Nem só de repressão e fiscalização é feito o cotidiano de um policial militar. Uma turma de crianças carentes da comunidade do Iraque, no bairro da Estância, Recife, está descobrindo um mundo novo através da música. Conheça um pouco do trabalho realizado por esses militares na matéria abaixo.

Por Marcionila Teixeira

Do Diario de Pernambuco

São 54 pares de olhos vidrados no quadro verde repleto de notas musicais escritas à giz. Na sala de aula montada nos fundos da Igreja Santa Luzia, na Estância, Zona Oeste do Recife, crianças e adolescentes aprendem muito mais que música. Descobrem, pouco a pouco, que qualquer que seja a história, ela nunca tem apenas uma versão. Foi assim que um dia meninos e meninas da Favela do Iraque, no mesmo bairro, perceberam que polícia não é sinônimo de violência, armas ou prisão. No imaginário infantil dos alunos, homens fardados também são capazes de fazer brotar emoção em meio a uma aula de música para iniciantes.

No começo eram 60 pessoas, com idades variando entre 7 e 16 anos. Restaram 54. Na insistência para dominar a flauta, eles já conseguem tocar afinado Asa Branca, de Luiz Gonzaga. E isso é só o começo. O projeto Polícia Militar de Pernambuco policiar, musicalizar e proporcionar expectativas nasceu no Morro do Bom Jesus, Caruaru, deu frutos e agora aportou no Iraque. O lugar que as crianças aprenderam a amar, mas onde faltam coleta de lixo e calçamento, começa a revelar talentos da música. As aulas começaram em 27 de setembro e acontecem nas segundas, quartas e sextas-feiras, nos horários da manhã e da tarde. Somente são possíveis porque músicos da Banda da PM aceitaram repassar de forma voluntária a arte que dominam para os meninos e meninas nos momentos em que estão de folga da corporação.

Crianças atentas às aulas de música. Foto: Bruna Monteiro/DP/D.A/Press

Uma outra participação essencial foi a do pessoal da Academia de Música de Pernambuco, que mantêm o espaço na igreja e cedeu parte dele para a iniciativa da PM. “Música mexe com a emoção e com a sensibilidade. Além disso, se não cursarem a faculdade um dia, poderão trabalhar com a música que aprenderam aqui”, elogia Valquíria de Alcântara, 46 anos, mãe de dois alunos da escola. O projeto foi idealizado pelo coronel Gilmar de Oliveira, coordenador de Polícia Militar Comunitária, que trabalhou como comandante de batalhão na região englobada pelo Iraque entre os anos de 2009 e 2010. “Imagine que cuidávamos de uma área formada por 54 comunidades distribuídas em 24 bairros. Prendi muita gente, principalmente com envolvimento em tráfico de drogas”, lembra o oficial. Ele conta que desde o início da iniciativa, não há registro de violência na área.

A diferença dessa ação para outras que também tentam levar cidadania às pessoas através da música é que as crianças não passam por uma seleção.  “Não fazemos escolha entre os que estudam e os que não estudam. Qualquer um que esteja nessa idade pode participar. Na verdade, nossa intenção é atrair exatamente os que não mostram interesse pelos estudos para resgatá-los”, diz Gilmar.