Para virar mais uma página dos índices de violência e ampliar as formas de combate à criminalidade, o Recife utiliza os livros como principal arma. O recrutamento de crianças, adolescentes e até adultos de comunidades carentes para conhecer o mundo da leitura é uma das saídas para que eles não tenham contato com o crime e as drogas. Com esse propósito, a Secretaria de Segurança Urbana do Recife criou a Rede de Bibliotecas pela Paz, que tem levado muitos jovens para junto dos livros. A ideia pode ajudar a mudar o quadro do Brasil, que tem atualmente 2,8 milhões de crianças e adolescentes, com idades entre 4 e 17 anos, fora da escola, como já está modificando a rotina do Alto Santa Terezinha, na Zona Norte.
A primeira biblioteca da rede aberta ao público é a que fica no Centro Comunitário da Paz (Compaz), inaugurado no dia 12 de março. A segunda vai funcionar na Biblioteca de Casa Amarela, que estava passando por reformas. A reabertura está prevista para esta segunda-feira. Até o final deste mês, a terceira biblioteca também estará funcionando. O endereço é a Rua Jacira, no bairro de Afogados. Segundo o secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife, Eduardo Machado, estudantes de escolas públicas municipais e estaduais foram consultados para saber que tipo de livros eles queriam ter à disposição nas bibliotecas. “Fizemos essa pesquisa e disponibilizamos aquilo que os estudantes queriam ler”, destaca Machado.
Com ambiente climatizado e uma vasta oferta de livros, a biblioteca do Compaz do Alto Santa Terezinha tem atraído cerca de 800 pessoas diariamente. Com uma equipe formada por bibliotecários, pedagogos e arte educadores, o espaço se tornou ponto de encontro e estudo de crianças e adolescentes de várias comunidades do entorno. Numa mesa onde estavam reunidos cinco adolescentes, quatro liam o livro Guia prático sobre drogas, que aborda sobre conhecimento, prevenção e o tratamento sobre drogas. Tem sido um dos mais consultados pelos jovens que frequentam a biblioteca.
O estudante Erick Blenshan, 15 anos, era um dos garotos da mesa. Questionado sobre o motivo da leitura, ele disse que tinha curiosidade sobre o tema. “Estou lendo para saber os efeitos que as drogas causam no corpo e os prejuízos à saúde de quem usa. Também quero ficar bem informado para evitar que eu entre no mundo das drogas, como alguns adolescentes que eu conheço”, ressalta o estudante. Ainda de acordo com o secretário-executivo Eduardo Machado, o objetivo da Rede de Bibliotecas pela Paz é trabalhar a prevenção junto às comunidades carentes. “Nas bibliotecas, estamos trabalhando a cultura de paz, realizando trabalhos em grupo e estimulando a leitura em crianças e jovens. Além de ganhar conhecimento, eles estão longe da criminalidade”, ressalta.
Aluno do 9º ano da Escola Estadual Rosa Magalhães de Melo, Adrian José da Silva, 14, comemora a abertura da biblioteca do Compaz. “Antes, eu estudava em casa, no chão mesmo. Agora, quando eu largo da escola, venho para cá com outros alunos e nós estudamos em grupo. Tenho que me preparar muito, pois quero entrar na faculdade de medicina”, conta o adolescente.
Um grupo já conhecido na biblioteca do Compaz é o de quatro estudantes que se encontram todos os dias para estudar. Eles já estão em preparação para enfrentar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O espaço funciona de terça a sexta-feira, no horário das 9h às 17h. Já aos sábados e domingos, o horário é das 9h às 13h. Para implantar o projeto Rede de Bibliotecas pela Paz no Recife, representantes da Secretaria de Segurança Urbana visitaram bibliotecas em Portugal, na Colômbia, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Fortaleza.