O zelador José Givanildo Agostinho, 35 anos, começou o ano com lágrimas nos olhos. E não foram de alegria. Na primeira tarde de 2013, ele estava descansando em casa, no Alto José do Pinho, Zona Norte do Recife, quando ouviu um disparo. Correu assustado para fora. “Senti como se o tiro tivesse sido em mim”. Não foi, mas lhe machucou mesmo assim. Uma bala perdida – supostamente, resultante de um tiroteio entre traficantes – atingiu o abdômen da sua filha de 6 anos. A menina foi socorrida às pressas para o Hospital Agamenon Magalhães e, de lá, transferida para o Hospital da Restauração (HR), onde foi submetida a uma cirurgia para retirada do projétil. Ela não corre risco de morte, segundo a assessoria de imprensa do HR.
Bastante abalado, o pai passou boa parte do dia na frente do HR, com amigos e parentes, enquanto a mãe, a empregada doméstica Jeane Vieira, acompanhava a criança dentro do hospital. Foi o próprio zelador que socorreu a menina às pressas, pouco após o almoço. “Eu estava em casa, descansando, e nem sabia que minha filha (a segunda mais nova de um total de seis, com idades entre 5 e 18 anos) tinha ido para a rua. Foi quando ouvi o disparo e saí correndo. Lá fora, vi a mãe do rapaz que atirou com a menina nos braços”, contou. Desesperado, José Givanildo levou a criança ao Hospital Agamenon Magalhães, no Parnamirim. A transferência para o HR foi feita em uma ambulância.
Segundo ele, a filha não perdeu a consciência em momento algum. “Ela gritou muito de dor. Mas confio na recuperação dela, em nome de Jesus”, disse. José Givanildo descreveu a filha como uma menina alegre e divertida. “Ela vive na rua, brincando com as outras meninas. É totalmente inocente. Passamos a noite da virada de ano em casa, em família, e não podíamos esperar que isso acontecesse”. Questionado se pensa em mudar de endereço após o incidente, o zelador não mostrou muitas esperanças. “Sou nascido e criado lá no Alto José do Pinho. Não tenho nem para onde ir”. O Boletim de Ocorrência (BO) do caso foi registrado pela delegada de plantão da força-tarefa do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Alcilene Marques. Se a hipótese de bala perdida for confirmada, a investigação será conduzida pela Delegacia de Casa Amarela. Se a polícia concluir que o tiro foi intencional, a responsabilidade será do DHPP.
Do Diario de Pernambuco