O novo chefe da Polícia Civil de Pernambuco, delegado Joselito Kehrle do Amaral, vai assinar, nos próximos dias, uma portaria que autoriza as equipes das delegacias distritais do estado a investigarem também, a partir de data da publicação da mesma, crimes de homicídios ocorridos nas suas respectivas áreas de circunscrição. Até então, os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) ocorridos no Grande Recife eram investigados apenas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
A ideia de criar a portaria foi do então chefe da PCPE, delegado Antônio Barros, que inclusive chegou a apresentar a sugestão em reuniões de monitoramento do programa Pacto pela Vida. A decisão é parte das iniciativas que estão sendo adotadas pelo governo para tentar reduzir a criminalidade em Pernambuco, que tem alcançado índices assustadores. Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), em janeiro deste ano, 479 assassinatos foram registrados no estado. Os números de fevereiro ainda não foram divulgados pelo governo do estado. A previsão é de que o balanço da criminalidade seja revelado no próximo dia 15 deste mês.
De acordo com o novo sub-chefe da PCPE, delegado Charles Gultiergue, a medida será positiva para elucidação de crimes de homicídios no estado. “Depois da publicação da portaria, todas as delegacias irão trabalhar na investigação de assassinatos. Nos casos onde a Força-tarefa do DHPP estiver nos plantões e já colher informações sobre suspeitos do crime, as informações serão repassadas para as delegacias do distrito, que já darão início às investigações”, explicou Charles.
O secretário de Defesa Social, Angelo Gioia, disse em entrevista coletiva, na tarde desta sexta-feira, que a prioridade da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), a partir de agora, será a investigação e o combate aos grupos de extermínios. Com essa afirmação também, Gioia justificou a substituição do delegado Antônio Barros pelo também delegado Joselito Amaral no cargo da chefe da PCPE. Além dessa troca, houve mudança ainda na Polícia Militar. O coronel Carlos D´Albuquerque pediu para deixar o cargo alegando motivos pessoais e será substituído pelo coronel Vanildo Maranhão. Apesar da proximidade do carnaval, Gioia garantiu que as substituições não causarão prejuízos para a população.
“Antônio Barros fez um excelente trabalho à frente da Polícia Civil, mas dois anos é tempo suficiente para um cargo de comando. Estamos trazendo o delegado Joselito que tem vasta experiência em investigações de crimes de homicídios, inclusive já comandou o nosso Departamento de Homicídios e Protelção à Pessoa (DHPP)”, destacou o secretário. O elevado número de homicídios no estado tem preocupado o governo.
De acordo com dados da SDS, apenas no mês de janeiro, 479 pessoas foram assassinadas em Pernambuco. “Precisamos focar no combate aos crimes contra a vida. Aqui, como em outros estados, as pessoas matam por nada, por motivos banais. Além disso, existe a atuação de grupos de extermínios ou de milícias. Precisamos de uma investigação mais detalhada e de mais qualidade”, comentou Angelo Gioia.
Ainda de acordo com o secretário, a saída do comandante da PM e do chefe da PCPE não alterou o esquema de segurança para o carnaval deste ano. “Isso não alterou em nada o planejamento do carnaval. Inclusive, todo o esquema será divulgado na próxima terça-feira. Precisamos oferecer a sensação segurança para a população”, pontuou Gioia. Os novos chefes assumirão aos cargos na próxima segunda-feira como a missão de reduzir os índices de criminalidade, que seguem em alta desde 2014.
Angelo Gioia comentou ainda que as mudanças estavam programadas para acontecer neste momento. “Ultimamos a resolução dos problemas com a Polícia Militar e com o Corpo de Bombeiros, em relação à carreira e aos salários, e com Polícia Civil nós demos uma nova orientação em relação às investigações de homicídios. E apesar de o carnaval ser um grande evento, ele não é maior que as instituições. Tivemos o cuidado de fazer planejamento e chegar a esse momento correto para efetuar as trocas”, destacou o secretário.
Atualmente, o coronel Vanildo ocupa o cargo de diretor das Especializadas da PMPE. Já o delegado Joselito Amaral é o diretor da Área Integrada Metropolitana. O atual comandante do Estado-Maior da PMPE, coronel André Cavalcanti, assume o subcomando da corporação. Ele troca de posição com o coronel Adalberto Freitas, que passa a chefiar o Estado-Maior da Polícia Militar. Na Polícia Civil, o chefe-adjunto será o delegado Charles Gutiergues. Segunda Gioia, Carlos D´Albuquerque irá para a reserva e o delegado Antônio Barros vai tirar férias e depois retorna para outro cargo na PCPE.
Por meio de nota, o governador Paulo Câmara comentou as mudanças: “Quero agradecer o apoio e a colaboração do coronel D’Albuquerque e do Delegado Antônio Barros durante o período em que estiveram à frente das corporações. Coronel Vanildo e o delegado Joselito têm a missão de trabalhar incansavelmente para que o Pacto Pela Vida obtenha os resultados positivos, garantindo a integração entre as polícias para a melhoria da Segurança Pública do Estado. Estamos tomando todas as medidas necessárias, inclusive com a maior valorização da história das instituições policiais de Pernambuco”, afirmou.
Antônio Barros assumiu o comando da Polícia Civil em janeiro de 2015, deixando a chefia do Centro Integrado de Inteligência de Defesa Social para substituir o delegado Osvaldo Morais. Na ocasião, as mudanças também atingiram a Polícia Militar. No lugar do coronel Carlos Pereira, assumiu o também coronel Antônio Pereira Neto. Em novembro de 2015, o coronel Pereira Neto, que estava no posto de comandante da PM há 11 meses, foi exonerado do cargo para dar lugar ao Coronel Carlos D’Albuquerque, que estava na Casa Militar.
Pernambuco segue com altos índices de violência. Somente no mês de janeiro deste ano, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), foram registrados 479 homicídios no estado. Ainda de acordo com a SDS, o Recife foi a cidade com mais mortes, 70 no total, seguida por Jaboatão dos Guararapes (30 assassinatos) e Paulista (23 homicídios). Já no interior do estado, o município de Caruaru teve o maior número de ocorrências com 21 vítimas de CVLI.
A cidade de Vitória de Santo Antão registrou 15 mortes e Santa Cruz do Capibaribe 11. Outro dado alarmente foi divulgado. Em todo estado foram contabilizadas 2.743 ocorrências de violência tendo como vítima pessoas do sexo feminino e 148 estupros, ou seja, quase uma média de cinco mulheres estupradas por dia no estado.
Também em janeiro, ocorreram 10.691 Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP), que incluem os crimes de roubo, extorsão mediante sequestro e roubo com restrição da liberdade da vítima. Na Região Metropolitana, Recife registrou 3.796 ocorrências. Em Olinda foram 876 registros de CVP e outras 780 ocorrências em Jaboatão. No interior, o município de Caruaru teve 450 crimes contra o patrimônio seguido por 254 em Carpina e 251 em Santa Cruz do Capibaribe.
Com o crescimento da violência no estado e declínio dos resultados do Pacto Pela Vida, o governo Paulo Câmara pediu a ajuda de prefeitos das 14 cidades da Região Metropolitana do Recife para enfrentar a criminalidade. Na tarde de ontem, ele se reuniu, no Palácio do Campo das Princesas, com 13 prefeitos e secretários de segurança. Apenas o prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, não compareceu, mas enviou representante. Estado e municípios concordaram em criar parcerias e estratégias conjuntas para conter a violência. O próximo passo será ouvir os gestores do interior.
Durante a reunião, o estado apresentou as ações e os índices do programa de segurança e mostrou como outras políticas sociais de prevenção a crimes, no âmbito municipal, podem ajudar a intensificar o trabalho policial e oferecer mais segurança à população.
“Ouvimos os municípios e estamos dispostos a trabalhar muito juntos. O nosso objetivo é juntar esforços. Tenho a convicção de que a gente tem condições de avançar, potencializar os resultados e fazer parcerias consistentes para a melhoria da segurança pública”, declarou Paulo Câmara.
O governador destacou que os municípios podem contribuir por meio de ações preventivas, como na educação e em programas sociais, ou melhorando a iluminação pública. “São muitas formas, mas vai depender da peculiaridade de cada cidade”, afirmou. O gestor estadual prometeu respostas mais ágeis aos casos de violência registrados em Pernambuco. “Não vamos admitir que a bandidagem queira imperar em nosso estado. Vamos buscar dar respostas mais rápidas e prender quem tem que ser preso.”
No ano passado, Pernambuco registrou 4,4 mil assassinatos. O último mês com estatísticas fechadas foi dezembro de 2016, quando 472 pessoas foram mortas de forma violenta. “Temos o mapeamento de todas as áreas de segurança onde estão acontecendo mais crimes. A partir desse amplo diagnóstico, teremos condições de aprimorar a atuação do efetivo”, pontuou o governador.
O secretário de Planejamento e Gestão e coordenador do Pacto Pela Vida, Márcio Steffani, informou que o estado já está realizando, em parceria com prefeituras e o Corpo de Bombeiros, operações de fiscalização em bares, postos de gasolina e outros estabelecimentos. “Mais de 70 já foram interditados por descumprimento de normas municipais. Ações de fiscalização no trânsito, mais especificamente em relação às motocicletas, que são muito utilizadas em roubos e assaltos, também estão sendo intensificadas.”
O secretário de Defesa Social, Ângelo Gioia, ressaltou que as parcerias vão gerar impactos positivos na atuação dos poderes policiais. “Nós sabemos dos índices de violência e vamos trabalhar junto com os prefeitos e suas equipes para tentar diminui-los.
Carnaval
O governador ressaltou que a equipe de segurança tem se preparado para garantir a tranquilidade dos foliões. “O carnaval está sendo bem planejado. Na próxima semana, a Secretaria de Defesa Social vai anunciar todo o esquema. Mas estamos convictos que demos um passo importante com o projeto de lei que foi enviado à Assembleia Legislativa, que valoriza a carreira (dos policiais militares)”, e mostra nossa preocupação.”
O número de mulheres assassinadas em Pernambuco diminuiu 22,3% de 2006, ano de criação da Lei Maria da Penha, até o ano de 2013. No entanto, a redução beneficiou as cidadãs de forma desigual. A quantidade de mulheres negras assassinadas caiu menos (14,3%). Os registros fazem parte do Mapa da violência 2015, homicídios de mulheres no Brasil e foram apresentados recentemente pelo pesquisador Julio Jacobo em evento no Tribunal de Justiça de Pernambuco.
A redução das mortes de negras vai na contramão da tendência nacional, já que, nesse período, o número de assassinatos de negras no Brasil subiu 54,2% (contra 25% de redução da morte de brancas), mas a diferença nos índices conforme a cor da pele sinaliza desafios, na opinião de Jacobo.
“A população negra é vítima prioritária da violência homicida no país. Claramente, as políticas públicas beneficiam bem mais mulheres brancas no que diz respeito à segurança. É preciso repensar toda a política de combate à violência”, destacou Julio Jacobo. Com a vigência da Lei Maria da Penha, o número de vítimas caiu 2,1% entre as mulheres brancas, mas aumentou 35% entre as negras no país. Ainda de acordo com a pesquisa, a cada mulher branca que morre vítima de violência, cinco negras são assassinadas.
“Os índices ainda estão extremamente elevados, apesar das quedas registradas, principalmente depois da criação da Maria da Penha”, apontou Jacobo. Entre os municípios pernambucanos que aparecem como os mais violentos estão Lagoa de Itaenga, Catende e Sirinhaém.
Aproximadamente 27% dos homicídios acontecem dentro de casa, sendo que 96% dos casos revelam também violência física. Para a vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Almeida, o tema deve ser debatido desde a educação básica. “Por que nove anos depois da lei foi criada uma outra que criminaliza o feminicídio, sancionada no ano passado? Os números só crescem e ainda assim foi vetada a discussão de gênero nas escolas. É preciso encarar a raiz desta mácula”, questiona Jacobo.
Para a educadora feminista e cientista social da ONG SOS Corpo, Simone Ferreira, o alto número de mulheres negras assassinadas é decorrência da falta de políticas públicas eficazes. “As mulheres negras são vítimas mais frequentes porque ainda há uma discriminação racial muito forte”, ressaltou Simone.
O enfrentamento à violência contra a mulher, por parte do estado de Pernambuco, também teve avanços. A rede especializada de atendimento conta com 10 delegacias especializadas, 10 varas judiciais de violência doméstica e familiar, 36 centros de referência de atendimento à mulher, 179 organismos municipais de políticas para mulheres, 52 conselhos municipais dos direitos das mulheres, 24 núcleos de estudos de gênero e quatro serviços de abrigamento, além do Núcleo de Apoio à Mulher do MPPE e Defensoria Pública da Defesa da Mulher Vítima de Violência.
Em parceria com outros órgãos, a Secretaria da Mulher criou a Câmara Técnica de Enfrentamento da Violência contra a Mulher do Pacto pela Vida, que se reúne para acompanhar os casos, traçar estratégias e criar políticas para enfrentar a violência contra as mulheres.
No Brasil, mais pessoas foram mortas em 2012 do que em 40 conflitos armados no mundo. Os dados são do Mapa da Violência 2015, que apontou o País como um dos que mais sofre com casos de homicídios. De uma lista de 95 países, o Brasil ocupa a sétima posição. O levantamento foi apresentado durante audiência pública da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados.
O estudo é do sociólogo Julio Jacobo que mostra ainda que, em um universo de 85 países, o Brasil ocupa a terceira posição em relação à taxa de homicídios de jovens entre 15 e 19 anos. São 54,9 mortes a cada 100 mil.
Para Jacobo o alto índice de mortalidade entre os jovens é um dos dados mais preocupantes. “Há uma vitima prioritária neste processo, que são os jovens na faixa de 15 a 29 anos de idade, que 60% dos homicídios acontecem neste faixa e é uma faixa que só tem 25% da população.”
Segundo o sociólogo, nesta faixa 93% das vítimas são homens e com baixa escolaridade. Além disso, a arma de fogo foi usada em 81,9% dos homicídios de adolescentes de 16 anos.
Causas
Na avaliação do presidente do Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública, Jeferson Miller, o problema brasileiro é multicausal. Ele afirma que fatores como evasão escolar, drogas, ocupação desordenada do espaço urbano e acesso a armas de fogos estão entre as principais causas da violência. Ele defende que sejam atacadas as causas primárias da violência e da criminalidade.
“Não adianta atuar de modo isolado sobre um aspecto ou outro, ou uma instituição atuar de modo isolado. O que nós entendemos é que o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios tem que ser efetivado pela República Brasileira, porque é algo muito grave o andamento crescente disso”, alertou.
O deputado Wilson Filho (PTB-PB), que propôs o debate, considera a deficiência na segurança pública um dos piores problemas enfrentado pelos brasileiros. Para ele, é preciso estabelecer medidas que possam contribuir para um País mais pacificado.
O deputado destacou dois pontos que acredita que têm que ser tratados inicialmente. “É a questão da valorização dos profissionais de segurança e a questão do combate às drogas. Não apenas ao tráfico, mas com a prevenção, a ressocialização, com casas de recuperação”, enumerou. Os dados utilizados no Mapa da Violência estão no Sistema de Informações de Mortalidade da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.
Depois de registrar um total de 3.891 assassinatos no ano de 2015, o estado de Pernambuco teve o pior número de mortes desde o ano de 2011. O total de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) só havia sido tão alto em 2010, quando foram assassinadas 4.081 pessoas no estado. Apesar de ter sido o único estado no Nordeste a reduzir o número de mortes entre os anos de 2004 e 2014, segundo o Atlas da Violência 2016, Pernambuco ainda tem altos índices de assassinatos.
A Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou os números dos homicídios registrados nos três primeiros meses deste ano. De 1º de janeiro até 31 de março, um total de 1.056 pessoas foram assassinadas no estado. Apenas no mês de março 395 CVLIs foram notificados, o que representa uma média de 13 pessoas mortas por dia em Pernambuco. No mês de fevereiro, 307 crimes foram registrados. Já em janeiro foram assassinadas 354 pessoas.
De acordo com o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, 42,9% dos CVLIs registrados em Pernambuco acontecem na Região Metropolitana do Recife (RMR). Já no Agreste e na Zona da Mata estão concentradas 40,8% das mortes. O Sertão é a região com o menor índice, onde acontecem 14,4% dos homicídios do estado.
Os dois últimos anos não foram nada positivos para a segurança pública do estado. Depois de registrar 3.102 mortes em 2013 e 3.434 em 2014, a Secretaria de Defesa Social fechou o ano passado com o total de 3.891 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), como são chamados pelo governo os assassinatos registrados em Pernambuco.
De acordo com o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, houve um aumento de 13% em relação ao número de 2014. “O resultado de 2015 foi prejudicado pela recusa do cumprimento das metas da Pacto pela Vida em razão da deflagração de movimentos sindicais de policiais civis”, apontou Carvalho.
Ainda segundo o titular da SDS, a partir de agora, além das metas que já eram estabelecidas para as Áreas Integradas de Segurança (AIS), formadas pelas polícias Militar e Civil, serão formuladas metas para as companhias e delegacias distritais. “Temos que sair de casa já sabendo o que vamos fazer. Assim vamos conseguir o nosso objetivo, que é garantir segurança à população do estado”, destacou o secretário.
Na primeira reunião do Pacto pela Vida deste ano, realizada nessa quarta-feira, a SDS decidiu que quatro AIS terão um olhar diferenciado por parte dos gestores. A atenção das autoridades estarão voltadas para os municípios de Caruaru, no Agreste, Jaboatão dos Guararapes, Moreno e Paulista, na Região Metropolitana do Recife, e Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte.
Há três anos, o município de Ingazeira no Sertão do Pajeú, a 390 km do Recife, não sabe o que é um homicídio. É a recordista de Pernambuco, sem registro de assassinato desde março de 2012. A 80 km dali, outra cidade salta aos olhos: Calumbi, desde janeiro de 2013 sem qualquer assalto. As cidades fogem à escalada da violência no estado, desde 2014.
Menor cidade pernambucana, Ingazeira tem pouco mais de 4,5 mil habitantes. Possui um distrito quase do tamanho do Centro, onde, pela manhã, é fácil encontrar moradores sob a sombra das árvores ou conversando nas calçadas. Já são 42 meses desde a última vez em que a população teve de lidar com um assassinato em seu perímetro. “Aqui é bom demais. Não era assim. Antigamente era violento, tinha briga, tanto que a cidade acabou não desenvolvendo”, conta o aposentado Cícero Ribeiro Sobrinho, 84.
Para a promoção de tanta tranquilidade, não faltam “pais”. O prefeito Luciano Torres Martins atribui a realidade ao trabalho preventivo com crianças entre 8 e 12 anos, por meio de aulas de policiais militares durante o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência. “Assim, eles acabam influenciando os pais, o que evita problemas. O que mais temos aqui é problema com perturbação do sossego e outras questões leves”, afirma, acrescentando, no entanto, que 12 guardas municipais foram contratados pelo poder municipal para proteger o patrimônio público (porque “a farda já intimida”) e anunciando a instalação de oito câmeras de monitoramento no centro comercial, ao custo de R$ 6 mil. Diz ainda que o município não dispõe de orçamento fixo para segurança pública por não haver demanda para isso.
Já o chefe de estatística do 23º Batalhão da Polícia Militar, capitão Marcos Antônio Barros das Neves, aponta o patrulhamento e a conscientização dos habitantes, por parte da polícia, sobre cidadania – bem como as investidas contra possíveis áreas de uso de drogas e recolhimento de armas – como o fator crucial para colocar sua área de segurança como uma das de melhor desempenho dentro do programa Pacto pela Vida, atingindo, inclusive, os padrões aceitáveis da Organização Mundial da Saúde no que diz respeito à taxa de homicídio inferior a 10 mortes por 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, em Jaboatão dos Guararapes, essa taxa foi de 48,5 em 2014.
Quem vive na cidade, pensa um pouco diferente. O fato de conhecer uns aos outros e de a cidade não ser visitada por muitos “forasteiros” são determinantes para a sensação de paz. “A polícia passa por passar. Mesmo com festa, não tem problema”, argumenta Maria Aparecida Alves. O fato de “existir por existir” não chega a ser incomum no município onde a delegacia praticamente não tem fachada identificada e fica junto a uma cadeia pública, que, segundo a PM, foi inaugurada há anos sem nunca ter recebido qualquer preso, além de bodes de criadores locais.
Diálogo e atenção inibem roubos
A 360km do Recife, Calumbi não é diferente de Ingazeira. Seus 5,8 mil habitantes aprenderam a não conviver com crimes – há 34 meses não há registros de assaltos no município. Como não há ocorrências de roubos a banco ou sequestros, por exemplo, seria o mais próximo de uma “capital da paz do ano”, não fosse a decapitação de um agricultor por seu filho, em setembro deste ano.
“É o tipo de coisa que a polícia não consegue evitar. Questão de droga somada à crime de proximidade, fora da área urbana”, defende o delegado Williams Cavalcanti Lacerda. Ele acredita que como toda transgressão registrada no município, nos dois anos de sua atuação, é remetida à Justiça e há ouvidas oficiais, há uma espécie de “presença” da polícia no imaginário da população local, o que inibiria crimes mais graves. “Aqui só tem Maria da Penha e agressão por conta de álcool”, minimiza.
O prefeito Erivaldo José atribui a tranquilidade aos investimentos feitos em educação e ao fato de 70% da população residir na zona rural, dificultando intrigas. “Problema maior é quando vem gente de fora, em especial de Serra Talhada. Um grande aliado é o 190 (emergência policial telefônica)”, garante, afirmando não haver recursos destinados à segurança pública no município além de palestras em escolas por parte da Polícia Militar.
Para o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, diferentemente do que ocorre na Região Metropolitana do Recife, é a cultura do sertanejo que contribui para a queda da violência no Pajeú. “Todo mundo se conhece, tem uma relação e eles têm uma cultura mais apurada sobre o valor do trabalho e dos princípios morais”, diz.
Desde 2014, assim como Ingazeira, não possuem registros de homicídio as cidades de Granito, Itacuruba e Vertente do Lério. A exemplo de Calumbi, estão sem assaltos Quixaba e Solidão.
O número de homicídios em Caruaru, no Agreste, cresceu 400% em agosto deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Até o último dia 30, foram assassinadas 25 pessoas na cidade, segundo a Secretaria de Defesa Social. No mesmo período de 2014, seis homicídios foram registrados.
O crescimento da violência tem preocupado o estado, que vai enviar 100 novos policiais a Caruaru e inaugurou uma delegacia na cidade ontem. O governador Paulo Câmara (PSB) também realizou a reunião do Pacto pela Vida na cidade de 315 mil habitantes. O encontro acontece toda quinta-feira para avaliar a política de segurança. Por ser uma cidade polo no Agreste, concentrando a maioria dos investimentos e oportunidades da região, e ter demonstrado crescimento expressivo no número de assasinatos, Caruaru foi escolhida. Câmara anunciou, ao todo, a chegada de 260 novos policiais militares ao Agreste. Os PMs devem começar a trabalhar em outubro.
Das 315 pessoas assassinadas em agosto deste ano no estado, 92 foram mortas no Agreste. A maioria das vítimas de homicídio é do sexo masculino, com idades entre 17 e 45 anos. Grande parte das mortes (75) foram por arma de fogo. Depois da reunião, Câmara inaugurou a delegacia do bairro do Salgado, que passou por reforma de R$ 386 mil. A unidade terá condições de dobrar a capacidade de atendimento de 600 pessoas para 1,2 mil por mês.
O governador comentou que o Pacto pela Vida conseguiu ter êxito por sete anos consecutivos, mas em 2014 e 2015 houve aumento da violência em 10%. “O Agreste tem nos preocupado mais porque os números são muito altos, perto de 40%, Caruaru principalmente. Fizemos um planejamento para ajustar uma série de questões. A violência está muito associada ao tráfico”, declarou.