A ferida ainda estava ardendo. Agora, não mais. Foram cobranças diretas por parte do governador do estado, do secretário de Defesa Social, das entidades de luta na questão da violência contra a mulher, da imprensa, das famílias das vítimas e da sociedade em geral. Dois dos homens mais procurados pela polícia pernambucana e considerados foragidos da Justiça, ambos por terem assassinado as ex-esposas, foram presos em menos de 15 dias. As histórias protagonizadas pelo ex-comerciante José Ramos Lopes Neto e pelo ex-comissário Eduardo Moura Mendes ganharam as páginas dos jornais e os programas de televisão pela crueldade e maneira fria como aconteceram.
Segundo a polícia e a Justiça, ambos mataram as ex-esposas porque as mesmas não queriam mais manter os relacionamentos. Os dois casos aconteceram em épocas bem distintas, mas acabavam andando juntos devido ao mesmo quesito. A impunidade. Impunidade essa que acabou com as prisões dos dois acusados.
José Ramos está preso no Cotel. Foto: Júlio Jacobina/DP/D.A/Press
José Ramos Lopes, que matou Maristela Just, atirou nos dois filhos pequenos e no cunhado, foi preso na última segunda-feira. Já Eduardo Moura, que baleou a professora Izaelma Cavalcante, (que morreu no hospital) foi preso no dia 17 de outubro.
As duas prisões foram realizadas pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil, comandado pelo delegado Cláudio Castro. Em conversa com o editor do blog, o delegado Cláudio Castro conta como aconteceram as duas prisões. Confira a entrevista:
“Toda nossa equipe estava muito empenhada em resolver os dois casos”
Já que o caso é mais recente, o senhor pode dizer como aconteceu a prisão do José Ramos Lopes?
Estávamos com informações de que ele estaria na casa da atual esposa, mas precisávamos ter a certeza. Quando tivemos essa confirmação, então fomos até o apartamento. Fui com uma equipe, nos identificamos para o porteiro do prédio e subimos no edifício. Eu já havia ido lá outras vezes, inclusive quando o mandado de prisão foi decretado chegamos a procurar o José Ramos por lá. Bem, mas no dia da prisão, nada poderia dar errado. Alguns policiais já estavam em pontos estratégicos do edifício, caso ele tentasse reagir ou fugir, o que não aconteceu.
O que aconteceu quando o senhor o encontrou dentro do apartamento da atual mulher dele?
Eu mesmo fui até o apartamento, bati na porta me identifiquei e pedi para a mulher abrir a porta. Quando eu perguntei onde o José estava ela disse: tenha calma. Nessa hora, fui direto para o quarto e o encontrei na cama. Ele tomou um grande susto, mas não reagiu. Descobrimos que durante todo esse tempo ele não saía de dentro do apartamento para não ser visto pelos vizinhos. Daí o trouxemos para o GOE. A esposa dele ainda chegou a dizer: eu avisei a ele que não viesse para cá que era perigoso. Depois que deixou o GOE, ele foi levado para o Centro de Triagem. Aqui na delegacia ele disse que matou porque havia sido traído. Familiares da vítima afirmam que não houve traição por parte de Maristela.
E no caso da professora Izaelma? Como foi a prisão do suspeito?
Nessa investigação, desde que o menino (filho de Izaelma e Eduardo) foi resgatado da casa da avó paterna que eu estava mantendo contato com a família do Eduardo para que ele se entregasse à polícia, mas não houve acordo. Então, seguimos com as investigações e começamos a monitorar os lugares onde ele poderia estar. Mapeamos pontos em Alagoas e na cidade de Bezerros, no Agreste. No dia 16 de outubro, Eduardo esteve na casa da mãe de Izaelma para tentar ver o filho, no entanto, a avó materna não permitiu que ele entrasse na casa e ele disse que voltaria no dia seguinte. Como realmente fez e acabou sendo preso.
O senhor pode detalhar o momento da prisão dele?
Ficamos sabendo através do serviço de inteligência que Eduardo tentaria ver o filho de qualquer jeito no dia 17. Começamos, então, desde cedo, a monitorar a rotina do menino. Desde a hora que o garoto foi para a escola, estávamos observando tudo. Fomos até a porta da escola acompanhando a condução para que Eduardo não tentasse pegá-lo. Fizemos a mesma coisa na volta, que só aconteceu no início da noite e ele não havia aparecido ainda. Depois disso, fiquei dentro da casa da mãe de Izaelma e por volta das 20h Eduardo chegou para visitar o filho. Ele veio de moto e estava desarmado. Não chegou a entrar na sala, ficou no terraço. Foi quando eu dei voz de prisão e nós o trouxemos para o GOE.
Assim como a Delegacia de Capturas, cabe ao GOE também prender foragidos da Justiça. Como o senhor pode avaliar as prisões dos dois foragidos?
O que posso dizer com toda a certeza é que toda nossa equipe do GOE estava muito empenhada em resolver os dois casos. Ainda quando eu estava dando entrevista no dia da prisão de Eduardo Moura eu falei que não havíamos esquecido do caso Maristela Just. E graças a Deus, menos de 15 dias depois, conseguimos prender o José Ramos Lopes Neto e encaminhá-lo ao Centro de Triagem.