Comissão da Verdade vai investigar casos dos torturados políticos que estão vivos

A Comissão Estadual de Memória e Verdade Dom Helder Camara está elaborando uma lista com os nomes dos torturados do período da Ditadura Militar (1964-1985) que continuam vivos para poder investigar todos esses casos. A informação foi repassada neste sábado durante encontro dos membros da comissão pernambucana com o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles. A reunião aconteceu em um hotel no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife. Fonteles veio à capital do estado para uma troca de informações entre as duas comissões e voltou para Brasília com a relação dos 50 nomes dos mortos e desaparecidos políticos do regime militar cujos casos já estão sendo investigados pela comissão de Pernambuco.

Comissões se reuniram no Pina. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A.Press

De acordo com os membros da comissão local, além da relação das pessoas torturadas, será elaborado um estudo das temáticas dessas torturas. “Essa parceria com a Comissão da Verdade é fundamental para conseguirmos mais informações sobre os casos que já estão sendo apurados por nós. Queremos, com esse trabalho, criar uma consciência crítica para a população”, afirmou Manoel Moraes, membro da comissão pernambucana. Na última sexta-feira, os integrantes das duas comissões estiveram na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para acompanhar a oficialização da criação da Comissão da Verdade Estudantil proposta pela União Nacional dos Estudantes, que visa investigar as mortes de pessoas ligadas à UNE naquele período.

Primeira comissão estadual a ser instalada no Brasil, a pernambucana foi classificada como de bom desempenho pelo coordenador da nacional. “Gostaria que o exemplo de Pernambuco fosse implantado em todo o país, do Maranhão ao Rio Grande do Sul. Essa troca de informações é muito positiva para os dois lados”, ressaltou Cláudio Fonteles. Além de Pernambuco, o Rio Grande do Sul e São Paulo já têm suas comissões de Memória e Verdade em plena atividade. Os próximos estados a efetivarem as suas são Paraíba, Alagoas, Maranhão, Rio de Janeiro, Paraná e Espírito Santo.

Do Diario de Pernambuco

 

Pode ser votado nesta semana projeto de prevenção à tortura

Um projeto do Executivo que cria o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (PL 2442/11) deverá entrar na pauta do Plenário da Câmara até esta quinta-feira. A declaração foi feita pela primeira vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputada Érika Kokay (PT-DF), em seminário sobre o sistema carcerário brasileiro realizado nesta terça-feira.

Entre as medidas para prevenção dos casos de tortura previstas na proposta está a composição de um comitê gestor com 23 pessoas indicadas pela presidente da República para elaborar estudos sobre a situação dos presos e avaliar a atuação dos órgãos de segurança.

Além disso, 11 peritos escolhidos pelo comitê deverão visitar periodicamente as instituições de longa permanência do País para analisar se há casos de tortura, divulgar os resultados dessas visitas e propor sugestões de melhoria.

A medida vale para os hospitais psiquiátricos, os abrigos de idosos e de crianças, além dos presídios. Mas, segundo Érika Kokay, é nas prisões que os casos de tortura são mais graves. “A tortura é um dos fatores que mais prejudicam a reabilitação dos presos. A sociedade sabe que o sistema penitenciário não reintegra, entretanto ela tem resistências em fazer modificações que possibilitem essa reintegração, como o combate à tortura” alertou.

Nações Unidas
O projeto que cria o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura faz parte de uma série de compromissos assumidos pelo Brasil com a Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, quando assinou o Protocolo Facultativo da Convenção da ONU contra a Tortura (OPCAT). Um relatório do organismo chegou a afirmar que, no Brasil, a tortura é “generalizada e sistemática”.

No último dia 19, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, Érika Kokay e Domingos Dutra (PT-MA) reuniram-se com o presidente da Câmara, Marco Maia, para pedir prioridade para a proposta.

Da Agência Câmara

 

Ministério da Justiça terá cursos a distância de combate à tortura

A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça (MJ), oferecerá cursos de ensino a distância para profissionais de segurança pública. O objetivo é acabar com a tortura em delegacias, abordagens policiais, unidades prisionais e manicômios. O início do curso está marcado para o primeiro semestre de 2013. Será o primeiro voltado para a prevenção da tortura.

A preparação do curso foi tema da 26ª reunião do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura no Brasil, nessa sexta-feira. A coordenadora de Combate à Tortura da Secretaria de Direitos Humanos, Ana Paula Dinis de Mello Moreira, disse que alguns costumes precisam mudar. “Embora seja inaceitável, há práticas culturais aceitáveis de tortura na sociedade que estão erradas”, disse Moreira.

O comitê, criado em 26 de junho de 2006, prevê a participação de pelo menos dez representantes de órgãos do governo federal e da sociedade civil. Entre as instituições estão os ministérios das Relações Exteriores e da Ministério da Justiça, além da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. Participam também o Conselho Nacional dos Procuradores Gerais, o Colégio dos Presidentes de Tribunais de Justiça, o Centro pela Justiça e Direito Internacional e a Pastoral Carcerária.

Da Agência Brasil

Crimes de tortuna no Aníbal Bruno podem levar o Brasil ao banco dos réus da OEA

 

Brasília – Representantes da sociedade civil querem que o Brasil vá para o banco dos réus na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) devido a problemas no maior presídio do país, o Aníbal Bruno, em Pernambuco. Nesse sábado, a violação de direitos humanos nos presídios Aníbal Bruno e Urso Branco, em Rondônia, foi tema de reuniões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em Washington, nos Estados Unidos. As reuniões contaram com a presença de representantes dos governos dos dois estados, do governo federal e da sociedade civil.

O advogado da organização não governamental Justiça Global e representante da Clínica de Direitos Humanos da Universidade de Harvard Fernando Delgado explicou que o pedido de medida provisória para o caso do Presídio Aníbal Bruno é uma espécie de sanção mais grave. Isso porque o Brasil já havia se comprometido a cumprir medidas cautelares para resolver os problemas de violação de direitos humanos e para ampliar a segurança de funcionários do presídio e de visitantes. Para chegar até a corte, o pedido ainda precisa ser aprovado e encaminhado pela CIDH.

De acordo com Delgado, o Presídio Aníbal Bruno abriga quase três vezes mais detentos que sua capacidade. São cerca de cinco mil homens para 1.448 vagas. Os representantes da Justiça Global informaram na reunião que desde agosto de 2011 ocorreram pelo menos 14 homicídios no Presídio Aníbal Bruno. Delgado disse ainda que a última morte, no mês passado, foi de um preso provisório de 20 anos, acusado de furto. “Era um preso provisório há mais de um ano”, destacou. A organização não governamental também relatou que há casos de tortura e de morte por falta de atendimento médico.

“Nossa expectativa é que o Estado comece a levar mais a sério essa questão. Devido ao agravamento da violência no presídio e ao descuido, há todas as chances de ir para a corte”, disse Delgado, que também informou que no caso do Presídio Urso Branco a reunião foi feita para avaliar as medidas de melhoria na penitenciária e a adoção de medidas previstas no Pacto para Melhoria do Sistema Prisional do Estado de Rondônia de 2011.

Delgado lembra que o Urso Branco foi cenário do segundo maior massacre de presos do país, depois do Carandiru. Na passagem do dia 1° para 2 de janeiro de 2002, foram assassinadas 27 pessoas no presídio. Na época, a CIDH sugeriu medidas provisórias para garantir a vida e a integridade dos detentos. De acordo com a Justiça Global, a superlotação na penitenciária persiste – com capacidade para 460 homens, atualmente abriga cerca de 700. “No Presídio Urso Branco houve um homicídio em janeiro. Há falta de assessoria jurídica e casos de tortura”, disse Delgado.

Em entrevista à Agência Brasil, a secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Salete Valesan Camba, informou que no dia 13 haverá um encontro entre integrantes da Secretaria de Direitos Humanos, da Coordenação de Combate à Tortura, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e do governo de Rondônia para encaminhar as recomendações da OEA sobre o Presídio Urso Branco. Devem ser discutidos três pontos: o fortalecimento da Defensoria Pública, a criação do Comitê de Combate à Tortura e a implementação do Mecanismo de Combate à Tortura (grupo de peritos independentes para acompanhar e fiscalizar o sistema penitenciário estadual).

Sobre o Aníbal Bruno, ela disse que haverá uma audiência pública no Recife, no dia 28, com a participação do governo federal e estadual, além de defensores públicos. “O estado de Pernambuco está presente na OEA. Vamos trabalhar a fim de que sejam cumpridas as medidas que lhe foram oficializadas para que não seja preciso recorrer à corte [Interamericana de Direitos Humanos].”

Da Agência Brasil