Cidades seguem reféns de ataques a bancos no interior de Pernambuco

Medo. A palavra resume a rotina de moradores e funcionários de bancos do interior pernambucano. Com armas utilizadas pelos exércitos brasileiro e norte-americano, e explosivos, grupos criminosos levam pânico a municípios afastados dos grandes centros urbanos, num fenômeno classificado por alguns como “novo cangaço”. As ações, cada vez mais ousadas, seguem um padrão. Os assaltantes chegam em grande número, detonam caixas eletrônicos e cofres de bancos, atiram contra delegacias e destacamentos da Polícia Militar, espalham grampos pela estrada para dificultar a perseguição policial e fogem, na maior parte das vezes, levando altas quantias em dinheiro.

Destruição no Banco do Brasil de Riacho das Almas aconteceu há nove meses. Fotos: Ricardo Fernandes/DP
Destruição no Banco do Brasil de Riacho das Almas aconteceu há nove meses. Fotos: Ricardo Fernandes/DP

Para tentar barrar a onda, foi criada, em julho, a Força-tarefa de Repressão aos Crimes de Roubo e Furto contra Instituições Financeiras, formada pelas polícias Federal, Civil e Militar. De acordo com a Polícia Civil, de janeiro a novembro foram desarticuladas 13 quadrilhas de crimes contra bancos e 88 pessoas foram presas. O chefe da Civil, delegado Antônio Barros, aumentou de três para sete o número de equipes responsáveis pelas investigações.

Muitas cidades estão sem atendimento em agências. Para receber salários e aposentadorias, moradores precisam se deslocar a outros municípios. Um exemplo é Riacho das Almas, no Agreste do estado, a 103 km da capital. O blog esteve no município onde a agência do Banco do Brasil, que já estava sem funcionar há nove meses, teve o fechamento definitivo anunciado em novembro. Cinco das nove cidades pernambucanas que tiveram agências do BB convertidas em postos já não contavam mais com os serviços por causa de ataques com explosivos. Segundo o banco, o fator não foi considerado na reorganização nacional, que teria levado em conta apenas questões como eficiência operacional e a proximidade entre agências.

Comércio em Riacho das Almas foi prejudicado com fechamento do Banco do Brasil
Comércio em Riacho das Almas foi prejudicado com fechamento do Banco do Brasil

Agonia também para quem mora no Sertão. Uma comerciante de Triunfo (355 km da capital), que preferiu não ter o nome publicado, diz que a cidade tem ficado desabastecida. “Por causa das explosões, os caixas eletrônicos ficam sem dinheiro durante os fins de semana e também à noite. Somente na agência do Banco do Brasil houve explosões duas vezes em um mês”, conta.

Estado tenta frear escalada de crimes

Após aumentar o número de equipes voltadas a elucidar crimes contra agências bancárias e prender suspeitos, a Polícia Civil pernambucana busca reforçar o trabalho conjunto com as polícias Federal e Militar, além das autoridades de segurança de outros estados.

“Até o fim de outubro, vínhamos trabalhando com três equipes para investigar os assaltos e as explosões a bancos e caixas eletrônicos, além dos roubos a carros-fortes. Agora são sete. Essas investigações são complexas e demandam tempo. Estamos tratando com o crime organizado”, comenta o chefe da Polícia Civil, Antônio Barros.

Ele ressalta que a maioria das quadrilhas vem de fora do estado. “Temos feito ações integradas com a PM e com a Federal. A interlocução com outros estados está cada vez melhor. Prisões, a gente já vinha fazendo, mas agora vamos aumentar esses números para devolver a tranquilidade à população do estado”, destaca Barros.

Além dos três delegados da Delegacia de Repressão ao Roubo, do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), outros quatro investigadores e suas equipes estão dedicados a esse tipo de trabalho. Compõem o grupo dois delegados responsáveis pela Zona da Mata e Agreste, e dois que atuam no Sertão. Todas as equipes estão recebendo suporte do serviço de inteligência da SDS e da Polícia Civil, num trabalho coordenado diretamente pela chefia da polícia.

“Sabemos que cidades pequenas, com cerca de 20 mil habitantes, têm certa fragilidade na segurança e acabam sendo alvos fáceis. Também sabemos que esses grupos de fora de Pernambuco usam armas de guerra. Já prendemos  pessoas do Sudeste que agiam aqui. Mas não concordo quando dizem que se trata de novo cangaço. É crime organizado. Temos que enfrentar com seriedade as quadrilhas”, ressalta o chefe da Polícia Civil.

Bancários cobram segurança

O aumento nas investidas contra instituições financeiras tem preocupado representantes do Sindicato dos Bancários. Não é de hoje que a instituição faz alertas sobre a fragilidade das agências e cobra ação das polícias. O diretor de assuntos jurídicos do sindicato, João Rufino Filho, ressalta a importância da participação do Exército nas investigações dos casos com uso de explosivos. “É fundamental o apoio para saber de onde estão vindo esses explosivos e armamentos pesados.”

Segundo Rufino, é preocupante a situação das cidades que estão recebendo moradores de outros locais para usar os serviços bancários. “Há municípios que recebem pessoas de cinco ou seis cidades vizinhas. Isso também é um risco. Clientes e funcionários estão cada vez mais expostos. Atividade bancária hoje é uma rotina de medo”, aponta Rufino.

O diretor jurídico afirma que as quadrilhas são bastante organizadas. “Não concordo quando as pessoas usam o termo ‘novo cangaço’. Esses assaltantes fazem parte do crime organizado, são de quadrilhas especializadas e usam equipamentos de guerra. Têm armas que alguns policiais nunca viram”, destaca.

Em entrevista coletiva concedida no dia 28 de novembro, o delegado titular de Roubos e Furtos, Paulo Berenguer, informou que a Polícia Civil contará com a participação do Exército nas operações da Força-tarefa. “O Exército já está integrado e vai colaborar no sentido de identificar e  rastrear os explosivos, que são atividades controladas por eles, além de ministrar cursos para os nossos policiais, para que eles tenham uma intimidade maior com os explosivos que são utilizados nessas ações”, explicou o investigador.

Presos suspeitos de sequestrar e estuprar duas paraibanas

Dois homens foram presos pela Polícia Civil da Paraíba suspeitos de sequestrarem e estuprarem duas mulheres no último dia 20, no bairro dos Bancários, em João Pessoa, na Paraíba. Uma das vítimas morreu após a violência. Os suspeitos foram apresentados pela polícia paraíbana na tarde desta terça-feira em entrevista coletiva, na cidade de João Pessoa.

Foto: Blog Anderson Pereira/Cortesia
Carro foi encontrado em Pedras de Fogo: Foto: Blog Anderson Pereira/Cortesia

As vítimas foram a dona de casa Glória Silva, 42 anos, que morreu no local, e sua amiga Caroline Teles, 31, que segue internada no Recife. Elas foram abordadas pelos bandidos na capital paraibana e encontradas por trabalhadores na Zona Rural de Goiana, na manhã do dia 21. Caroline teve perda de memória e não tem previsão de alta médica. O filho dela, de nove meses, foi encontrado em um matagal. A criança foi medicada e passa bem. O carro onde as vítimas foram levadas foi encontrado em um canavial no municípío de Pedras de Fogo, na Paraíba, dois dias após o crime.

Imagens podem revelar criminosos que estupraram mulheres

Câmeras de prédios comerciais e residências do bairro dos Bancários, em João Pessoa, poderão ajudar a polícia a identificar os dois homens que sequestraram, estupraram e atropelaram a dona de casa Glória Silva, 42 anos, e sua amiga Caroline Teles, 31. As vítimas foram abordadas pelos bandidos na capital paraibana, na noite do sábado, e encontradas por trabalhadores na zona rural de Goiana, na manhã do domingo. Glória não resistiu aos ferimentos. Caroline segue internada em um hospital no Recife. O filho dela, de nove meses, foi encontrado em um matagal. A criança foi medicada e passa bem.

Foto: Blog Anderson Pereira/Cortesia
Foto: Blog Anderson Pereira/Cortesia

Ontem à tarde, o carro onde as vítimas foram levadas foi encontrado em um canavial no municípío de Pedras de Fogo, na Paraíba. Também ontem, o corpo de Glória seguiu para Salvador, na Bahia, onde deve ser sepultado hoje.

Segundo o superintendente de Polícia Civil da Região Metropolitana de João Pessoa, Marcos Paulo Vilela, a perícia comprovou que o carro localizado foi o usado na ação criminosa. O Siena pertencente ao marido de Caroline, estava carbonizado. “Nossos investigadores já refizeram o provável trajeto e solicitaram as imagens de câmeras localizadas próximo ao local da abordagem, no bairro dos Bancários. Estamos com três delegados neste caso, que por enquanto está sendo tratado como latrocínio (assalto seguido de morte)”, ressaltou Vilela. Uma equipe da Polícia Civil de Pernambuco dá apoio.

A abordagem aconteceu por volta das 20h do sábado. As vítimas estavam no carro quando dois homens chegaram de moto e um deles entrou no veículo. “Apesar de muito debilitada e emocionada, Caroline contou que os criminosos eram violentos. Vamos precisar ouvi-la para saber mais detalhes”, completou Vilela. Caroline sofreu fraturas na clavícula e costela.

Promessa de mais segurança nas agências de banco

A queda de braço entre o Ministério Público de Pernambuco e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) chegou ao fim após quase um ano e meio de cobranças por mais segurança, incluindo até a interdição de agências que não cumpriam as leis municipais. Um acordo inédito no país entre os órgãos e o governo do estado foi assinado ontem, garantindo o cumprimento de medidas como instalação de câmeras, vigilância armada e com colete de proteção. Outras ações pontuais foram anunciadas para fortalecer o Pacto pela Vida, que, na semana passada, completou seis anos. O programa garantiu a Pernambuco uma premiação da Organização das Nações Unidas (ONU) na categoria Modelo de Gestão.

Investidas têm sido frequentes na RMR. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Investidas têm sido frequentes na RMR. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

Inicialmente, o reforço na segurança contemplará os municípios do Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. Cada órgão terá uma função nesse acordo. A Febraban entra com o investimento financeiro e o cumprimento de todas as medidas listadas. A Secreteria de Defesa Social fará o monitoramento das câmeras externas instaladas nas imediações dos estebelecimentos. Já as prefeituras terão papel de fiscalizar e fazer uma verdadeira limpeza nas proximidades, retirando bancas de revista, fiteiros e bares. “Marginais se escondem nas imediações desses locais para fazer ‘saidinhas de banco’ e o próprio ataque a caixas eletrônicos”, pontuou o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio.

No ano passado, segundo a Febraban, 29 assaltos a bancos foram registrados no estado, dez deles no Recife. “A atuação do Ministério Público incluiu a interdição de 12 agências bancárias. A parceria representa uma contribuição ao Pacto pela Vida e vai garantir a redução dos assaltos”, afirmou o promotor do Consumidor, Ricardo Coelho. Anualmente, segundo a Febraban, são gastos R$ 9 bilhões na segurança das agências. “Essa parceria é uma demonstração de que os bancos reconhecem o interesse legítimo que os sindicatos têm na integridade física e na segurança dos funcionários”, explicou o presidente da Febraban, Murilo Portugal.

As agências terão 90 dias para começar a se adaptar às exigências, que devem ser concluídas em um ano.  A presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Jaqueline Melo, comemorou o avanço, mas destacou que a luta continua para a implementação de outros itens de segurança, como vidros blindados dentro dos estabelecimentos. Em 2012, as saidinhas de banco resultaram na morte de 57 pessoas no  país.

Do Diario de Pernambuco

Por Raphael Guerra