Do Diario de Pernambuco
Em um mesmo fim de semana, três policiais foram vítimas da violência. Na noite da sexta-feira, o delegado da Polícia Civil Joel Venâncio foi assaltado no bairro de Porta Larga, em Jaboatão dos Guararapes. No sábado, a policial civil de Porto de Galinhas Tatiana Ribeiro de Melo reagiu a um assalto e acabou baleada e morta, em Abreu e Lima. Ontem, em Apipucos, no Recife, outra morte. Desta vez, um policial militar, do banco de trás da viatura, matou um colega de trabalho, o cabo Adriano Batista.
O PM Adriano Batista da Silva, 41 anos, tirava o seu quarto plantão com o soldado Flávio Oliveira, descrito por ex-companheiros de batalhão como “problemático”. O soldado passou mais de um ano em reabilitação por abuso de álcool e já havia passado por intervenção cirúrgica neurológica. Foi considerado apto a oferecer seus serviços à população pelo setor de psiquiatria da corporação. Ele puxou o gatilho por conta de uma suposta discussão iniciada minutos antes sobre cotas raciais.
“O que prevalece na instituição não é transferir, mas tratar o problema. A PM está pautada nos princípios de direitos humanos para lidar com a sociedade e também com o quadro interno”, afirmou o diretor-adjunto de articulação social e direitos humanos, major Cláudio dos Santos Silva, do grupo de trabalho criado em 2013, que promove palestras, inclusive, sobre questões étnico-raciais “a exemplo do atual curso de formação de soldados, com 1.117 policiais militares, que estudaram a disciplina de diversidade étnico-sociocultural”, como frisa a nota emitida pela corporação.
O Comando Geral também empenhou o Centro de Assistência Social, o departamento médico e representantes de todos os batalhões, a fim de compreender os motivos do que considera uma “solução fútil e covarde com que se deu o desfecho do caso”.
Para o presidente da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, Alberisson Carlos, o caso não é pontual. “Há uma pressão enorme por resultados na diminuição do Crimes Violentos Letais Intencionais, de modo a chegar a obrigar-se que um policial problemático, que não deveria estar nas ruas, seja escalado. Há vários outros com problemas de saúde. Desse (Flávio), todo mundo sabia”, lamenta. Segundo ele, não há acompanhamento psicológico sistemático, os PMs não passam por uma formação continuada e as chamadas “reciclagens” acabam inviabilizadas por conta das escalas.
Não foi o primeiro caso de assassinato de um policial por um colega. Há um mês, o escrivão Luciano José Gonçalves Bezerra, 36, foi morto por um agente da Polícia Civil, em Triunfo. Em março, o PM baiano Mauro Simões foi morto a tiros em Petrolina por um policial civil de Araripina. Ambos, por desentendimentos. Os dois policiais civis assaltados no fim de semana não estavam no exercício da profissão. Fora de serviço, engrossaram as estatísticas dos quase 200 assaltos diários que somaram 33,9 mil casos (entre os registrados) apenas no primeiro semestre de 2015.