Diante do aumento desenfreado das investidas criminosas contra agências bancárias no interior do estado, muitas instituições financeiras optaram por manter os bancos fechados após as explosões que sofreram. Para tentar reverter esse cenário, que tem prejudicado moradores e comerciantes de municípios pernambucanos, o governo do estado vai apresentar a abertura de um Processo Administrativo com Medida Acautelatória contra cinco bancos, em Pernambuco. Os bancos do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander já foram notificados na manhã desta terça-feira.
O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, e representantes do Procon Pernambuco concedem entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, na sede da SJDH, para apresentar a abertura do processo. Entre outras medidas, o documento exige que as instituições restabeleçam o funcionamento das agências bancárias que não estão em atividade devido às ações criminosas, em especial no interior do estado, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. Em dezembro do ano passado, estive na cidade de Riacho das Almas para retratar o drama dos moradores do município que estavam sem agência do Banco do Brasil.
Medo. A palavra resume a rotina de moradores e funcionários de bancos do interior pernambucano. Com armas utilizadas pelos exércitos brasileiro e norte-americano, e explosivos, grupos criminosos levam pânico a municípios afastados dos grandes centros urbanos, num fenômeno classificado por alguns como “novo cangaço”. As ações, cada vez mais ousadas, seguem um padrão. Os assaltantes chegam em grande número, detonam caixas eletrônicos e cofres de bancos, atiram contra delegacias e destacamentos da Polícia Militar, espalham grampos pela estrada para dificultar a perseguição policial e fogem, na maior parte das vezes, levando altas quantias em dinheiro.
Para tentar barrar a onda, foi criada, em julho, a Força-tarefa de Repressão aos Crimes de Roubo e Furto contra Instituições Financeiras, formada pelas polícias Federal, Civil e Militar. De acordo com a Polícia Civil, de janeiro a novembro foram desarticuladas 13 quadrilhas de crimes contra bancos e 88 pessoas foram presas. O chefe da Civil, delegado Antônio Barros, aumentou de três para sete o número de equipes responsáveis pelas investigações.
Muitas cidades estão sem atendimento em agências. Para receber salários e aposentadorias, moradores precisam se deslocar a outros municípios. Um exemplo é Riacho das Almas, no Agreste do estado, a 103 km da capital. O blog esteve no município onde a agência do Banco do Brasil, que já estava sem funcionar há nove meses, teve o fechamento definitivo anunciado em novembro. Cinco das nove cidades pernambucanas que tiveram agências do BB convertidas em postos já não contavam mais com os serviços por causa de ataques com explosivos. Segundo o banco, o fator não foi considerado na reorganização nacional, que teria levado em conta apenas questões como eficiência operacional e a proximidade entre agências.
Agonia também para quem mora no Sertão. Uma comerciante de Triunfo (355 km da capital), que preferiu não ter o nome publicado, diz que a cidade tem ficado desabastecida. “Por causa das explosões, os caixas eletrônicos ficam sem dinheiro durante os fins de semana e também à noite. Somente na agência do Banco do Brasil houve explosões duas vezes em um mês”, conta.
Estado tenta frear escalada de crimes
Após aumentar o número de equipes voltadas a elucidar crimes contra agências bancárias e prender suspeitos, a Polícia Civil pernambucana busca reforçar o trabalho conjunto com as polícias Federal e Militar, além das autoridades de segurança de outros estados.
“Até o fim de outubro, vínhamos trabalhando com três equipes para investigar os assaltos e as explosões a bancos e caixas eletrônicos, além dos roubos a carros-fortes. Agora são sete. Essas investigações são complexas e demandam tempo. Estamos tratando com o crime organizado”, comenta o chefe da Polícia Civil, Antônio Barros.
Ele ressalta que a maioria das quadrilhas vem de fora do estado. “Temos feito ações integradas com a PM e com a Federal. A interlocução com outros estados está cada vez melhor. Prisões, a gente já vinha fazendo, mas agora vamos aumentar esses números para devolver a tranquilidade à população do estado”, destaca Barros.
Além dos três delegados da Delegacia de Repressão ao Roubo, do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), outros quatro investigadores e suas equipes estão dedicados a esse tipo de trabalho. Compõem o grupo dois delegados responsáveis pela Zona da Mata e Agreste, e dois que atuam no Sertão. Todas as equipes estão recebendo suporte do serviço de inteligência da SDS e da Polícia Civil, num trabalho coordenado diretamente pela chefia da polícia.
“Sabemos que cidades pequenas, com cerca de 20 mil habitantes, têm certa fragilidade na segurança e acabam sendo alvos fáceis. Também sabemos que esses grupos de fora de Pernambuco usam armas de guerra. Já prendemos pessoas do Sudeste que agiam aqui. Mas não concordo quando dizem que se trata de novo cangaço. É crime organizado. Temos que enfrentar com seriedade as quadrilhas”, ressalta o chefe da Polícia Civil.
Bancários cobram segurança
O aumento nas investidas contra instituições financeiras tem preocupado representantes do Sindicato dos Bancários. Não é de hoje que a instituição faz alertas sobre a fragilidade das agências e cobra ação das polícias. O diretor de assuntos jurídicos do sindicato, João Rufino Filho, ressalta a importância da participação do Exército nas investigações dos casos com uso de explosivos. “É fundamental o apoio para saber de onde estão vindo esses explosivos e armamentos pesados.”
Segundo Rufino, é preocupante a situação das cidades que estão recebendo moradores de outros locais para usar os serviços bancários. “Há municípios que recebem pessoas de cinco ou seis cidades vizinhas. Isso também é um risco. Clientes e funcionários estão cada vez mais expostos. Atividade bancária hoje é uma rotina de medo”, aponta Rufino.
O diretor jurídico afirma que as quadrilhas são bastante organizadas. “Não concordo quando as pessoas usam o termo ‘novo cangaço’. Esses assaltantes fazem parte do crime organizado, são de quadrilhas especializadas e usam equipamentos de guerra. Têm armas que alguns policiais nunca viram”, destaca.
Em entrevista coletiva concedida no dia 28 de novembro, o delegado titular de Roubos e Furtos, Paulo Berenguer, informou que a Polícia Civil contará com a participação do Exército nas operações da Força-tarefa. “O Exército já está integrado e vai colaborar no sentido de identificar e rastrear os explosivos, que são atividades controladas por eles, além de ministrar cursos para os nossos policiais, para que eles tenham uma intimidade maior com os explosivos que são utilizados nessas ações”, explicou o investigador.
Uma melhor comunicação entre os estados do Nordeste e investimentos no setor de inteligência da Polícia Civil. Esses foram os pontos ressaltados pelo chefe da Polícia Civil do estado, delegado Antônio Barros, como solução para tentar barrar a onda de investidas criminosas contra bancos no estado.
Além das ações ocorridas na madrugada de ontem, outros três municípios foram atingidos pelo mesmo problema na madrugada do último domingo. Assaltantes explodiram agências bancárias em Goiana, na Mata Norte, e em Iati e Jataúba, no Agreste. Em ações ousadas, também atiraram contra policiais militares, viaturas e dois prédios da corporação.
O Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri) e a Polícia Federal, no caso da Caixa Econômica, deram início às investigações. No entanto, até o momento, ninguém foi preso. “Precisamos de uma articulação mais forte entre os estados do Nordeste, conversar mais com as polícias da Paraíba, Alagoas e de outros estados para combater esse tipo de crime. Conversamos com o novo secretário de Defesa Social (Angelo Gioia) e ele entendeu que precisa de um incremento na inteligência da Polícia Civil”, comentou Antônio Barros.
Ainda segundo a Polícia Civil, de janeiro a setembro deste ano foram desarticuladas 12 quadrilhas de crimes contra bancos e 80 pessoas foram presas. Nesse mesmo período, a Polícia Civil indiciou 194 envolvidos em roubos a banco e encaminhou 77 inquéritos para a Justiça com autorias definidas.
Não tem dia, nem hora, nem lugar. As investidas criminosas contra as agências bancárias e terminais de caixas eletrônicos estão assustando a população dos municípios do interior do estado e também da Região Metropolitana do Recife. A violência das ações, cada vez mais ousadas, também tem deixado as forças policiais de mãos atadas para resolver o problema. Quase todos os dias, o noticiário pernambucano relata casos de explosões a terminais bancários.
Na semana passada, um grupo formado por cinco homens invadiu, após disparar vários tiros e quebrar as portas de vidro, o prédio da Procuradoria Regional da Fazenda Nacional da 5ª Região, na Avenida Agamenon Magalhães, no Espinheiro. Eles explodiram um caixa eletrônico do Banco do Brasil e levaram todo o dinheiro que havia no equipamento.
Uma Força-tarefa para investigar esses crimes foi criada pelas polícias Federal e Civil. No entanto, as ações ainda não são suficientes para frear as ocorrências. De janeiro a junho deste ano, 55 pessoas foram presas pela Delegacia de Repressão ao Roubo e outras 33 capturadas pela Polícia Federal apenas por envolvimento em crimes relacionados a roubos de bancos ou explosões e arrombamentos a caixas eletrônicos em todo estado.
Dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), indicam que nos primeiros seis meses deste ano Pernambuco registrou 28 casos de roubo ou furto a caixa eletrônico. No mesmo período do ano passado, foram computadas 30 ocorrências no estado.
Na década de 2000, uma onda de assaltos e explosões a carros-forte assolou Pernambuco. Além das investidas praticadas no Grande Recife, quando os carros estavam estacionados perto de bancos ou grandes redes de supermercados, dezenas de abordagens foram registradas na BR-232, que liga a capital ao Agreste e Sertão do estado.
Em alguns casos, os assaltos eram praticados no horário da noite. Atualmente, esse tipo de ocorrência quase não faz parte das estatísticas da SDS. É como se os criminosos tivessem encontrado um jeito mais fácil e menos perigoso de botar a mão em grandes quantias de dinheiro. Nos carros-forte existem seguranças armados. Nos caixas eletrônicos, às vezes, há apenas um ou dois vigilantes.
Quem mora perto dos bancos ou caixas eletrônicos que são alvos dos criminosos vive momento de pânico dentro de casa enquanto as ações estão sendo praticadas. Além dos muitos tiros disparados pelos assaltantes, inclusive com armas de grosso calibre e muito mais potentes que as usadas pelos policiais, os suspeitos ainda deixam encurralados os policiais militares que estão de plantão nos destacamentos. Em muitos crimes, viaturas foram baleadas e tiveram vidros quebrados e pneus furados pelos integrantes dessas quadrilhas. Além disso, em algumas ações, os bandidos espalham grampos no asfalto ao longo do caminho para que os policiais não consigam iniciar uma perseguição.
As ações criminosas costumam dar certo para os assaltantes, no entanto, no dia 10 de julho, quatro deles acabaram mortos após uma tentativa de arrombamento à agência do Banco do Brasil, no município de Buenos Aires, Zona da Mata Norte. O banco chegou a ser invadido por 10 homens que, utilizando maçaricos, começaram a arrombar os caixas eletrônicos quando foram surpreendidos por policiais militares. Houve troca de tiros e três suspeitos morreram no local. O quarto envolvido morreu no Hospital da Restauração. Nenhuma quantia em dinheiro foi levada da agência. Um fato que tem chamado a atenção da polícia são as datas escolhidas pelos criminosos. Geralmente escolhem os primeiros dias do mês, pois sabem que os terminais estarão abastecidos para a realização de pagamentos de salários e aposentadorias.
Os investigadores acreditam que o grupo que vem aterrorizando o interior do estado também possa estar agindo nas cidades do Grande Recife. Há uma suspeita de que sejam de estados vizinhos a Pernambuco e de que utilizem as rodovias federais para fugirem com facilidade. Segundo o assessor de comunicação da Polícia Federal, Giovani Santoro, os assaltantes que cometeram o crime no prédio da Procuradoria Regional da Fazenda usaram os mesmos procedimentos que são feitos no interior do estado. “Eles estavam com armamentos pesados, usaram a mesma logística das investidas do interior, agiram durante a madrugada e estavam em grande número de pessoas. Além disso, usaram artefatos explosivos para destruir o terminal eletrônico”, ressaltou Santoro.
Os dados da SDS revelam ainda que de janeiro a junho deste ano ocorreram dez roubos a bancos contra 18 no mesmo período do ano passado. No entanto, o número de furtos teve um aumento. Em 2015, apenas quatro agências sofreram furtos nos seis primeiros meses do ano. Já no mesmo período deste ano foram computadas 14 ações. Enquanto as autoridades de segurança pública não conseguem encontrar um jeito de barras essas investidas criminosas, as agências bancárias e os caixas eletrônicos seguem como alvos fáceis das quadrilhas de assaltantes.
As quadrilhas de arrombamentos de caixas eletrônicos em Pernambuco continuam desafiando a polícia. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), foram registradas 23 investidas em 2013, contabilizando os casos ocorridos até a sexta-feira passada. Em todo o ano de 2012 foram 32 crimes. O 24º caso deste ano aconteceu no supermercado Pão de Açúcar da Avenida Rosa e Silva, no bairro dos Aflitos, Zona Norte do Recife. Na madrugada dessa segunda-feira, quatro criminosos invadiram o estabelecimento, renderam um vigilante e, com uso de maçaricos, arrombaram um terminal de autoatendimento. A quantia levada não foi revelada. Cerca de dez garrafas de uísque também foram roubadas pelo grupo. Imagens do circuito interno de segurança serão usadas pela polícia tentar identificar os suspeitos.
O gestor do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), José Cláudio Nogueira, explicou que o crescimento dessa prática criminosa não se restringe a Pernambuco. “Todo o Brasil está vivenciando essa onda de quadrilhas especializadas tanto em explosões de caixas eletrônicos, com uso de bananas de dinamites, como arrombamentos com maçaricos”, afirmou Nogueira. Ainda segundo ele, há grupos que também estão furtando os terminais de autoatendimento porque observam facilidades para entrarem nas agências bancárias ou estabelecimentos comerciais. “Mas muitas vezes essas pessoas são bastante despreparadas”, disse.
A quadrilha que agiu no Pão de Açúcar entrou pela porta dos fundos. O segurança, cuja identidade está sendo preservada, foi imobilizado, amarrado em uma cadeira e amordaçado. Sob ameaças de ser morto a tiros, passou mais de uma hora – após a saída dos criminosos -, para se soltar da cadeira e telefonar para a polícia pedindo ajuda. O perito Severino Arruda, do Instituto de Criminalística (IC), informou que duas luvas usadas pelo grupo foram encontradas, provavelmente para evitar que impressões digitais ficassem registradas nos caixas eletrônicos.
Em nota oficial, a assessoria de imprensa do supermercado confirmou o assalto e garantiu que “toma todas as medidas de cautela para evitar situações deste tipo, tais como empresa terceirizada responsável pela segurança do local, controle de entrada e saída dos veículos através de câmeras de monitoramento e equipe treinada para acionar as autoridades competentes mediante qualquer atitude suspeita”.