MPT recomenda que W9! priorize pagamento dos funcionários

O Ministério Público do Trabalho (MPT) recomendou que a agência de eventos W9!, que fechou as portas sem realizar formaturas já contratadas, priorize o pagamento dos funcionários. Ao longo desta semana, a firma tem quitado débitos diretamente com comissões de formatura.

Após protestos, estudantes começaram a ser ressarcidos (RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS)

A procuradora do Trabalho à frente do caso, Janine Miranda, lembrou que essa medida fere a lei, já que créditos trabalhistas têm prioridade sobre os demais. A recomendação foi formulada ontem, após uma audiência com representantes da empresa e dos trabalhadores.

A procuradora disse que também devem ser suspensos pagamentos a fornecedores até que os débitos com os funcionários estejam quitados. Cerca de 40 trabalhadores foram diretamente prejudicados pelo fechamento inesperado da empresa.

A polícia estima que pelo menos 150 turmas foram lesadas também, e que os prejuízos chegam a R$ 10 milhões. Já a empresa afirma que o valor é de R$ 2,7 milhões. O dono da firma, Lídio Gomes, está foragido, já que a Justiça expediu um mandado de prisão por suspeita de estelionato.

Nova audiência

Amanhã, às 14h30, no Ministério Público do Trabalho, a procuradora terá uma nova audiência com a empresa e representantes dos funcionários. Na ocasião, a W9! deverá apresentar o montante preciso das dívidas com trabalhadores e também com os formandos.

O MPT entrou com ação cautelar, no dia 25 de setembro, e a Justiça julgou procedente, bloqueando todos os valores e bens da empresa. Decisão semelhante também foi tomada após ação impetrada pela Justiça estadual. O Diario procurou ontem o advogado da W9!, Jethro Silva Júnior, que não atendeu as ligações.

Empresa W9! promete acertar contas em três semanas

Três semanas. Esse foi prazo máximo dado pelo advogado que representa a W9! Comunicação e Eventos Ltda para pagamento de todas as turmas de formandos que tinham contrato com a empresa. Em coletiva, ontem, Jethro Silva Júnior afirmou que a dívida é de cerca de R$ 2,7 milhões. Anteriormente, a Polícia Civil havia avaliado o débito em R$ 10 milhões. Bens de familiares dos sócios da W9! estão sendo vendidos para pagar a quantia.

Parentes do empresário tiveram reunião com os formandos. Foto: Eliane Nóbrega/DP/D.A Press
Parentes do empresário tiveram reunião com os formandos. Foto: Eliane Nóbrega/DP/D.A Press

Segundo o advogado, há aproximadamente 180 contratos interrompidos. Ontem, a empresa foi reaberta para começar a agendar visitas de representantes das turmas de formandos para a negociação.

“Estamos com dificuldades de acessar extratos bancários e visualizar os pagamentos anteriores feitos pela empresa porque houve bloqueio das contas dos proprietários, solicitada pelo Ministério Público”, disse Jethro.

Na semana passada, a juíza Margarida Amélia Bento Barros, da 10ª Vara Cível da Capital, acatou o bloqueio de bens da W9! como garantia de pagamento de futuras ações por danos morais e outros processos. No último dia 26, o Tribunal Regional do Trabalho havia concedido liminar semelhante.

O proprietário da empresa, Lídio Cosme Silva Júnior, continua foragido. “Ele não se apresentou ainda por questão moral. Ele está envergonhado com a situação. Espera o início do processo para demonstrar a boa-fé”, afirmou.

Lídio teve mandado de prisão expedido uma semana após enviar e-mail aos clientes comunicando o fechamento da empresa por dificuldades financeiras. Informou ainda, na mensagem, que não honraria os contratos firmados.

O advogado ainda disse que os funcionários da empresa terão as dívidas pagas. No entanto, a prioridade será para a indenização dos estudantes.

Casa de eventos W9! fecha e surpreende formandos

Um e-mail recebido por volta das 9h de ontem levou dezenas de universitários para a frente da empresa W9!, especializada em festas de formatura, em Santo Amaro, no Recife. No texto direcionado aos clientes, os proprietários diziam que estavam encerrando as atividades.

Com o fechamento da W9!, o sonho da comemoração da conclusão do curso superior começou a virar um pesadelo. Sem conseguir contato com os responsáveis pela empresa por telefone, os formandos levaram outro susto quando chegaram ao escritório e encontram as portas fechadas.

Universitários foram à delegacia prestar queixa após não conseguirem manter contato com os donos da empresa (ALLAN TORRES ESP DP/D.A PRESS)

A estudante Marcela Santos, 24, está concluindo o curso de medicina pela UPE e estava com as despesas da festa pagas. “O valor do investimento na minha formatura foi R$ 8,5 mil. Faz dois meses que terminamos de pagar.  Minha turma gastou mais de R$ 600 mil. Nossos eventos estão marcados do dia 28 de novembro até 13 de dezembro. Estamos procurando a polícia para prestar uma queixa contra a empresa”, ressaltou a universitária.  Ninguém ainda sabe informar o número de vítimas.

Depois de passarem a manhã em frente à sede da empresa, na Rua 13 de Maio, os formandos juntaram todos os contratos assinados com a W9!, os boletos de pagamentos, e foram até a Delegacia de Estelionato e também à Delegacia do Consumidor para registrar queixa. Como a quantidade de vítimas foi grande, muitos marcaram seus depoimentos para outras datas. O caso está sendo investigado pelo delegado Roberto Wanderley, da Delegacia do Consumidor, que dará uma entrevista coletiva na manhã desta terça-feira.

Além dos formandos, outro grupo de pessoas ficou no prejuízo com o fechamento da empresa. Ontem pela manhã, quando os funcionários chegaram para trabalhar, foram impedidos de entrar na W9!. “Trabalho aqui há quatro anos e hoje de madrugada chegou um e-mail dizendo que a empresa tinha falido. Além disso, todo mundo estava com os salários atrasados. Ninguém sabe dizer o que aconteceu”, contou a funcionária que preferiu não ter o nome publicado.

“Estudo direito e o baile da minha turma estava marcado para sexta. Já tivemos a aula da saudade e hoje (ontem) fiz o pagamento da última parcela, de R$ 1,6 mil. Meu prejuízo foi de R$ 7 mil. Agora vamos procurar a polícia e entrar com um processo para ter o nosso dinheiro de volta.”
Piragibe Leão, 31 anos

“Cada aluno da minha turma fez um contrato de R$ 4.050. Nossa festa vai ser em janeiro e eu já havia pago o valor todo. Nós estudamos fisioterapia na Unicap, e 26 alunos fecharam contrato para o baile. Agora, vamos acertar direto com os fornecedores para fazer nossa festa.”
Laiane Ohara, 22 anos

“Curso serviço social na UFPE e nossa turma fechou contrato com a W9! O nosso contrato foi no valor de R$ 3,3 mil por pessoa. Até agora eu já havia pago R$ 770, era uma parcela de R$ 110 por mês. Eu estava estagiando e trabalhando para ajudar meus pais a pagarem essa festa.”
Ana Aline Santos, 20 anos