Mais de 4 mil armas brancas encontradas em presídios serão destruídas

Por Jailson da Paz, da Coluna Diário Urbano

Fotos: Seres/Divulgação
Fotos: Seres/Divulgação

Gato e rato

As recentes revistas nas unidades prisionais evidenciam o quanto elas são indispensáveis para se manter a tranquilidade nesses espaços. E o quanto são frágeis as barreiras que deveriam separar esse mundo do seu exterior. Fossem as barreiras eficientes teríamos outra estatística ao analisar as últimas batidas em seis das 20 unidades prisionais do estado. Desde 12 de novembro, polícia e agentes penitenciários recolheram 526 peças. Excluí da lista drogas e bebidas alcoólicas. Na conta, armas e itens da telefonia móvel. Presídios e penitenciárias, como a Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, recordam uma fábrica de facas e facões artesanais e ponto de venda e compra de celulares e acessórios. Esses correspondem no período analisado a 43,97% das peças, que parecem se autoreproduzir tanta a facilidade de entrada nas unidades prisionais. No Recife, o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros clarifica isso ao compararmos duas revistas realizadas em novembro. A primeira resultou na apreensão de 29 celulares e 40 carregadores, enquanto na segunda, 12 dias após, foram recolhidos 14 celulares e 24 carregadores. Uma verdadeira festa para o crime, o que exige, enquanto tivermos um sistema penitenciário incapaz de impedir a entrada desses equipamentos, a manutenção do jogo do gato e rato. O telefone entra no presídio, a polícia retira. A polícia retira, o telefone chega, sendo lançado sobre os muros ou pelas mãos de visitantes.

Aparelho feminino

O entra e sai de aparelhos celulares na Colônia Penal Feminina do Recife, no Engenho do Meio, segue ritmo semelhante das unidades prisionais masculinas. Uma revista apreendeu 13 celulares no dia 24 de novembro, localizando-se cinco dias depois mais sete aparelhos, além de carregadores.

Fábrica artesanal

A produção artesanal de facas e facões é intensa nas prisões, conforme os dados contabilizados pela coluna. Foram mais de 50 armas desses tipos apreendidas em seis presídios do Recife, Itamaracá e Palmares em pouco mais de um mês. O número ultrapassa uma centena ao incluirmos os chunços.

Armas em punho

Foram as armas artesanais as mais frequentemente vistas nas rebeliões ocorridas neste ano. Em janeiro, na Penitenciária Barreto Campelo, detentos tinham em punho facões e facas fabricados nas celas.

Consumo de droga

Embora excluídas da conta dos 526 itens apreendidos, as drogas estavam em quase todas as revistas realizadas no período analisado. Polícia e agentes penitenciários recolherem 240 balinhas de maconha em investidas surpresas em duas unidadades prisionais. Havia até cola de sapateiro.

Bebida em excesso

Surpreendente é o volume de bebida alcoólica encontrado. Mais de cem litros de cachaça artesanal e de whisky estavam nas celas, o que revela a facilidade com que entram e circulam alguns materiais nos presídios. Não se movimenta cem litros quando o sistema de controle é eficiente.

Após a denúncia, a Seres anunciou a destruição das armas brancas

Nesta segunda-feira, a Seres informou que iria destruir um total de quatro mil e cem armas brancas apreendidas nos presídios do estado ao longo deste ano. A ação que iria acontecer nesta terça-feira foi transferida para o dia 7 do mês de janeiro do próximo ano. Na ocasião será apresentado um balanço do que foi apreendido ao longo do ano nas diversas revistas realizadas nas unidades. Já as 21 armas de fogo encontradas também este ano foram encaminhadas às delegacias das áreas de circunscrição dos presídios.

O desabafo da família de uma vítima da impunidade

Há 11 anos, os familiares de Lara de Menezes Albert esperam por justiça. A garota foi atingida por um tiro quando estava dentro de casa, no bairro de Boa de Viagem.

Leia o e-mail enviado na íntegra à redação:

Hoje, dia 24 de junho, completou-se onze anos da tragédia da qual nossa família foi vítima. Lara de Menezes Albert, à época com 07 anos de idade, foi subitamente atingida na cabeça por um disparo de arma de fogo, enquanto assistia à televisão na sala do seu apartamento. Naquela fatídica noite, os fogos juninos, ao contrário de simbolizarem a alegria e felicidade típica da época, marcaram a dúvida acerca da sua sobrevivência, o que, por intervenção divina, acabou por acontecer.

Lara tinha sete anos quando foi baleada. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press
Lara tinha sete anos quando foi baleada. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press

A investigação policial atribuiu a responsabilidade pelo disparo a Tibério Gentil Figueiredo de Lima e que, por ironia, era um tenente da policia militar de Pernambuco, pago pelo Estado para promover a segurança da população. O que torna o caso ainda mais grave é constatar que o autor do tiro, que quase ceifou a vida de uma inocente, apesar de ter sido condenado em todas as instâncias no Tribunal de Justiça de Pernambuco, nunca cumpriu sequer um dia da pena, favorecido pelo instituto da prescrição. Do mesmo modo, o processo administrativo, instaurado na Corregedoria da Polícia Militar – PE, também prescreveu, razão pela qual o atual capitão continua exercendo sua profissão sem maiores obstáculos.

Marca de tiro ficou na parede da sala
Marca de tiro ficou na parede da sala

Inegável: ainda que o instituto da prescrição seja capaz de fazer a Justiça “esquecer”, pela passagem do tempo, determinados fatos, ele não é aplicável às memórias do coração. Por isso, nas noites de São João, para nossa família, as fogueiras queimando reacendem o sentimento de revolta, ao lembrar-nos que os estrondos ouvidos naquela noite, infelizmente, não eram de simples fogos de artifício.

Todavia, hoje a nossa intenção não se resume apenas a reprisar os momentos de desespero vividos pela nossa família. A nossa grande missão, neste momento, é continuar denunciando esse caso, que engrossa as estatísticas da impunidade, contribuindo para disseminar a violência. É comum ver nos jornais diários notícias divulgando casos de famílias destruídas pela ação irresponsável de quem acionou uma arma e disparou uma “bala perdida” no corpo de um inocente.

Por outro lado, há motivos para comemorar. Depois de um período de dificuldades, Lara se encontra em processo de recuperação, desenvolvendo gradualmente as atividades normais de uma jovem com sua idade.
Nós, família de Lara, agradecemos a todos os amigos, aos parentes e aos profissionais de diferentes áreas que nos ajudaram e continuam ajudando nessa árdua caminhada, que ainda não terminou.

Por fim, acreditamos na existência de instâncias superiores, não terrenas, para as quais, assim como o coração, a prescrição é inaplicável e a justiça, por consequência, inexorável. Diante delas, as instâncias componentes da justiça mundana não são senão meras tentativas vãs de restabelecer o equilíbrio das coisas, imperfeitas por natureza.

Que Deus ilumine a vida de todos vocês!

Lara e Família.

Armas em casas de shows. Problema frequente e muito sério

O caso de um homem que se apresentou como policial e sacou uma arma dentro de uma boate na madrugada desta quarta-feira no bairro de Boa Viagem traz à tona uma discussão séria. A entrada de pessoas armadas em casas de shows. Felizmente, nesse caso, não houve registro de feridos. Mas, segundo as testemunhas, o tal policial teria ficado com a arma na mão, por algum tempo, dentro da boate. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Boa Viagem e abre espaço para muitos questionamentos.

Festa com grande público pode ser um perigo Fotos: Teresa Maia/DP/D.A.Press
Festa com grande público pode ser um perigo Fotos: Teresa Maia/DP/D.A.Press

Na madrugada do último domingo, um homem foi baleado na área dos camarotes de um clube no centro de Jaboatão. Ele está internado em estado grave no Hospital Restauração. O show foi encerrado pela polícia. Casos como esses têm sido cada vez mais frequentes. Daí vem a pergunta: Como essas pessoas conseguem entrar armadas em casas de shows? O que elas pretendem para estarem armadas durante uma festa? É preciso rever essas situações e reforçar as abordagens nas entradas das festas. Outra coisa que não poderia ser permitida é a entrada de policiais armados em eventos, sem que estejam a trabalho.

Veja a nota divulgada pela assessoria da Polícia Civil sobre o caso da boate em Boa Viagem:

A Polícia Civil de Pernambuco esclarece que a Delegacia de Boa Viagem vai investigar uma ocorrência registrada nesta madrugada (13) sobre um suposto constrangimento sofrido por frequentadores da boate UK Pub no interior do estabelecimento. As vítimas relataram na ocorrência que estavam no fumódromo da casa de festa quando uma pessoa que se autodeclarou “policial”, conforme consta no BO nº 13E0097003909, registrado pelas partes, sacou uma arma de fogo após verificar que um dos presentes fumava um suposto cigarro de maconha. As partes disseram também que o suposto policial ordenou que três seguranças da referida boate revistassem todos os presentes no fumódromo a procura de drogas. As pessoas contaram ainda no boletim que esta pessoa teria ficado portando a arma de fogo a todo tempo, causando um certo medo e constrangimento a todos. O delegado Erivaldo Guerra, responsável pelos trabalhos, informa que neste primeiro momento não há confirmação se a conduta foi praticada por algum policial. Ele disse ainda que vai enviar uma equipe de investigadores agora pela manhã ao estabelecimento comercial para tentar recolher mais informações sobre o caso e tentar resgatar imagens do sistema interno de câmeras do local. As pessoas citadas no boletim de ocorrência também serão reinquiridas para prestarem depoimento.

Pernambuco é o sexto estado mais violento do Brasil, diz Mapa da Violência

Segundo o Mapa da Violência 2013: Mortes Matadas por Armas de Fogo divulgado essa semana, o Nordeste tem quatro estados entre os seis mais violentos do Brasil. A partir da análise dos dados de 2000 a 2010, Alagoas aparece em primeiro lugar no ranking das mortes por armas de fogo com 55,3 mortes a cada 100 mil habitantes. Em seguida vem Espírito Santo com 39,4, Pará (34,6), Bahia (34,4) e Paraíba (32,8).

O estado de Pernambuco, que antes ocupava o segundo lugar, aparece agora na sexta posição com 30,3 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. A publicação destaca o Maranhão, atualmente em 20º, mas cujo número de vítimas cresceu 344,6% na década. Na opinião de Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pela publicação, os dados mostram o que ele denomina de “desconcentração da violência.” “A violência migrou para outros estados do país acompanhando novos polos de desenvolvimento local, a exemplo de Suape, em Pernambuco, e Camaçari, na Bahia, que além de mão de obra também atraem violência,” disse.

O Rio de Janeiro aparece em oitavo lugar no ranking, com 26,4 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes e São Paulo caiu 18 posições, saindo da sexta posição para 24ª, uma queda no índice de mortes por arma de fogo de 67,5%. A publicação não traz informações sobre as mortes por armas de fogo ocorridas nos últimos três anos.
Entre os anos de 1980 e 2010, as mortes causadas por armas de fogo aumentaram 346%, segundo o mapa. Nesse período, as vítimas passaram de 8.710, no ano de 1980, para 38.892, em 2010. No mesmo intervalo de tempo, a população do país cresceu 60,3%. “O que presenciamos foi um crescimento íngreme dos níveis de violência por arma de fogo, muito maior do que situações de conflito armado como as guerras do Golfo e do Afeganistão,” disse à Agência Brasil o sociólogo Julio Jacobo.

O levantamento, feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, traça um amplo panorama da evolução da violência letal no período. A publicação analisou as mortes por armas de fogo decorrentes de agressão intencional de terceiros (homicídios), autoprovocadas intencionalmente (suicídios) ou de intencionalidade desconhecida cuja característica comum foi a morte causada por uma arma de fogo.

A publicação mostra que o “alto crescimento das mortes por armas de fogo foi puxado, quase exclusivamente, pelos homicídios, que cresceram 502,8%, enquanto os suicídios com armas de fogo cresceram 46,8% e as mortes por acidentes com armas caíram 8,8%.”

Com informações da Agência Brasil

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Mais de 67% das vítimas mortas por arma de fogo são jovens

Mais de 67% das vítimas mortas por armas de fogo são jovens

De cada três mortos por arma de fogo, dois estão na faixa dos 15 a 29 anos, é o que mostra o Mapa da Violência 2013: Mortes Matadas por Armas de Fogo. A publicação, divulgado com exclusividade pela Agência Brasil, diz que os jovens representam 67,1% dos mortos por arma de fogo.

As informações se referem ao período de 1980 a 2010 e revelam que, em 30 anos, um total de 799.226 pessoas morreram vítimas de armas de fogo. Desses, 450.255 mil eram jovens entre 15 e 29 anos de idade. A publicação, feita pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, analisou as mortes por armas de fogo decorrentes de agressão intencional de terceiros (homicídios), autoprovocadas intencionalmente (suicídios) ou de intencionalidade desconhecida, cuja característica comum foi a morte causada por arma de fogo.

Maior parte das vítimas tem entre 15 e 29 anos. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A.Press

De acordo com a publicação, a análise dos dados de morte de jovens no ano de 2010, mostra que as armas de fogo são a principal causa de morte no próprio segmento. Neste ano, foram registradas 75.553 mortes de jovens de 15 a 29 anos de idade, sendo que um terço (22.694) foi decorrente do uso de arma de fogo. “Bem longe da segunda causa: os acidentes de trânsito, que representam 20% da mortalidade juvenil”, diz a publicação.

“Temos uma epidemia de violência em todo o Brasil e sabemos o perfil de quem ela atinge mais: são jovens, negros e, geralmente, de baixa renda,” disse para a Agência Brasil o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pela publicação. Entre as causas da morte por arma de fogo entre os jovens, Waiselfisz  indica o abandono da escola e a baixa inserção no mercado de trabalho. “Hoje temos 9 milhões de jovens que não estudam, não trabalham e que estão vulneráveis a situações de violência”, disse.

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